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Você corre atrás de quê? 

Em um mundo voltado ao consumo, em que tudo vira produto à venda, o discurso  predominante aponta o que nos falta, a fim de despertar desejo

Quase ninguém escapa. À pergunta trivial “como você está?” resposta comum é “na correria de sempre”.

Corremos atrás da felicidade, do amor, do dinheiro, da saúde, da beleza, da juventude… A cultura contemporânea não cessa de apontar altos ideais. Ao mesmo tempo, nos coloca um paradoxo. Conseguiremos desfrutar essas conquistas, se chegarmos lá exaustos?

O problema, evidentemente, não é ter ideais, mas quais. E é justamente a correria atrás deles que, muitas vezes, nos impede de parar e pensar sobre o que de fato queremos. Em um mundo voltado ao consumo, em que tudo vira produto à venda, o discurso predominante sempre aponta o que nos falta, a fim de despertar desejo.

Será que estamos em busca do que realmente desejamos ou do que nos fizeram acreditar que desejamos?

Não há resposta fácil, nem mesmo a quem se dispõe a aprofundar honestamente a questão. Mas o único jeito de encontrar um ritmo mais adequado passa por calibrar esses ideais. Isso exige um olhar corajoso sobre si, como o que requer um tratamento analítico. Freud, o criador da psicanálise, descobriu que grande parte do nosso sofrimento psíquico vem da negação do próprio desejo. Se já não é fácil entrar em contato com ele e bancá-lo, mais difícil fica com tantos apelos externos a nos desviar o foco.

A correria é um sintoma do nosso tempo. Complicado escapar. Mas eu insisto na pergunta: você corre atrás de quê?


Fábio Cadorin | @fabiocadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.

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