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Crise coletiva de ansiedade traz novo alerta

Saúde mental de adolescentes precisa de mais atenção neste momento pós-pandêmico

Recife, 08 de abril de 2022. Era pra ser apenas mais uma manhã de provas na escola estadual Ageu Magalhães. Mas o que se viu foram pelo menos 26 adolescentes passando mal ao mesmo tempo, com sintomas de falta de ar, tremores, sudorese, taquicardia, vivendo uma crise coletiva de ansiedade, como definiram especialistas. O caso ganhou repercussão esta semana, depois de virar reportagem exibida nacionalmente.

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Não é todo dia que isso acontece. Então, não há motivo para alarde. Por outro lado, é, sim, um novo sinal de alerta para uma questão que venho comentando há algum tempo por aqui. A saúde mental de crianças e adolescentes precisa de atenção, ainda mais neste momento pós-pandêmico.

Foram praticamente dois anos de isolamento. A volta às aulas com a retomada dos contatos presenciais, ainda que ansiada pela maioria dos estudantes, nem sempre é possível sem um certo desconforto. Somam-se a isso a insegurança característica da adolescência, a vida que ficou mais difícil para muitos, com perdas de parentes próximos, prejuízos econômicos das famílias, e a própria tensão com que todos conviveram nos últimos tempos. Diante de tantas ameaças, difícil não ficar psicologicamente mais fragilizado.

A ansiedade já afeta cerca 18,6 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), condição que foi agravada com a pandemia. Se para quem tem mais experiência é complicado lidar com esse tipo de angústia, quem dirá para os que estão começando a encarar os desafios da vida adulta.

No caso da crise coletiva que afetou os estudantes de Recife, não se sabe exatamente quais foram as causas. Ficou evidente uma certa vulnerabilidade do grupo, o que, de certo modo, é um indicador de como anda a mente dessa geração.

Quando se fala em sofrimento mental, não existem soluções rápidas nem genéricas. Mas, se podemos pensar em alguma “receita”, ela passa pela presença, pela escuta atenta, pela abertura ao diálogo, em casa e nas escolas. Gerações anteriores foram ensinadas a calar diante do sofrimento psíquico. Não façamos o mesmo com nossas crianças, adolescentes e jovens. Ao criar para eles ambientes em que possam expressar emoções, sentimentos, angústias, reforçamos os laços e fortalecemos a confiança. Não chega a ser um antídoto, pois esse não existe, mas talvez seja uma forma de ajudá-los a lidar um pouco melhor com a sensação de desamparo, aquela que, no fundo, no fundo, habita todo ser humano.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.

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