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Desabamos no ranking da felicidade. Talvez isso não seja tão ruim

Enxergar o tamanho do problema é o primeiro passo para a busca de soluções adequadas

Seria uma notícia para lamentar. Em 2023 o Brasil caiu 11 posições no ranking anual dos países mais felizes do mundo, divulgado há poucas semanas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Agora ocupamos o 49º lugar, nossa pior colocação desde que a lista começou a ser divulgada, em 2012. Mas, para além da evidente constatação de que muita coisa não vai bem por aqui, será que podemos extrair algum aprendizado dessa queda?

O levantamento é feito a partir de seis indicadores: PIB per capta real, assistência social, expectativa de vida saudável, liberdade para fazer escolhas, generosidade e percepções de corrupção. A julgar pela distância que nos encontramos dos primeiros colocados da lista – Finlândia apareceu pela sexta vez na primeira posição – parece que o que também está caindo é a ficha do brasileiro.

Por muito tempo, nos reconhecemos como o país do carnaval, do futebol, da alegria e do calor humano, da miscigenação e diversidade cultural, das riquezas naturais… Em certa medida, essa visão bonita tem razão de ser, mas historicamente serviu principalmente como estratégia discursiva para mascarar as enormes contradições do país.

Claro que ninguém em sã consciência iria comemorar nosso desabamento no ranking da felicidade, mas isso talvez sinalize que estamos acordando para a necessidade de uma perspectiva mais realista sobre nossa condição, o que é bom, afinal, ninguém soluciona um problema que não percebe.

Costuma ser dolorido encarar o desmoronamento da fantasia. É um processo pelo qual individualmente boa parte de nós passa. É a travessia da infância para a vida adulta, quando se passa a enxergar melhor os próprios potenciais e limites. É duro perceber que não somos tão onipontentes quanto pensávamos, mas é também libertador olhar para os desafios com uma visão menos fantasiosa do que se é capaz de alcançar e fazer, porque também as expectativas ficam menos opressivas.

Quando digo que pode não ser tão ruim o tamanho da nossa atual infelicidade é porque talvez estejamos um pouco mais despertos. Só age para mudar a realidade quem está com os olhos bem abertos.

 

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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