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Tenho alunos curiosos

Quando o assunto é saúde mental, o desejo de saber das novas gerações traz um pouco de alívio e esperança

Tem acontecido com bastante frequência um fenômeno interessante nas minhas aulas. Há mais de uma década atuando como professor no ensino superior em cursos de Comunicação e Psicologia, me relaciono com muitos jovens que têm de dezoito a vinte e poucos anos. Há exceções fora dessa faixa, mas são poucas.

O interessante é que nas aulas de Comunicação – Jornalismo e Publicidade e Propaganda – basta surgir qualquer pequena brecha para temas que envolvem mistérios e encantos do psiquismo humano para meu roteiro de aula virar de cabeça para baixo. As perguntas começam, o envolvimento da turma ganha proporção, e tem início meu desafiador – e delicioso – malabarismo de tentar conectar as questões dos alunos no campo da Psicologia e Psicanálise com o tema da aula de Comunicação.

Como professor, é bom demais ver os olhos dessa juventude brilhando de curiosidade e interesse pelo conhecimento. Como psicólogo, dá um certo alívio constatar que estamos frente a uma geração muito mais aberta a falar de psiquismo e saúde mental do que, bem sabemos, as gerações anteriores.

Os séculos de tabus e preconceitos em relação aos transtornos mentais custaram muito caro à humanidade. Os estigmas ainda existem e tornam mais difícil a vida de muita gente. Por isso, quando digo que esses jovens parecem já não estar tão fechados ao assunto, tenho esperança de que poderemos fazer muito mais daqui para frente pelas pessoas afetadas por diferentes formas de sofrimento mental.

Já perdi as contas de quantas vezes falei nessa coluna que é bastante preocupante a perspectiva da Organização Mundial da Saúde para os próximos anos. Segundo a OMS, o alto índice de pessoas com transtornos mentais, especialmente, depressão, ainda vai resultar em muito sofrimento e até mesmo em elevados prejuízos sociais e econômicos. Não é possível reverter completamente o quadro, mas com certeza poderemos amenizar o impacto se nos mantivermos abertos a falar sobre o assunto como essa nova geração.

Não que a maioria dos jovens esteja de boa com a saúde mental. As pesquisas revelam que eles também andam bastante afetados com transtornos mentais. Mas havendo abertura para o diálogo franco, despido de preconceitos, e, sobretudo, havendo o desejo de trabalhar em busca de soluções, poderemos projetar um futuro mais otimista.

Desejo, portanto, que meus curiosos alunos inspirem muita gente por aí.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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