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Impacto de redes sociais na saúde mental vira questão de justiça nos Estados Unidos

Dos 50 estados americanos, 41 estão processando a dona do Facebook e do Instagram por tornar as mídias sociais perigosas para crianças e jovens

Redes sociais fazem mal a crianças e jovens? Para essa pergunta já feita há um bom tempo, as respostas nem sempre foram claras. Mas uma notícia que repercutiu em todo o mundo esta semana esquentou a discussão.

Dezenas de estados americanos entraram na justiça contra a Meta, dona das redes sociais Facebook e Instagram, exigindo que a empresa seja multada e obrigada a remover ferramentas consideradas perigosas, principalmente para crianças e jovens.

A alegação principal do processo é que a Meta teria contribuído para a atual crise na saúde mental da população jovem dos Estados Unidos. Ao inserir ferramentas como notificações, rolagem infinita, filtros e curtidas, a empresa estaria estimulando a permanência nas redes. Esses poderosos recursos tecnológicos estariam não apenas viciando as crianças e jovens como também impactando  negativamente a autoestima deles.

O texto de um dos processos afirma que, em nome do lucro, a empresa enganou os usuários ao inserir ferramentas que tornam as mídias sociais um ambiente perigoso para a saúde mental. Como resposta, a Meta disse que vem incluindo ferramentas de segurança para apoiar as famílias nesse controle. Ainda assim, pelas atuais condições da saúde mental desse grupo, a medida parece bem insuficiente.

No Brasil, ainda não há dados oficiais que deem a dimensão total do impacto das redes sociais sobre a saúde mental das nossas crianças e jovens. O que se tem é uma série de estudos apontando que a nova geração apresenta índices bastante elevados de transtornos mentais, principalmente ansiedade e depressão, e que podem estar relacionados ao uso de mídias sociais.

Não se trata de considerar as redes sociais um mal em si. Esse ambiente é positivo em vários aspectos. Muito conteúdo de valor é depositado ali a todo momento. O problema são os recursos deliberadamente calculados para prender o usuário e que acabam virando estopim para o surgimento do sofrimento mental.

O mundo idealizado que se pinta nas redes não corresponde à realidade da maioria dos usuários. Adultos até possuem mais condições de assimilar essa diferença, mas crianças, sobretudo, são muito mais vulneráveis. Além de pouca experiência de vida, elas sequer tiveram sua maturação neurológica concluída. Lidar com comparações, com a ânsia pelos likes, e até mesmo com os discursos e comentários maldosos é muito mais difícil para elas.

Não se sabe qual será o desfecho da briga judicial nos Estados Unidos, mas a discussão é um grande alerta. É um claro sinal de que não se pode deixar que uma empresa lucre com o mal-estar de milhões de crianças, adolescentes e jovens.

Que esse fato lá nos inspire a pensar e a ficar bem alertas também por aqui.

 

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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