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A polêmica sobre a tese do marco temporal

Julgamento do marco temporal no STF está agendado para o próximo dia 7 de junho. Enquanto isso, a Câmara dos Deputados age para impedir a intervenção do Supremo. Foto: Ascom STF

A aplicação do marco temporal prevê que só podem ser reservadas terras que já eram tradicionalmente ocupadas por povos indígenas no dia da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988. A insegurança jurídica e que está mexendo com as opiniões, se refere à possibilidade de que tudo por ser mudado, a partir de novo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que poderia vir a derrubar a tese, cujo tema já foi pacificado pela Corte e mais de uma ocasião. O julgamento do tema no STF começou em agosto de 2021. O relator da ação, ministro Edson Fachin, entendeu que o marco temporal não deve ser aplicado. O ministro argumentou que a tese desconsidera a classificação dos direitos indígenas como fundamentais, ou seja, cláusulas pétreas que não podem ser suprimidas por emendas à Constituição. Num segundo voto, o do ministro Nunes Marques, o manifesto foi pela aplicação do marco temporal. Depois destes primeiros pontos de vista dos ministros, um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, suspendeu o julgamento. As preocupações em todo o país a respeito do entendimento que o Supremo pode vir a dar, aumentaram, quando a presidente do STF, ministra Rosa Weber, agendou a retomada para o dia 7 de junho, próximo. Para então definir o entendimento do marco temporal, na aplicação dele em todo o Brasil.

Reflexos em Santa Catarina

Audiência lotou as dependências do Auditório Antonieta de Barros com agricultores e moradores de municípios que podem ser prejudicados / Foto: Rodolfo Espínola/Agência AL

Diante do andar dos fatos, Santa Catarina é um dos estados, em que vários municípios poderão ser afetados, caso haja mudança na interpretação do marco temporal. Em Audiência Pública, proposta pelo presidente Mauro De Nadal, houve unanimidade na defesa e do alerta para a insegurança jurídica que poderá ocorrer, diante da possibilidade da derrubada da tese que está em julgamento no Supremo Tribunal Federal. A Audiência ocorreu no dia 15/5, e reuniu centenas de moradores, agricultores e autoridades de municípios que podem ter seus territórios afetados por demarcações de terras indígenas, em especial Cunha Porã, Saudades, Vitor Meireles e Palhoça. Foram muitos os manifestos.

“Nasci e cresci em Cunha Porã. Nunca vi índio lá”, afirmou a prefeita de Cunha Porã, Luzia Vacarin. “Temos famílias com escrituras de 100 anos. Fomos convidados pelo governo no passado a colonizar a região e esse mesmo governo quer tirar nosso direito à propriedade.”

“É uma situação injusta. Não tinha índio lá em 1988”, disse o prefeito de Saudades, Maciel Schneider. “Só no nosso município, são 7% do território. Essas terras são dos nossos produtores, que estão lá há gerações.”

Nos casos de Cunha Porã e Saudades, a preocupação é ainda maior. Em 2007, portaria da União declarou a posse permanente de 2,7 mil hectares de terra ao grupo guarani Nhandéva-Chiripá, impactando 153 famílias em 214 propriedades pequenas, com média de 15 hectares, cada.

Carta entregue às autoridades competentes em Brasília

Reunião com o presidente da Câmara dos Deputados, Athur Lira / Foto: assessoria de imprensa

No início da semana passada, presidente da Alesc, Mauro De Nadal, acompanhado do federal Carlos Chiodini, teve agenda cheia em Brasília. Conversou com o presidente da Câmara dos Deputados, Athur Lira (PP/AL), ocasião em que eles tiveram a confirmação de que o Marco Temporal iria ser votado pelo Congresso antes mesmo da questão ser reavaliada pela Suprema Corte. Os parlamentares catarinenses também se encontraram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), e com os ministros André Mendonça e Gilmar Mendes, que ainda não tomaram posição diante do julgamento polêmico.

Promessa cumprida

Athur Lira / Foto: / Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O que o presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira havia dito para as lideranças catarinenses, se cumpriu. Na quarta-feira, 24, a Câmara aprovou urgência sobre marco temporal Projeto estabelece que indígenas só podem reivindicar terras que ocupavam na data da promulgação da Constituição (5.out.1988). Foram 324 votos a favor e 131 contra, o regime de urgência do PL (Projeto de Lei) 490/2007. Com a aprovação do regime de urgência, o texto pode ser votado diretamente em plenário na Câmara. Se aprovado, segue para análise do Senado e, caso também tenha o aval da Casa, continua para a sanção presidencial. O presidente Lula pode sancionar ou vetar o texto. A aprovação do regime de urgência teve também críticas contrárias. O presidente Lira, rechaçou dizendo que a discussão em plenário é para impedir a intervenção do STF no tema. Sendo assim, a pauta oficial do Plenário ainda não foi divulgada, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira, já anunciou que a análise do marco temporal deve ocorrer na terça-feira (30). O relator da proposta, deputado Arthur Oliveira Maia (União-BA), defendeu a aprovação do texto. Uma nova versão ainda será negociada com os líderes partidários.

Fontes de informações: Agência Alesc e Agência Câmara dos Deputados.

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