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Lista de doenças ocupacionais no Brasil agora inclui transtornos mentais como ansiedade e depressão

Atualização foi divulgada nesta semana. A lista original era de 1999

Seja você empregado ou empregador, a semana fecha com uma notícia importante na relação entre trabalho e saúde mental no Brasil.

O Ministério da Saúde atualizou nessa quarta-feira, dia 29, a lista oficial de doenças ocupacionais. Passou de 182 para 347 a quantidade de códigos de diagnóstico. Agora, transtornos mentais que antes não faziam parte dessa relação, como ansiedade, depressão e burnout, passam a figurar entre as doenças que precisam ser levadas em conta quando se busca oferecer condições adequadas de trabalho aos colaboradores.

Eu sei que o tema pode dividir opiniões. Para quem está na posição de empregador, é uma responsabilidade a mais. Em um país onde empreender sempre foi um enorme desafio, pode soar mal acrescentar exigências e motivos para tornar ainda mais complexas as relações trabalhistas. Entretanto, estamos no caminho de uma mudança cultural absolutamente urgente e necessária. Não há como fugir, ainda mais quando se comprova a correlação entre transtornos mentais e má gestão de pessoas no ambiente de trabalho.

Óbvio que uma série de fatores externos à empresa interfere na saúde mental das pessoas. Nem sempre a causa está em más condições de trabalho. O que precisa ficar claro é que o trabalho não pode ser um agravante e muito menos a causa principal de transtornos.

A intenção do governo é positiva: a atualização da lista favorece a vigilância em saúde, auxiliando na adoção de políticas públicas que promovam o bem-estar dos trabalhadores. É uma ação necessária, ainda mais se considerarmos a acelerada mudança que vem ocorrendo no mundo do trabalho com a chegada constante de novas tecnologias. 

A relação entre trabalho e saúde mental, inclusive, tem sido uma preocupação global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgados no ano passado revelam que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente em todo o mundo por problemas de saúde mental, o que gera um prejuízo aproximado de um trilhão de dólares. Aqui no Brasil, a perda anual com presenteísmo e absenteísmo relacionados a problemas de saúde mental é de 78 bilhões de dólares (London School of Economics, 2020). Portanto, não estamos falando apenas da necessidade de minimizar o sofrimento das pessoas, mas de prejuízos econômicos.

Cuidar das pessoas precisa ser visto como investimento. Já trouxe em outra coluna e repito: segundo a OMS (2016), para cada dólar investido em prevenção e tratamento de depressão e ansiedade outros quatro dólares retornam como resultado das melhorias na saúde e capacidade de trabalho.

E existem mais motivos para esse investimento. Ganhou destaque nas últimas semanas outra informação impactante. A preocupação com saúde mental alcançou o topo do ranking global quando se fala de saúde de modo geral. Preocupa mais do que câncer. É o que mostrou uma pesquisa do Instituto Ipsos feita em 31 países. E essa preocupação com saúde mental aumentou mais de 60 por cento depois da pandemia.

Enfim, sobram motivos para que estejamos em alerta. Se quisermos construir um futuro com mais saúde mental, é imperativo agir agora. Empresas desempenham papel crucial ao assumirem sua responsabilidade. Da mesma forma, cada indivíduo, trabalhador ou não, deve estar atento às suas condições de saúde mental. Agir de forma proativa e preventiva é a única forma de reduzir sofrimento e, também, prejuízos. Sigamos juntos nessa luta.

 

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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