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Exposição a telas pode fazer mal às crianças?

As respostas que a maioria dos pais deseja a ciência ainda não tem. No campo da saúde mental e desenvolvimento da infância e adolescência, há muitos estudos em andamento e pouco consenso.

Smartphones, tablets e TVs por todos os lados. Um universo virtual cada vez mais tecnológico, interessante e atraente. Se para os adultos é praticamente impossível evitar e até mesmo controlar o acesso às telas, para os nativos digitais é uma atitude quase impensável.

Mas será que o uso de telas prejudica o desenvolvimento de crianças e adolescentes? Pode provocar algum tipo de transtorno? Há um limite para cada idade?

As respostas que a maioria dos pais deseja a ciência ainda não tem. No campo da saúde mental e desenvolvimento da infância e adolescência, há muitos estudos em andamento e pouco consenso. Entretanto, já se sabe bastante sobre o neurodesenvolvimento e essa é a base para as principais orientações dos especialistas.

Nos primeiros meses e anos de vida, o cérebro passa por intensas transformações. Há uma espécie de explosão de conexões neurais, que são provocadas pela experiência e pelas interações com o ambiente. Se a criança fica muito tempo parada em frente a uma tela, ela perde oportunidades de desenvolvimento motor e sensorial. Enquanto visão e audição são superestimuladas, outros sentidos e habilidades motoras acabam sendo menos requisitadas.

A interação com outras pessoas também é fundamental no período inicial da vida. Somos seres sociais. Substituir o contato humano por um aparelho tecnológico, ainda que por tempo limitado, reduz a quantidade de experiências relacionais que são decisivas para o aprendizado de habilidades emocionais e sociais.

Enquanto as pesquisas sobre o tema ainda não fornecem um parecer mais seguro, a orientação é simples: quanto menos idade menos tela. Antes dos dois anos, a recomendação é evitar esse tipo de exposição.

Não se trata de condenar completamente as telas. Há uma infinidade de conteúdos educativos que podem ser muito bem-vindos, desde que adequados à idade, acessados com moderação, e não substituam outras vivências essenciais ao desenvolvimento da criança.

A ação impositiva de quem cuida é necessária. A criança não tem condições de reconhecer os malefícios do abuso das telas. Pais e responsáveis devem assumir esse papel de orientar e controlar o uso da tecnologia. Embora seja tentador em muitos momentos oferecer essa distração para a criança, telas não podem servir como babás eletrônicas. Inclusive porque o excesso de exposição pode levar à dependência em casos extremos, especialmente quando os jogos estão envolvidos.

No caso de adolescentes, cabem cuidados extras. Eles já conquistaram maior autonomia, muitas vezes têm seus próprios aparelhos e quartos onde conseguem ficar mais isolados. Motivos para que as determinações de pais e responsáveis sejam colocadas. Pela natureza dessa fase da vida, adolescentes tendem a ser mais combativos e resistentes. É preciso, portanto, que os cuidadores sejam firmes, claros e coerentes na argumentação.

Quando o uso de telas interfere na rotina de sono existem ainda mais razões para estabelecer limites. O sono noturno é fundamental para o desenvolvimento físico e neurológico durante a adolescência. Qualquer hábito que altere essa rotina ou reduza a quantidade de horas necessárias de sono pode provocar desequilíbrios, tanto cognitivos quanto emocionais. Em casos específicos, pode até mesmo levar a transtornos como depressão e ansiedade.

Telas não são necessariamente um mal, mas a vida fora delas pode ser bem interessante. É preciso ajudar as crianças e adolescentes a encontrar outras possibilidades de diversão e aprendizagem. O desafio é complexo e veio para ficar. Enquanto aguardamos mais resultados de pesquisas e, quem sabe, diretrizes mais claras, cabe aos pais assumirem a responsabilidade de estabelecer limites e orientar os filhos nesse mundo digital onde todos ainda somos aprendizes.

 

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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