Notícias de Criciúma e Região

Xilogravura: das ranhuras da madeira à arte no papel

Técnica nascida na China e “abrasileirada” no cordel é base para projeto artístico em Criciúma

A xilogravura é uma das formas de impressão mais antigas que existem. Estima-se que o método nasceu na China por volta do século II. A técnica consiste em um entalhe em matriz sólida (geralmente madeira) com alguma ferramenta de corte, como goiva, formão ou mesmo faca. A superfície, então, passa por aplicação de tinta com um rolo ou item semelhante (processo chamado de entintar). Após isso, uma folha de papel é colocada por cima e pressionada (manualmente ou por algum tipo de prensa), gerando assim a arte proposta.

A técnica chegou ao Brasil com a colonização portuguesa e se popularizou devido ao baixo custo. Até hoje, marca a literatura de cordel, já que é amplamente utilizada nessa manifestação artística. Entre os diferenciais da técnica, está a possibilidade de vários tipos de texturas, já que cada impressão depende dos materiais utilizados, o entalhe e a tinta escolhida. Cada obra impressa também é única, mesmo sendo feita da mesma matriz. “Dependendo da forma que você entinta a matriz, da tinta em si, das ranhuras da madeira, da forma utilizada para a impressão, a arte pode sair totalmente diferente. O interessante da ‘xilo’ é isso, cada obra é única” destaca a artista visual Viviane Rocha, que utiliza a técnica para produção artística desde 2019.

De Bará à Oxalá: Xilogravando os Orixás do Batuque

Por meio da xilogravura, a artista irá retratar os orixás cultuados no Batuque, tradição religiosa afro-brasileira do Rio Grande do Sul. Semelhante ao Candomblé, Xangô de Pernambuco e outras tradições de culto a orixá, os negros trazidos ao Sul do Brasil também mantiveram devoção a essas divindades em sua vivência. Mesmo de nações diferentes, ritos foram adaptados e perduram até hoje como uma das mais influentes tradições de cultura negra do Sul.

O projeto consiste na exposição (física e em projeções itinerantes) de uma série de xilogravuras da artista, representando os orixás cultuados no Batuque. Também ocorrerão quatro oficinas de xilogravura abertas ao público durante o projeto. A exposição física será composta com 12 quadros, além dos cadernos da artista, desenhos/esboços, telas e matrizes de xilogravura, que serão exibidos em espaços públicos da cidade. “De Bará à Oxalá: Xilogravando os Orixás do Batuque” é um projeto selecionado por meio do Edital Cultura Criciúma N° 001/2023 – Lei Completamente Nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo), através do município de Criciúma.

 

Sobre a artista

 

Viviane Rocha nasceu em Mato Grosso e vive em Santa Catarina desde 2016. Iniciou a vida artística na fotografia e atuou na ONG Instituto Usina, em Cuiabá, realizando exposições e projetos de atuação regional. Em Santa Catarina, atuou no Portal Catarinas e no projeto “Artes de pesca: saberes e fazeres dos pescadores tradicionais da Costeira do Pirajubaé”, da Fundação Catarinense de Cultura. Atua como professora de Literatura e Língua Portuguesa e produz xilogravuras para expressão própria. É filha de Ogum pela Nação Cabinda, uma das vertentes do Batuque do Rio Grande do Sul.

Você também pode gostar