Pais indignados porque crianças estão sem atendimento; HMISC só atende emergência
Casos que chegam para atendimento e não são considerados emergências, são encaminhados para UPA e UBS
Indignação, revolta, desespero e dúvida. Esses são alguns dos sentimentos que sentem os pais que levam seus filhos até o Hospital Materno Infantil Santa Catarina em Criciúma. A unidade hospitalar passou a atender nesta segunda-feira, dia 11, somente em caráter emergencial. Os casos que chegam para atendimento no local são classificados por cores conforme o risco do quadro.
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Após passar pela triagem e ser devidamente classificada, os pais descobrem se o filho será ou não atendido. Caso a criança seja classificada com a cor verde ou azul, que não são emergência (ver sintomas abaixo), o paciente não é atendido e os pais são orientados a procurarem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Próspera ou Rio Maina, ou as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do bairro.
A reportagem do Portal Litoral Sul esteve no hospital no início da tarde desta segunda-feira, dia 11. Em cerca de 40 minutos, aproximadamente cinco pais com filhos pequenos saíram da unidade sem atendimento médico.
A jovem Cristiane Aguiar trouxe a filha de apenas 9 meses para consultar. Segundo a mãe, a criança apresenta muita tosse e secreção. Ela não recebeu atendimento no local e foi orientada e procurar o postinho. “Antes de vir aqui já fiz contato com o posto do bairro e só tem pediatra na quarta-feira. Não posso esperar. Minha filha não dorme à noite por causa da tosse”, explica Cristiane.
Ela e a filha foram até o Hospital acompanhadas pela avó, que ficou indignada com a negativa do atendimento. “Agora nem sei o que vou fazer. Nem sei onde levar minha neta. Sempre que precisamos de atendimento no hospital é esse mesmo problema. Ou está cheio ou não atendem”, relata Simone de Aguiar.
Além delas, diversos outros pais deixam o Hospital Santa Catarina com os filhos no colo e chorando. A dúvida que surge é: meu filho vai ser atendido por um pediatra na UPA ou no postinho? O secretário de Saúde de Criciúma, Arleu da Silveira, explicou que os casos que não forem atendidos no Hospital Santa Catarina, podem receber atendimento nas UPAs e nas Unidades de Saúde. “Em casos que não forem de emergência, o clínico geral das UPAs e das Unidades de Saúde estão prontos para atender. Estamos tentando contratar pediatras. O governador liberou um valor no domingo, quando esteve em Criciúma. Com ele tomando algumas ações, queremos ampliar o número de médicos nas UPAs do bairro Próspera e Rio Maina”, explica.
O Hospital Materno Infantil atende crianças de toda a Região Sul. Os pais do pequeno Caio, de apenas 7 anos, vieram de Araranguá para receber atendimento de um pediatra. A criança apresenta febre e uma alergia que está se espalhando por todo o corpo. Segundo eles, já procuraram atendimento médico em uma UPA do município, mas o problema não foi resolvido. “Tivemos que sair do trabalho nesta tarde pra procurar ajuda, mas chegamos aqui e eles simplesmente falaram que não vão nos atender. Já fui ao clínico geral e não resolveram a alergia do meu filho. Não sabemos o que vamos fazer”, relata a mãe, que não quis se identificar.
Por meio de nota, o Hospital Santa Catarina se manifestou sobre a situação:
O Hospital Materno-Infantil Santa Catarina (Hmisc) está adotando todas as providências possíveis para garantir o melhor atendimento à comunidade. No domingo, o governador Carlos Moisés, o prefeito Clésio Salvaro e do secretário municipal de Saúde, Arleu Silveira, estiveram no hospital. Em acordo com as duas Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) da cidade ficou acertado que os pacientes de menor gravidade, aqueles classificados clinicamente como de riscos cores verde ou azul, e que acessarem o hospital serão encaminhados para atendimento nas UPAs. A direção do hospital também está alinhando com as secretarias de Saúde dos municípios vizinhos para todos estenderem seus horários dos prontos atendimentos até as 22h.
Somente no domingo, informa o diretor do hospital, César Magalhães, com apoio de veículos do Estado e com ambulâncias contratadas pelo Hmisc, foram transferidos três pacientes que estavam na UTI pediátrica, dois pacientes da UTI neonatal e sete que estavam em leitos clínicos pediátricos. Todos os 29 leitos pediátricos estavam ocupados e mais 23 crianças estavam sob atendimento, em um total de 52 crianças internadas, sendo seis desses entubados. Para conseguir absorver todos esses pacientes, estabilizá-los e garantir maior segurança foi montada uma UTI na área de pronto-atendimento do hospital.
“Hoje, a gente atende toda a região Sul de Santa Catarina, além de pacientes da Serra e até do Litoral Norte gaúcho. Por isso é importante os pais terem a consciência que muitas vezes a UPA mais próxima pode fazer o atendimento e atender a demanda médica, evitando aglomeração e maiores esperas na recepção do hospital, onde a prioridade sempre serão os casos de maior gravidade, aqueles de urgência e emergência”, destaca o diretor César Magalhães.
Protocolo de Manchester
O Hospital Materno-Infantil Santa Catarina adota o Protocolo de Manchester, que estratifica os pacientes em cores de acordo com o grau de gravidade de cada um.
Vermelho: O atendimento deve ser imediato. Doentes com situações clínicas de maior risco, como por exemplo:
- Politraumatizado grave – Lesão grave de um ou mais órgãos e sistemas.
- Queimaduras com mais de 25% de área de superfície corporal queimada ou com problemas respiratórios.
- Trauma Cranioencefálico grave.
- Estado mental alterado ou em coma, com histórico de uso de drogas.
- Comprometimentos da coluna vertebral.
- Desconforto respiratório grave.
- Dor no peito associada à falta de ar.
- Crises convulsivas (inclusive pós-crise).
- Intoxicações exógenas ou tentativas de suicídio.
- Reações alérgicas associadas à insuficiência respiratória.
- Complicações de diabetes (hipo ou hiperglicemia).
- Parada cardiorrespiratória.
- Hemorragias não controláveis.
- Alterações de sinais vitais em paciente com sintomas diversos.
Laranja: Tempo de espera recomendado até 20 minutos. Casos muito urgentes, como:
- Cefaleia intensa de início súbito ou rapidamente progressiva, acompanhada de sinais ou sintomas neurológicos, alterações do campo visual, dislalia, afasia.
- Alteração aguda de comportamento – agitação, letargia ou confusão mental.
- Dor severa.
- Hemorragia moderada sem sinais de choque ou instabilidade hemodinâmica
- Arritmia (sem sinais de instabilidade).
Amarelo: Tempo de espera recomendado até 30 minutos. Casos urgentes, como:
- Politraumatizado sem alterações de sinais vitais.
- Trauma cranioencefálico leve.
- Convulsão nas últimas 24 horas.
- Desmaios.
- Alterações de sinais vitais em paciente sintomático.
- Idade superior a 60 anos.
- Hemorragia moderada (controlada) sem sinais de choque
- Vômito intenso
- Crise de pânico
- Dor moderada
- Pico hipertensivo
Verde: Tempo de espera recomendado até 3 horas ou antes, de acordo com o fluxo de pacientes mais graves. Casos pouco urgentes, por exemplo:
- Asma fora de crise.
- Enxaqueca – pacientes com diagnóstico anterior de enxaqueca.
- Estado febril sem alteração nos sinais vitais
- Refriados e viroses sem alteração nos sinais vitais.
- Dor leve
- Náusea e tontura
- Torcicolo
- Hemorragia em pequena quantidade controlada (sem sinais de instabilidade hemodinâmica)
- Drenagem de abscesso
Azul: Tempo de espera recomendado até quatro horas ou antes, de acordo com o fluxo de pacientes mais graves. Casos sem urgência, como:
- Queixas crônicas sem alterações agudas.
- Unha encravada.
- Troca de sondas.
- Aplicação de medicação externa com receita.
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