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Excesso de telas prejudica aprendizado das crianças

Em vários países já são adotadas medidas para reduzir ou impedir o uso de smartphones nas escolas

A discussão sobre os impactos do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes voltou a ganhar destaque no Brasil. Já abordei o tema em coluna anterior, mas cabe retomá-lo, porque nesta semana a prefeitura do Rio de Janeiro (RJ) iniciou uma consulta pública para deliberar sobre a proibição do uso de celulares por alunos da rede municipal durante todo o horário escolar a partir do próximo ano. Atualmente, no município, os dispositivos são vedados apenas dentro das salas de aula.

Esse movimento reflete uma percepção que se solidificou com o mais recente relatório de monitoramento da ONU para a educação, confirmando que o uso indiscriminado dos aparelhos compromete não apenas o aprendizado, mas também a saúde das crianças. Por causa dos riscos, além do Brasil, outros 17 países tem estudado e adotado políticas para restringir o uso excessivo de telas e smartphones.

A escola é um espaço fundamental de convivência social. Muitos pesquisadores da educação tem defendido a redução do tempo dedicado às telas, inclusive como forma de evitar o isolamento e promover oportunidades de interação entre as crianças e adolescentes.

Embora as telas tenham se tornado parte do cotidiano, especialmente durante e depois da pandemia do coronavírus, em muitos casos o uso virou abusivo, não apenas em ambiente escolar como também em casa. Muitas crianças passam horas em frente a dispositivos, seja assistindo a desenhos, jogando ou navegando em redes sociais. 

Pesquisa do TIC Kids Online Brasil (2023) indica que tem aumentado drasticamente a quantidade de crianças entrando bem cedo em contato com o mundo virtual. Em 2015, 11% das crianças brasileiras com menos de seis anos já haviam se conectado à internet. Este ano, o índice saltou para 24%.

O cenário exige atenção, especialmente diante dos sinais claros de que o uso desenfreado das telas pode acarretar problemas como irritação, ansiedade, privação do sono, isolamento e redução da interação presencial. Cabe reforçar que o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, importantes para o crescimento saudável, ocorre em grande parte por meio das interações físicas e presenciais. 

Embora não se possa afirmar que o uso de dispositivos necessariamente vá causar problemas de saúde mental, os pais e responsáveis desempenham papel fundamental para minimizar os riscos. E devem começar sendo modelos de comportamento. Não adianta apenas instruir as crianças a se afastarem das telas se eles mesmos ficarem o tempo todo grudados no smartphone. Além disso, é preciso manter uma supervisão adequada em relação ao conteúdo a que as crianças têm acesso. 

É inegável que o mundo virtual trouxe uma série de benefícios. Mas para que as crianças e adolescentes possam desfrutar com segurança dessas vantagens, seja nas escolas ou em casa, é imperativo investir no equilíbrio, em atividades atrativas e prazerosas também fora das telas. O desafio é grande, mas não há como fugir dele se quisermos promover mais saúde, bem-estar e um desenvolvimento saudável a essa geração que já nasceu na era digital.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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