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Gosta de séries sobre psicopatas? Psicóloga explica o porquê

Consumo exacerbado desse tipo de conteúdo pode não ser saudável

Em apenas 12 dias, ‘Dahmer: Um Canibal Americano’ entrou para a lista das dez séries mais vistas da história da Netflix, com quase 500 milhões de horas assistidas. Assim como ela, diversas outras produções focadas em psicopatas ou assassinos em série, como por exemplo as brasileiras “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime” e “A Menina que Matou os Pais”, foram sucesso de audiência. Informações do portal TV Cultura.

Graduada em Psicologia e mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Karina Ishimori explica que “todos nós, seres humanos, temos a agressividade e a violência habitando dentro da gente”. Em entrevista exclusiva ao site da TV Cultura, a especialista em Psicoterapia Analítica afirma que esse tema pode “chacoalhar nossas emoções”.

Por que nos interessamos?

“As pessoas se interessam tanto por temas como esse porque o que é chocante, extremo, desviante e que sai totalmente do que consideramos normal e rotineiro tem um poder de atração bem grande na gente”, aponta a profissional. Para ela, “temas que nos tiram do rotineiro e da propensa normalidade chacoalham nossas emoções, além de ficarmos curiosos em tentar conhecer e compreender essas situações”.

Para exemplificar, Karina cita uma situação relativamente corriqueira: “Quando acontece um acidente de carro, é comum fazer um trânsito enorme. Por quê? Porque as pessoas ficam muito curiosas em saber o que aconteceu e reduzem a velocidade para espiar. A impressão é que, quanto mais chocante o acidente, mais aficionada vão ficar as pessoas.”

Existem possíveis danos?

O consumo exacerbado desse tipo de conteúdo, no entanto, pode não ser saudável. Há quem diga que a mente daqueles que exageram nas séries sobre crimes reais podem ser impactados a longo prazo. “(Consumir demasiadamente) pode afetar na saúde mental de uma pessoa – no sentido de querer ficar mais isolada, com medo, mais triste e ansiosa”, diz a psicóloga. Ainda de acordo com ela, isso ocorre pois “são conteúdos densos que focam bastante no que é sombrio no ser humano”.

Quando perguntada se o consumo excessivo pode aumentar a propensão do consumidor em se tornar um potencial criminoso, Karina alega que “as emoções que surtem a partir do tema” são “o que mantém as pessoas aficionadas”.

“Todos nós, seres humanos, temos a agressividade e a violência habitando dentro da gente. É com a educação e as normas sociais que vamos aprendendo antes de tudo, a reprimir a agressividade dentro de nós. Assim, na maioria das vezes aprendemos a fingir que ela não existe na gente”, lembra a especialista.

Karina fala que “quando assistimos a uma série ou documentário com atos de violência, sentimos um duplo deleite: um alívio enorme de não sermos nós os agentes de tamanha violência – porque uma certa predisposição existe em nós – e ver a violência encarnada no outro, que é como se pudéssemos expurgar também a nossa própria violência.”

Apesar do alerta, Karina ressalta que “há uma grande diferença entre ser um aficionado por esses temas até se chegar a ser um serial killer”.

Todo assassino em série é um psicopata?

Em diversas oportunidades, trata-se um assassino em série como se fosse um psicopata. Na maioria das vezes, as duas definições andam juntas, mas não são necessariamente a mesma coisa. “O termo serial killer é aplicado para denominar o formato do delito e não a psicopatologia. Assim, não são sinônimos”, conta a psicóloga.

Karina também lembra que “psicopatia, hoje em dia, é um termo aplicado a casos forenses, sendo a patologia chamada TPA (transtorno de personalidade antissocial). As características desse transtorno são: a carência de empatia e dificuldade em se adequar às regras sociais. Pode-se dizer que há níveis de TPA e que, por isso, nem toda pessoa com TPA é um assassino ou serial killer.”

“Até hoje, não se sabe de fato o que os tornam como são, mas indicações de aspectos biopsicossociais. Isto é, uma propensão de aspectos biológicos, com aspectos emocionais do próprio indivíduo aliado com as condições ambientais e sociais”, conclui.

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