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O sonho de voar

*Escrita por Celso da Luz 

“Mantenha o ponto de espera aguardando instruções. Decolagem autorizada.” Essa é a frase que muitos gostariam de ouvir todos os dias ao iniciar seu trabalho. Aviação é uma paixão que acompanha diversas pessoas desde a infância. Conhecer vários países, ver o mundo de cima e vestir os uniformes de linhas aéreas. O glamour de ser um piloto de avião é uma das razões que mais inspira nessa profissão tão desejada.

Desde muito cedo, o estudante criciumense Luiz Eduardo Tiscoski teve o sonho de voar, tanto que realizou seu curso de Piloto Privado com apenas 16 anos, em 2016. “Fiz o curso inicial no aeroporto de Jaguaruna através de uma escola privada. Quando soube que abriram uma turma não pensei duas vezes e fiz minha matricula. Desde criança gosto de aeromodelos (aviões de controle remoto), aviação é a minha vida.”

Após passar pela prova da ANAC (Agencia Nacional de Aviação Civil) no final do ano passado, Eduardo conta 20 horas de voo das 36 necessárias, e garante que o investimento irá valer a pena. “Estou aguardando chegar à maioridade para terminar minhas horas de voo e dar sequencia no meu sonho. Quero ser comandante de linha aérea”.

Eduardo Tiscoski em uma de suas aulas práticas

 

Iniciação na carreira

O curso de piloto privado é o primeiro passo para quem quer se tornar um piloto de avião comercial. O piloto/instrutor Anézio Ventura, 24, foi professor do curso de PP em Jaguaruna. Ventura terminou sua formação de piloto em 2015, e na sequencia ingressou na escola de aviação VoeFloripa, instalada em Florianópolis a seis anos, e que agora pretende expandir a escola para outras regiões do estado, podendo vir para Criciúma no futuro. Assim como seus alunos, também esbarrou em muitos obstáculos até se tornar um piloto, “Tive muitas dificuldades, tanto financeiras quanto burocráticas, mas hoje trabalho para mostrar aos alunos que devem trabalhar e persistir até alcançarem seus sonhos” destaca.

Para se tornar um piloto privado não remunerado, o aluno irá investir aproximadamente 20 mil reais, contando o curso teórico e a parte prática. “Após certificado piloto- privado, poderá realizar outro curso, o de piloto comercial, onde após o término das aulas teóricas e horas de voo, será um piloto remunerado e habilitado a pilotar aviões por instrumentos e aeronaves multimotoras. Assim, começa a reconquistar o dinheiro aplicado. Além de ser uma profissão muito gratificante, tem seu valor financeiro”, garante Ventura.

O piloto-aluno, assim chamado quando ingressa na escola de aviação, precisa se enquadrar em alguns pré-requisitos: ter segundo grau completo, idade superior a 18 anos, e realizar exames médicos para obter o certificado médico aeronáutico (CRM) de segunda classe. Passando nessas condições, ele estuda conteúdos exclusivos da aviação, como conhecimentos técnicos de aeronaves, meteorologia e navegação aeronáutica, regulamentação da aviação civil, regulamentos de tráfego aéreo e teoria de voo. Esse estudo é necessário para que ele possa ter nota suficiente para passar na prova teórica da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Ao passar na banca, receberá o Certificado de Conhecimentos Teóricos.

Piloto/instrutor Anésio Ventura e o piloto-aluno Eduardo Tiscoski

 

Aulas práticas

Através do certificado e aprovação da ANAC, o piloto-aluno poderá realizar as 36 horas de voo necessárias. A empresa VoeFloripa possuí uma aeronave Cessna 152 para que os alunos possam realizar a parte prática, basta agendar com a empresa as aulas no aeroporto de Jaguaruna.

Cumpridas as horas, ele é submetido ao chamado “voo de cheque”, no qual são averiguadas as habilidades aprendidas durante o curso. Assim, ele recebe sua licença de Piloto Privado de Avião (CHT), estando habilitado a voar aeronaves monomotoras em voos visuais, desde que não seja de maneira comercial ou remunerada.

 

Vivendo o sonho

Natural de Florianópolis, Heinrich Gustav Brand, também sempre soube que o céu seria o seu local de trabalho. “Meu pai trabalhava como mecânico de aeronaves na extinta VASP (Viação Aérea São Paulo). Nós morávamos bem ao lado do aeroporto Hercílio Luz. Eu cresci no mundo da aviação”, conta.

Quando estava prestes a completar 18 anos, Brand conseguiu uma vaga como despachante de bagagens da TAM, atual LATAM Airlines Brasil. E viu ali uma oportunidade para guardar o dinheiro necessário para fazer suas horas de voo. “Foi bem nesse período que ingressei na primeira turma do curso de piloto privado do Senai, na cidade de São José. Graças ao emprego na TAM e do conhecimento adquirido no curso preparatório consegui iniciar na carreira de piloto”. Após passar na banca da ANAC, ele pôde enfim realizar seu voo solo (voar sem a presença do instrutor na aeronave). “Foi uma sensação única ver que eu estava independente”, descreve o piloto.

Foto: Co-piloto Heinrich Gustav Brand

 

Após algum tempo, Brand começou a ver o retorno financeiro na profissão, e foi no Aeroporto Humberto Ghizzo Bortoluzzi, em Jaguaruna, que através de uma empresa privada de aviação, iniciou como instrutor de voo formando pilotos privados, comerciais e novos instrutores. Mas foi recentemente que ele deu um salto para realizar seu maior sonho, o de ser piloto de linha aérea. “Há quatro meses ingressei na Azul Linhas Aéreas como co-piloto de Embraer. Estou realizado. Principalmente porque era o que eu esperava desde criança. O caminho é árduo, mas a recompensa valoriza todo o trabalho até chegar aqui”, comemora.

Sobre o dia-a-dia da aviação, Brand reconhece que é cansativo, mas recompensador. “Normalmente depois de um voo vamos para um hotel e se tiver tempo saímos pra conhecer a cidade. Mas na maioria das vezes chegamos para descansar e no outro dia assumimos outro voo. Mas é gratificante saber que você esta transportando pessoas, vidas e sonhos. Depois de um pouso você cumprimenta as pessoas. É muito legal quando um passageiro elogia a viagem, ou pessoas que entendem um pouco mais de aviação elogiam um pouso, isso é sensacional”.

Brand sabe que ainda está só no inicio da longa caminhada que ele almeja, pretendendo fazer voos ainda mais altos. “Espero daqui a uns cinco anos ser comandante. E daqui, quem sabe, dez anos, estar fazendo voos internacionais”, celebra o co-piloto.

Heinrich Gustav Brand em um dia de trabalho como co-piloto de linha aérea

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