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Quem é você?

A vida não é um baile de máscaras, mas, às vezes, nos escondemos até de nós mesmos

Além de uma bela festa popular, o Carnaval é uma espécie de acordo social que nos permite viver dias de maior liberdade. Quem me acompanha por aqui sabe que já falei do tema em coluna anterior, mas o assunto é tão importante que tenho vontade de voltar a ele.

Viver em sociedade nos impõe respeitar uma série de regras, aquelas claramente estabelecidas e, também, as implícitas. Ou seja, não dá para fazer tudo o que se tem vontade o tempo inteiro. As diferentes circunstâncias da vida pedem que assumamos diferentes papéis. Alguns, desempenhamos com prazer, outros por necessidade. É assim com todo mundo.

A questão é que são tantos apelos e exigências de fora, é tão comum a tendência de atender expectativas alheias, que muitas vezes não agimos de acordo com nossos desejos mais profundos, nem mesmo quando isso seria possível. Quem nunca se comportou de modo distinto do que gostaria para não carregar culpa ou não sentir vergonha, por exemplo?

Bancar os próprios desejos é um desafio para os fortes. Não se trata de ter coragem para pôr em prática qualquer coisa de que se esteja a fim. A cultura coloca limites porque eles são fundamentais para tornar viável a vivência coletiva. É muito mais sobre conhecer quem somos, admitir nossos desejos mais íntimos e inconfessáveis, do que nos tornarmos pessoas inconsequentes.

A tradicional pergunta “quem é você?” nos lendários bailes de máscaras pode ser uma boa metáfora para esta reflexão. Só que, enquanto no baile o objetivo é desvendar o outro que está com a face coberta, aqui o desafio é questionar a si mesmo acerca do que realmente se quer.

Você está sendo fiel aos seus próprios desejos? Ao menos olha para eles? Ou simplesmente tem respondido às demandas da vida e dos outros? Cuidado! Agir a partir do que o outro espera não costuma ser sinal de bondade ou altruísmo. Na maioria das vezes, é uma posição covarde de quem prefere não assumir a responsabilidade pelos próprios desejos ou escolhas.

Meu convite neste Carnaval é que você experimente deixar a máscara cair, preferencialmente, em frente ao espelho.


Fábio Cadorin | @fabiocadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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