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“Pai e mãe fiquem tranquilos que em breve estou de volta em casa”

Família da menina sequestrada se manifestou sobre o crime, nesta quinta-feira, dia 24, em coletiva à imprensa, em Criciúma

Ainda assimilando aquelas incontáveis e, talvez, piores horas de suas vidas a família da menina de 11 anos, libertada na madrugada desta quinta-feira, dia 24, após ficar sob o poder de sequestradores por 24h, organizou, no final da tarde, uma coletiva à imprensa para se manifestar sobre o crime. Passava alguns minutos das 18h, quando os pais e a menina, entraram de mãos dadas na Igreja das Nações, no bairro Próspera, em Criciúma, onde aconteceu a entrevista.

Visivelmente emocionados, os pais agradeceram às manifestações de carinho e solidariedade recebidas durante os momentos de terror, o trabalho das forças de segurança e os órgãos de imprensa que respeitaram a preservação de algumas informações para que as investigações não fossem atrapalhadas. “É uma noite especial pra gente, pra cidade, por tudo que vivemos nas últimas 24 horas uma questão de honrar também quem esteve conosco durante todo esse tempo”, disse o tio da vítima, que também participou da coletiva.

O silêncio foi rompido, após a orientação da polícia de permanecerem reclusos até o desfecho do crime. “Agradeço muito às polícias pelo trabalho incrível, agradeço a imprensa por ter respeitado este momento, e o cuidado com as publicações e a todas as igrejas de Criciúma e do Brasil, de todas as religiões que entraram em corrente de oração”, disse o pai. “Não sabíamos mais o que fazer, como agir, recebi muitas mensagens e não pude responder. Coração de mãe sangra nesse momento. A gente nunca imagina que vais ser a notícia, no primeiro momento não conseguia acreditar que a história era conosco, fui abraçada pela Igreja, mas tive muitos momentos de desespero, mas tentava ficar bem e que o que eu estava sentindo, onde ela estava, sentia o mesmo”, falou a mãe ainda com a voz embargada.

Sem planos de mudança

Por ora, a família nega qualquer possibilidade de mudança de cidade, entretanto passarão a aplicar algumas orientações da polícia. “Essa questão das redes sociais, da exposição, que todos deveriam seguir, como não postar o local onde estão, que às vezes esquecemos, entre outras. Vamos levar a vida normalmente, com algumas alterações, não vamos nos mudar. Gostamos muito de viajar, já estudei nos Estados Unidos, temos ideia de fazer curso. Já havíamos recebido uma orientação de Deus, aqui na Igreja, de que iríamos para algum país, fazer algum tipo de obra, assim como já estive na África, mas não por conta do que aconteceu”,

Suspeitas

A família não consegue apontar qualquer suspeita que tenha motivado a ação criminosa. “Em princípio, não, pelo menos para chegar nesse nível de ação nunca pensamos, somos uma família que não tem inimigos, temos de longa data uma certa exposição na cidade, por conta da Igreja, da nossa agência, mais nada muito sério, alguma pessoa que possa ter causado esse mal”, sublinhou

O pior

Amparados pelo apoio policial e por familiares e amigos, o pai relata que em muitos momentos pensou no pior, mas que foi essa rede de apoio, além da fé, que ajudou a controlar o fator emocional. “Nossa mente divaga muito nessas horas, o delegado que veio nos orientar, o Yuri, nos falou que era muito normal nossas emoções oscilarem, então foi uma gangorra. Tenho muita fé em Deus, acreditava no final feliz, porque temos palavra de Deus, ela é um milagre, não tínhamos capacidade de gerar na medicina, e ela nasceu de um milagre. Somos seres que creem, mas também somos humanos, somos pessoas normais, Deus nos fez assim, então nessas horas de baixa, pensei no pior sim”, confessou.

Negociação pelo Instagram

Do momento do sequestro, que aconteceu no bairro Pio Correa, em Criciúma, foram seis horas de silêncio total, sem saber o paradeiro da garota, até que um primeiro contato foi feito, através de mensagem privada, pela rede social Instagram. “Eu coloquei o celular na mesa e computadores abertos em todas as minhas redes sociais esperando qualquer sinal. Então, às 6h, vocês não têm ideia da angústia, não tem como explicar o sentimento, o tempo para. Bate o desespero. Eu estava recebendo muitas mensagens privadas pelo Instagram e comecei a olhar uma por uma, na tentativa de encontrar alguma que pudesse levar a alguma informação”, descreveu.

 

“Pai e mãe fiquem tranquilos que em breve estou de volta em casa”

Na rede social Instagram as mensagens privadas são divididas entre os seguidores e não seguidores. Os não seguidores ficam em uma espécie de fila de espera, até que o dono da conta aceite a mensagem, o que trouxe um pouco mais de desafio na busca do pai.  “Eu estava recebendo milhares de mensagens perguntando o que estava acontecendo, então vou ter que ver uma por uma porque uma dessas pode ser dessas pessoas (criminosos), até que de fato, lá no meio recebi um perfil sem seguidores, com a mensagem “fique tranquilo estamos com sua filha”, na hora gelei. Tinha um áudio, era a voz dela dizendo que estava bem, a voz bem serena, porque ela tem uma capacidade emocional que nós não temos, dizendo “pai e mãe, fiquem tranquilos que em breve estou de volta em casa”, respirei. Antes tinha uma foto, que eu não tinha visto, com a foto da carta das exigências”, detalhou.

Entre as exigências estava tirar todas as informações das redes sociais do ar e o valor do resgate. O pai confirmou o valor de R$ 11 milhões. “Depois disso não houve mais contato algum, nada. Respondi, pedindo pelo amor de Deus, por favor. Faço o possível, embora não pudesse, mas nessa hora a gente tenta qualquer coisa, tentei negociar, já orientado, mas não obtivemos mais retorno algum”, completou.

Advogado

O advogado criminalista, que segundo a polícia, ao longo do dia, se ofereceu para colaborar fazendo uma interlocução com os criminosos, contatou o pai da vítima por volta das 10h da quarta-feira, dia 23. “A filha dele é muito amiguinha da minha, desde a primeira turminha que estudam juntas. Eu não tinha muito contato com ele, assim de cumprimentar, nem sabia qual era a área dele, mas nos víamos na escola das nossas filhas. Ele bateu lá, até não queríamos receber, porque por orientação não estávamos recebendo ninguém, ele pediu para falar com o delegado, colocaram eles em contato e eu não participei de mais nada”, informou. A polícia autorizou, com muita cautela, e ele fez contato com os sequestradores.

O trabalho de investigação, que levará a autoria e elucidação do crime, segue em operação comandada pelos delegados Yuri Miqueluzzi, da Delegacia de Investigação Criminal (DIC) de Criciúma e Anselmo Cruz, da Divisão Estadual de Investigação Criminal (Deic). Até o momento há uma pessoa presa suspeita de envolvimento no crime.

Menina pediu vez para falar

A imprensa poupou a menina de qualquer questionamento, mas ela pediu para falar. “Só queria agradecer a todos os policiais, a todas as orações e atenções que todos deram, era isso. Agradecer a mídia”, manifestou, firme e serena a garota.

 

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