Um voto pela saúde mental
Eleições podem ser fator de risco para o bem-estar psíquico. Alguns cuidados ajudam a amenizar o sofrimento neste momento de tensão
Embora pareça um pouco de exagero, períodos eleitorais podem, sim, afetar negativamente a saúde mental. Um estudo com 500 mil americanos, publicado em 2020, mostrou que ver seu candidato perder ou sair de alguma forma frustrado com o resultado das urnas é fator de risco para o bem-estar psíquico.
Acompanhar disputas muito acirradas, lidar com mentiras e notícias falsas, desgastar relações por divergências políticas, sofrer com o medo da violência e com a incerteza do futuro. Não faltam motivos para o aumento dos níveis de estresse e ansiedade durante a corrida eleitoral. Se formos somar o clima de tensão instalado no Brasil com a polarização política e os efeitos ainda marcantes da pandemia da Covid-19, os próximos dias merecem especial cuidado com a saúde mental.
Atenção redobrada devem ter aqueles que já sofrem com algum transtorno, uma vez que o ambiente eleitoral hostil pode despertar reações emocionais extremas, sobretudo associadas ao medo e à raiva. Sentir esse tipo de emoção não é necessariamente um problema, mas convém ficar alerta se os efeitos persistirem, pois, aí sim, será necessário buscar ajuda especializada.
Algumas atitudes podem ser benéficas para amenizar eventuais sintomas provocados por esse momento estressante. A primeira delas é fazer um exercício de abrir mão do controle e aceitar as incertezas. Você pode (e deve) manter um comportamento ativo ao longo do processo, afinal, é um cidadão responsável pelo futuro do país. Mas admitir que nem tudo depende de você e que o resultado das urnas, seja ele qual for, não será seu fim nem o fim do país ajuda a reduzir a angústia de uma perspectiva catastrófica.
Outra dica fundamental é: cuidado com as redes sociais. Elas podem ser uma excelente fonte de informação, mas infelizmente estão recheadas de mentiras. Se possível, limite o uso e aproveite bem os serviços de checagem jornalística. Falo isso com conhecimento de causa porque também sou jornalista. Apesar do descrédito à profissão resultante da ação inescrupulosa de alguns governantes, o trabalho jornalístico responsável ainda é uma das principais fontes de defesa da democracia, porque prioriza a pluralidade de discursos. Se está em dúvida, recorra à História. Censura sempre foi estratégia de ditadores.
Buscar proximidade de pessoas que julga confiáveis, desde que você saiba que elas se baseiam em diferentes fontes de informação para formar opinião, pode ser uma boa estratégia para firmar laços e diminuir a sensação de desamparo. Vale também escutar o próprio corpo para enfrentar melhor o período de tensão. O básico e conhecido combo de uma vida mais saudável sempre ajuda nessas horas: boa alimentação, exercícios físicos, horas de sono e lazer.
Por fim, saiba que você tem um papel fundamental nesta eleição. Não se deixe levar pelo que os outros esperam de você, nem pela atitude displicente de não examinar com cautela as diferentes propostas de governo. Como psicólogo, eu opto pela que mais se aproxima da defesa da liberdade, do respeito à diversidade e da democracia. E você?
Fábio Cadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.