Não teremos um salvador
Eleições servem para fortalecer a democracia, não para colocar o poder do povo nas mãos de um homem
Julguei necessário trazer mais um assunto relacionado a esse importante mês eleitoral, já que a escolha a ser feita em 30 de outubro influenciará a nossa vida e repercutirá, inclusive, sobre nossa saúde mental.
Em um primeiro momento, não faz diferença se você está do lado A ou B. Se acredita que a nação depende de um salvador, sinto informar, ele não existe. Achar que um homem é capaz de transformar um país tão complexo e desigual como o Brasil não é apenas uma visão ingênua, mas um atestado de descrença no poder e na responsabilidade do cidadão.
Não somos e nunca fomos uma nação de homens brancos lapidados à moda eurocentrista ou norte-americana. E, se essa for a aspiração, que pena, porque a diversidade é nossa maior riqueza. Somos mulheres, pretos, indígenas, LGBTQIA+, deficientes e toda sorte de humanos. Sim, humanos, com forças e vulnerabilidades, com potência e, também, suscetíveis a uma brochada de vez em quando. Suspeite de quem diz o contrário, afinal, estamos em 2022. A história, a filosofia e a ciência evoluíram a ponto de demonstrar que os conhecimentos sobre o homem e o mundo já nos permitem abrir mão das explicações e heróis mitológicos.
Costumamos defender por aí a importância de valores humanos, da igualdade de direitos e do amor ao próximo, inclusive nas igrejas. O voto consciente pode ser uma ação concreta nessa direção. Qualquer escolha contrária, que enfraqueça o poder do povo, é hipocrisia
Fábio Cadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.