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Esporte e inclusão: atleta com autismo treina e compete pelo vôlei de Forquilhinha

Crysthian Clemente de Souza, de 14 anos, disputou a Liga Voleibol de SC com a equipe Sub-15

Incentivar a prática do vôlei, educar e ensinar o caminho do esporte para adolescentes dos 9 aos 18 anos. Esse é o principal objetivo do vôlei de Forquilhinha/Associação de Pais e Amigos do Vôlei de Forquilhinha (APAV), que existe há mais de 20 anos e atende mais de 500 atletas. Nos últimos meses, a inclusão trouxe um novo talento para as quadras do projeto.

O atleta da categoria Sub-15, Crysthian Clemente de Souza, de 14 anos, possui Transtorno do Espectro Autista (TEA) e vem descobrindo no vôlei a sua nova paixão. “O interesse pelo vôlei foi através de uma boa conexão entre família e a Escola de Educação Básica Luiz Tramontin, local em que ele estuda. A direção da instituição de ensino conversou comigo e informou que o esporte seria bom em relação a coordenação motora do Crysthian. Além do desenvolvimento na coordenação também ajudaria na socialização”, conta a mãe de Crysthian, Gislaine de Souza Clemente.

Moradores de Forquilhinha, o atleta começou a treinar com o grupo de atletas e se sentiu acolhido. “Acho importante colocar que a inclusão do Crysthian no esporte foi bom para ele e bom para os outros adolescentes para saber como lidar, pois muitas pessoas não sabem que é possível crianças com autismo participarem de algumas atividades que pra eles são comuns, mas para o Crysthian tem suas determinadas limitações”, comenta Gislaine.

O atleta foi diagnosticado com autismo aos 2 anos de idade, porém com grau leve. “Sempre teve acompanhamento com neurologista, psicóloga, psicopedagoga e agora com fonoaudióloga”, detalha a mãe.

Primeiro campeonato

O atleta disputou a segunda etapa da Liga Voleibol de Santa Catarina, em Florianópolis. A equipe disputou quatro jogos, conquistou três vitórias e apenas um resultado negativo. “Ver ele viajando sozinho foi uma conquista minha e dele. Ver ele tendo essa autonomia é muito importante. Hoje ele acredita nele mesmo, na sua capacidade e no seu potencial. Meu filho sabe que ele pode fazer o que quiser mesmo com suas limitações”, ressalta a mãe.

Gislaine destaca que ver Crysthian em um time de vôlei e se encontrando com o esporte é algo especial. “Há muito tempo pensei que meu filho não tinha capacidade de muitas coisas. Hoje eu sei que ele pode sim conquistar algo muito maior”, afirma. O técnico Jean Bonetti também é professor de Crysthian na escola. “É um momento muito especial poder recebê-lo no vôlei de Forquilhinha. Nosso objetivo é mudar a vida das pessoas pelo esporte e estamos conseguindo. O vôlei masculino iniciou no ano passado, mas já estamos colhendo ótimos frutos com conquistas de campeonatos. Com toda certeza, acolher e ver a evolução do Crysthian é nossa maior conquista”, observa.

A técnica Kaylane Bonfanti comandou o time masculino na Liga Voleibol de Santa Catarina, em Florianópolis, e falou sobre a importância da inclusão. “Os atletas receberam o Crysthian muito bem e isso foi importante para todos. Ele já tem uma evolução visível no voleibol e, com certeza, vai melhorar a cada dia. Mas aqui estamos mais interessados no ser humano Crysthian do que propriamente no voleibol, que é uma consequência. Ele participou e ajudou o time masculino a chegar na final da Série Ouro da Liga Voleibol de Santa Catarina, ou seja, é só o começo de uma linda trajetória”, garante.

Psicóloga fala da importância da interação com adolescentes

O autismo é caracterizado, principalmente, por falhas na comunicação e na interação com pessoas, e junto com esses atrasos em se comunicar e interagir, existem – no maior ou menor grau – alguns comportamentos peculiares característicos, como interesse por rodas, comportamentos repetitivos, andar nas pontas dos pés e não corresponder aos chamados.

A psicóloga Ester Rosa ressaltou a importância da prática de esporte para um adolescente. “Quando falamos da importância do exercício e prática de esportes para pessoas autistas, podemos destacar inúmeros benefícios. O voleibol, por ter um caráter interdisciplinar, ou seja, que trabalha diversas áreas e sistemas dentro do nosso corpo, irá ajudar tanto na saúde física quanto na saúde mental das pessoas com autismo. Além disso, se o esporte vier em conjunto com às terapias corretas, com uma equipe multidisciplinar, o voleibol poderá auxiliar no desenvolvimento de diversas habilidades e no reforço de comportamentos positivos, como por exemplo, em uma maior interação social, uma maior capacidade para desenvolver as habilidades cognitivas e também motoras, além de autoconfiança e autoestima do mesmo”, detalha.

Ester comentou que as interações e inclusões sociais entre adolescentes podem contribuir de forma significativa para a aprendizagem efetiva de habilidades e conteúdos. “Ser aceito sem nenhum tipo de preconceito, principalmente na adolescência, é muito importante, pois através dessa interação entre colegas haverá uma construção significativa de relacionamentos interpessoais, comunicação e desenvolvimento cognitivo para o adolescente autista. O papel que esses adolescentes estão fazendo, é incrível, pois a inclusão do mesmo irá o estimular a interagir mais socialmente. Participar de jogos e momentos de hobbies, com certeza, irão contribuir de forma positiva em sua autoestima, nas habilidades cognitivas, a controlar as emoções e trará uma motivação cotidiana ao mesmo”, pontua.

Crysthian escreve por carta seu amor pelo vôlei

Crysthian tem demonstrado seu amor por meio da escrita. Ele contou em uma carta para sua família o amor pelo esporte. “Gosto muito do vôlei porque tenho muitos amigos e eles gostam muito de mim lá e conversam comigo”, escreveu. O atleta ainda citou os fundamentos aprendidos durante os treinos como manchete, saques e bloqueios.

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