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Inspiração e aprendizado marcam evento em alusão ao Dia da Consciência Negra

Em uma noite de quinta-feira de falas inspiradoras e empoderadas, a pós-doutora em Educação, Maria Aparecida Rita Moreira, marcou de forma significativa a celebração do Dia da Consciência Negra, lembrada nesta sexta- feira, 20, de forma antecipada no evento promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, Indígenas (NEAB) da Unesc.

A convidada iniciou e encerrou sua participação ao som de poemas, tratou sobre a literatura negra, seu protagonismo e ancestralidade.

Ao levantar a temática e apresentar uma série de autores negros, evidenciando suas obras e as características marcantes de cada um, Maria Aparecida destacou a importância da valorização, por parte de negros e brancos, desse tipo de conteúdo literário. “Ao aprendermos sobre o início da literatura negra, quando nossos ancestrais faziam encontros para apresentar seus textos, percebemos que eles escreviam pensando num público negro. Isso não significa que é uma literatura que os brancos não devem ler. Devem, sim. Porque nós, negros, passamos a vida toda lendo literatura escrita a partir de ponto de vista branco”, destacou.

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Os referenciais no que diz respeito às obras literárias, de acordo com a ministrante, foram exclusivamente de autores brancos ao longo de anos a fio, fato que deve mudar. “Agora temos uma escrita onde nós nos reconhecemos. É importante que todas as pessoas leiam esses textos e percebam que existe uma escrita negra, que ela nos representa”, completou.

Uma das espectadoras da palestra, a acadêmica Jerusa Regina Patrício, se disse maravilhada diante do rico conteúdo compartilhado no evento. Ela aproveitou a oportunidade para deixar o questionamento, como estudante de Pedagogia, sobre qual a melhor forma de abordar a temática em sala de aula.

Em resposta, Maria Aparecida destacou que a sociedade conta atualmente com diversos escritores e escritoras negros com livros maravilhosos, que podem servir como excelente material a ser trabalhado por professores. “Pensar a literatura na sala de aula a partir desses textos é um ponto importante. Mostrar sempre quem escreveu e ilustrou a história, como faço com meus netos, por exemplo, também faz toda a diferença. Quando você mostra a escritora e a ilustradora, negras, você já está ensinando a literatura negra, sem nem mesmo dizer ‘hoje vamos trabalhar esse tipo de literatura’. Assim, de forma natural, a criança negra se reconhece, a criança branca conhece e ambas irão perceber que as pessoas negras escrevem histórias”, ensinou.

O processo para a evolução da sociedade para um cenário diferente acerca do racismo, conforme a convidada, é lento, mas já dá alguns passos. De acordo com Maria, o cidadão que deseja ser antirracista e quer realmente mudar a comemoração do dia 20 de novembro, passando a ser uma data de comemoração de conquistas, precisa fazer ações e modificações.

“É algo que parte de cada um. É evidenciar o assunto durante todo o ano e não apenas em novembro para que que essas discussões se façam mais presentes, pois as pessoas não são racistas só nesse mês, a branquitude não está presente só agora e os privilégios não acontecem apenas em novembro”, pontuou, destacando que o debate em um mês a cada ano “não dará conta de romper um processo de séculos”.

Coordenadora do Neab, Normélia Ondina Lalau de Farias deixou seu profundo agradecimento e encantamento com o que pôde ouvir e aprender com a convidada da noite. A professora compartilhou ainda o sentimento de identificação com as palavras de Maria Aparecida no que diz respeito ao despertar para o assunto da literatura negra com o passar dos anos.

“Estou, sinceramente, paralisada diante de tudo que pude ouvir. Tu trouxeste, Maria Aparecida, relatos incríveis sobre a descoberta de alguns pontos, por exemplo, de Cruz e Souza feitas depois de certa idade e isso me tocou, já que eu também, a partir da busca e da leitura, depois de algum tempo pude perceber as diferenças daquilo que foi passado no Ensino Médio, quando a gente teve que estudar alguns escritores”, relatou Normélia, que lembrou dos exemplares de livros de sua mãe, professora de literatura, lidos e relidos em sua biblioteca e analisados com outro olhar após algum tempo.

Outro ponto de destaque, para Normélia, foi a reflexão sobre o quanto a literatura ensina quando se consegue realmente diferenciá-la em literatura africana, literatura que fala a respeito de negros, mas não é escrita por um negro e a literatura negra-brasileira.  “Ler Conceição Evaristo, por exemplo, é tocante. Lendo suas obras eu acabo lembrando da minha avó, da minha bisavó, da minha mãe e consigo ver outras mulheres que fizeram parte da minha vida e que ela relata muito bem. É uma forma de nos redescobrirmos, enquanto negros, a partir do momento em que temos acesso a esse tipo de literatura”, acrescentou a coordenadora.

O encontro da noite foi mediado pelo egresso do curso de Geografia e membro do Neab, Denis Vieira Moraes, protagonista também do vídeo de reflexão que abriu o evento.

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