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ARTIGO: pandemia amordaçada

Por, Jorge Boeira

Depois da tentativa insana do Ministério da Saúde de maquiar os dados do covid-19, coube ao Supremo Tribunal Federal colocar os vagões nos trilhos. Parece que o atual governo se esquece a cada dia que o Brasil tem uma Constituição que disciplina as relações dos poderes constituídos com a sociedade, entre eles e vice e versa, e, nela, são estabelecidos os princípios basilares da administração pública dentre os quais o da legalidade e o da publicação dos atos que dela emanam e que arroubos autoritários, nela encontram limites.

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Desde o surgimento da pandemia, o Ministério da Saúde fornecia diariamente o número de mortes confirmadas nas últimas 24 horas somadas ao número de óbitos ocorridos em dias anteriores pendentes de confirmação do diagnóstico de covid-19. Os dados ainda continham os números de casos confirmados, em suspeição e os descartados, formando um conjunto estatísticos fundamental, segundo os especialistas, para traçar as estratégias de combate à pandemia e orientar as autoridades no tocante às decisões a serem tomadas como isolamento e distanciamento social, lockdown, aumento de números de leitos de UTI, criação de hospitais de campanha, contratação de pessoal e aquisição de equipamentos e insumos de saúde.

A intenção do governo era alterar a plataforma de dados, em especial aquelas com números mais impactantes, por uma outra em que os dados eram minimizados por maquiagem contábil, por exemplo, a de informar os números de mortes confirmados por covid-19 nas últimas 24 horas, desprezando os casos que ocorreram antes e cujos exames não saíram a tempo de confirmação.

Ao tentar mascarar, pela manipulação na metodologia de divulgação dos números atinentes a pandemia do corona vírus, o governo imaginou que quebrando o termômetro, a febre baixaria. Tiro no pé. A decisão de maquiar os dados se tornou um escândalo internacional. O Brasil é hoje o segundo país do mundo em contaminações; está prestes a passar o Reino Unido e a se tornar também o segundo em óbitos, além de ser o que registra o maior número de casos fatais por dia.

Não se combaterá, tampouco vencerá a pandemia com truques e blefes ou ironias, sim ouvindo os especialistas, seguindo suas orientações técnicas e agindo com responsabilidade. Isso parece ser quase impossível num país em que, para o presidente, o início da pandemia era “invenção da imprensa”; na 1ª morte era apenas uma “gripezinha”; com 10 mortos tinha “histórico de atleta”; com 100 “vão morrer alguns idosos”; com 1000 “não sou coveiro”; como 10 mil “e daí?”, com 20 mi “a culpa é dos governadores e prefeitos”. Ao chegar aos 35 mil mortos, parece que será a seguinte: Escondam os números de mortos.

Amordaçar a pandemia e esconder cadáveres é bem mais complexo que a rígida disciplina militar de guardar segredos, ainda mais quando a conta já passa dos 38 mil. É bom que caiam na real, pois o que vimos é que no país das maravilhas, Alice está dando lugar aos mortos.

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