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Batalha a ser vencida: dobram números de feminicídios em SC

Em 2022, 29 mulheres foram vítimas de feminicídio no Estado. No mesmo período do ano passado, foram registrados 13 casos. Dados preocupam autoridades

O primeiro semestre de 2022 fechou com um alerta para os dados de feminicídios em Santa Catarina. Os números duplicaram, se comparados com os do mesmo período do ano passado, e assustam as autoridades, duplicaram. Entre janeiro até junho deste ano, 29 mulheres foram mortas por conta do gênero em Santa Catarina. No mesmo período do ano passado, a Polícia Civil registou 13 casos. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP/SC).

“Esses números assustam muito. Ano passado tivemos 55 feminicídios e este ano, até junho, temos 29. Se seguir na mesma proporção vai ultrapassar o do ano passado. Esse fenômeno da violência doméstica /feminicídio, temos estudado bastante, mas não conseguimos chegar em uma conclusão. Muito lógica, muito matemática sobre o porquê não diminuem considerando todo trabalho que vem sendo feito”, lamenta a desembargadora e coordenadora estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid) do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Salete Somariva.

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No Sul de Santa Catarina foram registrados três casos. O primeiro aconteceu em janeiro na cidade de Meleiro em que uma mulher, de 31 anos, foi esfaqueada pelo companheiro. A motivação teria sido que a vítima queria terminar o relacionamento e o homem não aceitava o término.

O segundo caso aconteceu em Morro da Fumaça em que uma mulher, de 40 anos, foi morta a facadas pelo ex-marido. A filha da vítima, de 15 anos, também foi atingida com golpes de faca. O crime aconteceu no dia 24 de janeiro. Após o feminicídio o homem acabou fugindo, mas foi preso no dia seguinte.

No dia 11 de abril aconteceu o terceiro feminicídio, em que a vítima foi agredida nesta data, mas morreu no dia 3 de junho, após 53 dias internada no Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, em Laguna. Uma mulher, de 49 anos, foi esfaqueada pelo companheiro. Os golpes atingiram a região do rosto e abdômen. O homem foi preso.

Para a desembargadora, existem três diretrizes que devem ser trabalhadas para combater a violência doméstica: educar as crianças, proteger as mulheres e reeducar os homens através de grupos reflexivos e outros trabalhos.

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Educar as crianças

Falar sobre violência doméstica com as crianças é uma maneira de evitar que meninas e meninos reproduzam comportamentos abusivos quando adultos. Também esclarecer que nenhum tipo de violência deve ser relativizado ou minimizado.

“Hoje para nós descontruirmos todo p alicerce do machismo, de que a mulher é propriedade dele, temos que nos concentrar nas crianças. Para não replicar no futuro um comportamento materno, para que eles cresçam com um novo conceito, uma nova visão. Temos que pensar em educar as crianças, para que elas aprendam a tratar bem as mães, avós e professoras”, explica Somariva.

É necessário abordar o assunto com cautela e antes que a criança possa aprender sobre de maneira equivocada. Esta ação com as crianças é um trabalho que será visto os resultados daqui alguns anos, quando adultos.

“Virá uma geração de homens maravilhosos, com outros viés, outros pensamentos, de igualdade, de que a mulher vai ser sua companheira e não sua propriedade. Mas para esses homens que já estão com esses pensamentos, é muito difícil. Só mudando pensamento coletivo.

Proteger as mulheres 

A Rede Catarina é um programa da Polícia Militar de Santa Catarina (PMSC) direcionado à prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher. O programa se sustenta em ações de proteção, no policiamento direcionado da Patrulha Maria da Penha e na disseminação de solução tecnológica. A PM auxilia mulheres que têm medida protetiva de urgência contra o companheiro.

As mulheres que participam da Rede Catarina possuem um botão de pânico no aplicativo PMSC cidadão. O botão pode ser acionado quando a medida for descumprida pelo homem.

“Assim que acionada, a Central de Emergências, dentro de todas as ocorrências que são geradas, cria uma tarja vermelha como prioridade e a viatura mais próxima se desloca. O endereço do celular da assistida vai aparecer no sistema e a PM chegará o mais rápido possível para atender a essa ocorrência dessa mulher”, explica o comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Sandí Sartor.

Reeducar os homens

Não basta as mulheres mudarem de atitude, sendo mais corajosas e empoderadas, se os homens permanecerem agressivos. Se não houver mudança das duas partes, não haverá melhora significativa na relação.

Segundo a desembargadora, geralmente os homens que cometem o feminicídio já trazem enraizado o machismo dos ancestrais. “Devemos trabalhar bastante na realização de grupos reflexivos de homens para se discutir as causas que levam a esses extremos do feminicídio. A redução de casos está na conscientização da sociedade como um todo, que homens e mulheres são iguais”, frisa a desembargadora.

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Palestra realizada pela Rede Catarina da Polícia Militar de Criciúma – Foto: Divulgação/PM

Aumento de casos de violência doméstica

Segundo a desembargadora, 90% dos feminicídios em Santa Catarina aconteceram pelo homem não aceitar o término do relacionamento. Antes do crime, iniciam as agressões dentro de casa com tapas, socos, xingamentos e empurrões, são os mais comuns.

“Eles não conseguem aceitar isso, pois para eles a mulher é propriedade dele. Quando ela diz “deu não suporto mais, vou embora”, vem o processo de intimidação. E quando eles sabem que ela realmente embora, comete o feminicídio. Têm homens que não tem medo de ir para o presídio, simplesmente prefere cumprir uma pena a permitir que a mulher tenha uma vida longe dele”, ressalta a desembargadora.

Os números de mulheres vítimas de violência doméstica também registraram um aumento expressivo em 2022. Somente nestes primeiros seis meses do ano, 6.864 mulheres foram vítimas desse crime em Santa Catarina. No mesmo período de 2021, foram cerca de 700 casos a menos. O maior índice foi em janeiro, quando o Estado registrou 1.536 vítimas de agressões.

Em Criciúma a Rede Catarina registrou 202 casos de violência doméstica. Se comparado com junho de 2021, em que foram 91 casos, a cidade registra um aumento de mais de 50%.

Mesmo com todo trabalho desempenhado pelos órgãos de segurança, é evidente o crescimento de casos de feminicídios em Santa Catarina. “Nossa batalha tem sido imensa e eu me entristeço cada vez que sei que um homem mata uma mulher. Parece que nós morremos um pouco também, pois nosso trabalho é imenso, incansável, diuturno e não se vê aquela redução como queríamos”, frisa a desembargadora.

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