O que você faz para cuidar da sua saúde mental?
Campanha “Janeiro Branco” reforça que saúde mental não pode ser tabu.
O ano era 1996. Cheguei para a sessão semanal com minha psicóloga quando, na sala de espera, cruzei com um colega de aula que até então eu nunca tinha encontrado por lá. Batemos um papo rápido, pois ele já estava de saída. Antes da despedida, porém, um pouco encabulado, ele me fez um pedido: “Não conte a ninguém que você me viu aqui”.
Hoje, pode parecer um pouco de exagero, mas já houve uma época não tão distante em que pessoas tinham vergonha ou um certo constrangimento ao admitir que precisavam de ajuda psicológica ou psiquiátrica. Felizmente, vinte e seis anos depois daquele encontro com meu colega, o assunto está mais às claras. Há novos canais e espaços de discussão, mas ainda é preciso avançar muito.
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Que atire a primeira pedra quem nunca experimentou algum sofrimento mental. Seja por um transtorno específico, diagnosticado por um profissional, ou simplesmente por situações adversas da vida, todo mundo já deu de cara com a angústia.
Basta ser humano para carregar um certo mal-estar, já lembrava Freud. Somos diariamente afetados por pensamentos, sentimentos e emoções. Temos desejos conflitantes, somos ambivalentes. E essas questões internas, claro, têm relação com o modo como encaramos e respondemos às demandas do mundo e dos outros.
Trocando em miúdos: não é simples nem fácil lidar com a complexidade do nosso psiquismo. Só que tudo fica ainda mais complicado quando não temos a oportunidade de ao menos falar sobre o que nos aflige. Ou, pior, quando achamos que se trata de algo a ser escondido.
Por mais que tenhamos evoluído, saúde mental ainda é um tabu. Dessa constatação, nasceu o “Janeiro Branco”, uma campanha que, desde 2014, busca destacar a importância de abrirmos mais espaços públicos para falar sobre saúde mental, por meio de palestras, oficinas, cursos e ações diversas de conscientização.
E por que Janeiro Branco?
Um ano pela frente é uma espécie de “página em branco” em que, simbólica e culturalmente, somos convidados a repensar a vida e a escrever um novo capítulo da nossa história, com aquela tradicional esperança de dias melhores.
Eu não sei o que você projetou ou já escreveu nessa página. Só sei que não há como pensar em dias melhores sem dar a devida atenção a sua saúde mental. Considerando que estamos em janeiro e que, portanto, ainda há espaço na sua página, fica minha sugestão para que acrescente uma pergunta:
O que posso fazer pela minha saúde mental em 2022?
Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.