Notícias de Criciúma e Região

Elas ainda sofrem mais

Pesquisas apontam que, por causa da pandemia da Covid-19, transtornos mentais, abuso de álcool e até suicídios, em média, cresceram mais entre a população feminina

Já se imaginava e as pesquisas agora estão comprovando: a saúde mental das mulheres foi a mais prejudicada com a pandemia da Covid-19. Esse dado preocupante ficou muito evidente durante o vigésimo Simpósio de Psiquiatria na Interface Cérebro e Mente, promovido há poucos dias em Criciúma pelo Laboratório de Psiquiatria Translacional da Unesc. Eu estive lá e pude acompanhar o resultado de uma série de estudos que deve nos deixar atentos.

Depois de passar por três momentos traumáticos – desde a chegada do vírus ao Brasil até o agravamento da situação com as novas variantes – por um bom tempo ainda vamos enfrentar o que os especialistas têm chamado de “quarta onda”. Esta última não tem data para acabar e leva em conta os efeitos atuais e futuros da pandemia sobre a saúde mental da população.

O alerta dos pesquisadores não é para provocar alarmismo. Significa, antes, um estímulo para a tomada de consciência. Precisamos prestar atenção a quem está ao nosso redor e, considerando o resultado de pesquisas recentes, redobrar o cuidado com as mulheres.

Números recentes apontam aumento de 25,6% nos casos de ansiedade em todo o mundo. Em relação à depressão, o crescimento chega a 27,6%. Muitos pacientes que já eram acompanhados deixaram de responder bem ao tratamento e o Brasil segue essa tendência.

Também já se sabe que um terço dos infectados com o coronavírus apresenta sintomas neuroinflamatórios e neuropsiquiátricos. É um índice maior em comparação com outras infecções respiratórias. E o dado se repete: o prejuízo é maior para mulheres e, nesse caso, também para crianças.

Paralelamente ao aumento de transtornos mentais, aqui no Brasil se observa, ainda, que em média o abuso de álcool tem crescido mais entre a população feminina. O mesmo ocorre em relação aos casos de suicídio.

Todos os especialistas são unâmimes em afirmar que é preciso continuar estudando para entender melhor a correlação entre esses dados e a Covid. Enquanto os pesquisadores seguem trabalhando para encontrar respostas e, quem sabe, alguma forma de reduzir o impacto negativo que essa crise sanitária causou e ainda vai causar no mundo inteiro, todos nós podemos fazer algo para contribuir. O primeiro passo, talvez, seja olhar com mais cuidado para as mulheres ao nosso redor.


Fábio Cadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.


As opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do Portal Litoral Sul.
Você também pode gostar