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Origem da caipirinha: De remédio para gripe espanhola à drink nacional

O primeiro registro de algo similar ao que você toma no boteco é do século 19. Mas não era um drink – e sim um remédio.

Da união do gelo, açúcar, limão e cachaça surge a caipirinha, e essa mistura faz o maior sucesso no Brasil e no mundo. O drink ganhou variações com mais frutas e opções de outras bebidas como a russa vodka (caipiroska) e o japonês saquê (saquerinha). Mas o bom apreciador – aquele raiz – sempre vai preferir a versão clássica, mesmo – feito com a cachaça e o limão. A cachaça é brasileira, e a bebida já tem o reconhecimento de países como os Estados Unidos e o México. Feita da destilação da garapa da cana-de-açúcar, é justamente ela que dá o tom de brasilidade desse drink. Mas, você sabe como surgiu esse drink que é um dos preferidos dos brasileiros?

A história da Caipirinha, não tem uma única e irrefutável versão. São diversos os caminhos que podem ter levado à criação do drink, cada um deles relacionados com momentos interessantes da história brasileira. Assim como muitos cocktails, existem diversas versões para o surgimento do nosso clássico nacional. Algumas apontam para o interior de São Paulo, e outras, para o estado do Rio de Janeiro. Um fato, porém, não pode ser ignorado: o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) reconhece que o drink surgiu oficialmente em 1918, durante a pandemia da Gripe Espanhola. Cocktails são expressões da cultura etílica de um povo através dos tempos, e com a caipirinha não foi diferente. Conheça as principais teorias do surgimento desde clássico. 

O limão usado no preparo do remédio caseiro era o tahiti, cultivado em São Paulo (Foto de Lars H Knudsen no Pexels)

Origem no interior paulista

Para o historiador Luís da Câmara Cascudo, a caipirinha foi criada em meados do século 19 por fazendeiros na região de Piracicaba (SP). A cidade ainda hoje é popular na produção de cana-de-açúcar. O limão era cultivado nas lavouras do estado para consumo das famílias e também para abastecer as pequenas cidades no início do século XX. A fruta já era utilizada para o tratamento de resfriados, devido à concentração de vitamina C, por aqueles que faziam caminho Rio de Janeiro – São Paulo, por conta das mudanças de temperatura. Com a chegada da Gripe Espanhola, a busca por remédios caseiros fez com que o consumo dessa bebida crescesse.

Os ‘caipiras‘, ou moradores do interior, faziam uma mistura que levava limão, alho, mel e também a cachaça, que servia apenas como um meio líquido para diluir o medicamento. Após o término da pandemia, os ‘caipiras‘ continuaram bebendo o drink que, com o passar dos anos, parou de ser servido com alho, mantendo somente o mel. Eventualmente, ele foi trocado pelo açúcar, mais barato e acessível nos mercados. 

A elite do estado, em busca de uma bebida sofisticada para ser servida nos eventos sociais da época, criou o drink  com a cachaça que já era conhecida por muitos e produzida na região, assim era servido em festas de alto padrão, como alternativa ao uísque e ao vinho importados. Dessa origem de alta classe, a caipirinha logo passou para o gosto popular devido ao baixo preço de seus ingredientes, popularizando-se por todo o Estado e se tornando a bebida-símbolo de São Paulo. Décadas depois a bebida rompeu a barreira da elite e ganhou o pais. 

No início do século 20, na década de 1930, já era possível encontrá-la em outros Estados, especialmente no Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Engenho de Cana – Hercule Florence (1840)

Xarope vira caipirinha

A segunda versão da origem do drink mantém a história em São Paulo. Só que desta vez, não era um produto da elite, mas era uma variação de uma receita de xarope, popular no interior do estado no ano de 1918. A receita desse xarope levava limão, alho e mel, em diversos vezes, um pouco de cachaça. O remédio caseiro era para combater a gripe espanhola.

Num belo dia, alguém decidiu eliminar o alho e o mel e colocar umas colheres de açúcar para diminuir um pouco a acidez do limão. Nascia então a famosa Caipirinha. A versão é inclusive sustentada pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC). Para a entidade, a bebida se popularizou no resto do país através da Semana de Arte Moderna, de 1922, em São Paulo.

Caipirinha foi criada por latifundiários 

Esta versão também dá ao estado de São Paulo o título de criador do cocktail. Segundo o historiador Luiz Câmara Cascudo, a elite dos grandes donos de terras agrícolas do estado acabou criando o drink enquanto buscava uma bebida sofisticada que pudesse ser servida nos jantares e eventos sociais no século passado. A cachaça, já conhecida por muitos, era produzida com qualidade na região e foi a escolhida da vez.

A Caipirinha teria rompido a barreira da elite décadas depois, conforme os trabalhadores do campo viajavam para outras regiões em busca de oportunidades de trabalho nas lavouras. Assim, ganhou todo o país.

Já segundo outros historiadores, a caipirinha foi criada por fazendeiros latifundiários na região de Piracicaba como um drinque local para festas e eventos de alto padrão, sendo um reflexo da forte cultura canavieira na região. A caipirinha, em seus primeiros dias, era vista como um substituto local de boa qualidade ao uísque e ao vinho importados, sendo a bebida servida frequentemente em coquetéis da alta classe de fazendeiros, vendas de gado e eventos de grande notoriedade.

Nasceu em Santos (SP)

Alguns historiadores também acreditam pode surgido na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, devido ao fato de estar localizado ali o primeiro engenho de açúcar. Na região dos morros santistas ficava uma antiga destilaria de cachaça artesanal, que abastecia pequenos bares e comércios locais. 

Assim sustentam a hipótese do drink pode ter surgido durante o enfrentamento da Gripe Espanhola, permanecido nas sombras, e despontado como uma grande sensação apenas nos anos 50, em grandes restaurantes e hotéis da cidade.

A cidade de Paraty ficou muito conhecida por sua produção de cachaça (Foto:Vani Ribeiro/Wikipedia)

Surgiu através dos marinheiros com escorbuto em Paraty (RJ)

Outra versão, credita na origem do drink a marinheiros que passavam na cidade de Paraty, no Rio de Janeiro. A cachaça de boa qualidade produzida na região era levada para dentro dos barcos e navios a fim de ser consumida pela tripulação. Como passavam muitos dias no mar e nem sempre podiam levar consigo vitaminas e alimentos frescos, eles adicionavam o limão a doses de cachaça para evitar o escorbuto, uma fraqueza da gengiva por falta de vitamina C, doença muito comum entre os marinheiros. No entanto, tal tese não é defendida por acadêmicos ou historiadores. 

E no nome, caipirinha?

O nome caipirinha é uma alusão à expressão “caipira”, utilizada para se referir às pessoas nascidas no interior. Há quem afirme que o nome “caipirinha” foi uma homenagem à pintora Tarsila do Amaral, natural do interior de São Paulo. Segundo essa versão, a pintora servia a bebida a pessoas que frequentavam sua casa em Paris, antes da Semana de Arte Moderna de 1922. O filme “O Xangô de Baker Street”, de 2001, de Miguel Faria Jr. e baseado na obra de Jô Soares, trouxe sua versão também. Confira no vídeo abaixo:

Cena do filme “O Xangô de Baker Street”. Filme fez uma sátira sobre a invenção da caipirinha

Inventada por um detetive?
Que história é essa? Calma, dessa vez é pura ficção! No livro O Xangô de Baker Street, de Jô Soares, Sherlock Holmes e Watson vêm ao Brasil para investigar o sumiço do valioso violino Stradivarius, que foi um presente do imperador D. Pedro II à baronesa Maria Luíza.

Andando pelas ruas do país, quente e úmido, Sherlock sente-se mal e vai até uma espécie de boteco para pedir uma bebida que o ajudasse a recuperar-se da hipoglicemia. A cachaça, então, é oferecida a ele como um ‘bom remédio matutino’. Porém, Watson sente o aroma e o julga muito forte. Ele sugere, então, adicionar um pouco de suco de laranja ou limão, que ajudam no combate do escorbuto. Depois, sugere colocar um pouco de gelo e açúcar para aliviar a sensação de calor do álcool. Ele coloca tudo em um copo, amassa os limões, agita rapidamente e experimenta. Os funcionários do estabelecimento observam estarrecidos, sem entender o que os homens estavam preparando. E um deles pergunta qual foi o caipira que criou aquela bebida e o segundo responde ‘o caipirinha’, se referindo a Watson, mais baixo do que Sherlock. O elemento cômico está na adição de gelo à Caipirinha, uma vez que não existiam congeladores na época.

Você imaginava que era um remédio?! Podemos dizer que hoje também é utilizada como remédio, só que para o “desânimo” não é?! Desde então, essa bebida feita com um “Tesouro Nacional”, como é considerada a cachaça, foi sendo difundida pelo Brasil e ganhou o mundo todo.

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