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Forte mesmo é homem que cuida da saúde mental

Velhas formas de pensar impedem que grande parte da população masculina peça ajuda psicológica e psiquiátria. Já passou da hora de mudar essa realidade

Minha conversa hoje é principalmente com os homens (embora qualquer pessoa possa se beneficiar deste conteúdo). Já passou pela sua cabeça buscar apoio psicólogico em momento de dificuldade, mas algo fez você desistir da ideia?

Se a resposta foi “sim”, o que é bem comum, você talvez faça parte de um grupo gigantesco de homens que ainda mantém velhas formas de pensar quando o assunto é a saúde mental masculina. Aproveitando o embalo do mês de novembro, dedicado à saúde do homem e à prevenção do câncer de próstata, trago alguns pontos de reflexão para, quem sabe, encorajar os que andam precisando de ajuda psicológica a tomar uma atitude.

São diversos os motivos que levam muitos homens a não pedir ajuda. Aponto alguns:

“Fragilidade não é coisa de homem”.

Muito já se repetiu que “mulher é o sexo frágil” e que “homem não chora”. Grande equívoco. Nem mulher necessariamente é frágil nem homem necessariamente é forte e resistente. Todo humano, independentemente do gênero, tem forças e fraquezas. Todo humano chora. A depender do momento, do contexto ou das circunstâncias e fatos da vida, qualquer pessoa pode se sentir abalada, incapaz de superar adversidades sozinha, frágil. O homem que admite ter momentos de fragilidade e consegue pedir ajuda não faz apenas um favor a si mesmo. Ele contribui para combater a cultura do machismo, que está baseada numa falsa ideia de superioridade masculina.

Expectativas sociais de masculinidade

O heroi, o forte, o corajoso, o destemido… Seja lá qual for o termo associado à figura masculina, nenhum dá conta de descrever o que é um homem. Essas construções sociais serviram para sustentar posições de poder ao longo de séculos, mas os tempos mudaram. É preciso admitir que o universo particular de cada sujeito, seja homem ou mulher, também é habitado por medos e inseguranças. Ficar preso às expectativas sociais, corresponder ao que os outros esperam, não atender as próprias necessidades, não bancar os próprios desejos, isso, sim, é sinal de fraqueza.

Exigências do mercado de trabalho

O mesmo homem forte, capaz e autossuficiente que a cultura imaginariamente construiu é esperado no desempenho de suas atribuições profissionais. Até porque a imagem construída ao longo da história é a do homem provedor. Como mostrar fragilidade em um ambiente competitivo, onde os mais fortes dominam, alcançam posições hierárquicas mais elevadas, obtêm maior retorno financeiro? De fato, a maior mudança que precisamos promover é cultural. Não é simples admitir alguma fraqueza aos pares e superiores no trabalho. Porém, quando um homem se dispõe a buscar ajuda especializada, os benefícios tendem a ser bem maiores do que aqueles obtidos por sustentar uma imagem irreal de força e potência.

Sofrimento não levado a sério

Característica típica de muitas amizades masculinas é a boa e velha “zoação”. É bem comum a desgraça de um virar a piada do outro. Não vou dizer que brincadeiras assim sejam ruins. Lidar com problemas e dificuldades de forma leve e descontraída pode até ajudar em alguns casos. A questão é que nem sempre quem está em dificuldade deseja ouvir gracejos. Às vezes, quem compartilha seus dramas com amigos está em busca de algum apoio e conforto. Uma dose de sensibilidade nessa hora, para identificar se vale segurar a piada, é uma boa pedida. Seja você o primeiro a encorajar o amigo a buscar ajuda especializada, se for o caso.

Mitos em torno da saúde mental

Esse é um problema generalizado e com forte impacto sobre os homens. Pessoas que buscam assistência de psicólogos ou psiquiatras, às vezes, ainda sofrem preconceitos por serem taxadas de problemáticas, fracas, loucas… Embora a sociedade tenha evoluído, estigmas seculares ainda pairam sobre o campo da saúde mental. E muitas ideias equivocadas se sustentam justamente porque as pessoas não se dispõem a conhecer mais profundamente o assunto. Os diversos tipos de abordagem psicológica e os avanços da psiquiatria e de psicofarmacologia dão provas constantes de que é possível minimizar estados de angústia e obter maior bem-estar. Você acha que vale continuar sofrendo por falta de informação e preconceito?

Certamente, outros pensamentos, comportamentos e causas externas ainda mantêm muitos homens afastados de tratamento adequado em saúde mental. A mudança cultural é um processo gradual, mas já estamos avançando. Difundir essas informações é um passo para acelerar o processo. E que não demore para que façamos prevalecer a ideia, entre homens e mulheres, de que cuidar da saúde mental e pedir ajuda quando necessário é um ato de força e coragem.

 

Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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