Os desafios e dificuldades dos imigrantes em Criciúma; maioria vem da Venezuela
Encontro organizado pela Cáritas e Pastoral do Migrante tratou das dificuldades dos imigrantes no Brasil e foi realizado na Paróquia de Santa Bárbara em Criciúma
O Salão Parquial da Igreja de Santa Bárbara, em Criciúma, não estava tão cheio na manhã deste sábado, dia 12, mas estava, sim, recheado de histórias de superação. Através da Cáritas, uma associação da Igreja Católica, um encontro dos imigrantes foi realizado no local. Sentada em uma das mesas estava a venezuelana, Yadimar Molinett, de 31 anos.
Quem olha para ela, não imagina o grande trajeto e a luta que ela passou para chegar à cidade do Sul catarinense. Em busca de uma vida melhor, ela deixou o lar e os filhos, atravessou a Colômbia, passou pela BolÃvia até cruzar a fronteira para o Brasil. Há dois meses ela chegou em Criciúma.
“Estou aqui com parente, meus filhos estão na Venezuela. Espero conseguir trazer eles. Vim aqui trabalhar para ajudar que sou mãe e pai para eles. Ajudar que eles tenham uma vida melhor. Porque a situação está muito ruim na Venezuela. Está muito crÃtica. Por isso vim para cá”, explica ela. “Tenho um filho de nove anos, um de 13 anos e minha filha tem 18 anos”, completa.
Foi através da Cáritas que ela recebeu auxÃlio para buscar a documentação. Em especial, o Registro Nacional de Imigrantes (RNI) na PolÃcia Federal. Nesses dois meses, Yadimar fez uma entrevista e conseguiu um emprego na sessão do horti-fruti de um supermercado de Criciúma. Agora, nesta segunda-feira, dia 14, ela deve receber o RNI e estará liberada para começar o trabalho.
“Vim graças a minha sogra que me auxiliou no translado. Não foi fácil. Fiz a volta na Colômbia, passamos pela BolÃvia. Porque a fronteira Brasil e Venezuela está fechada. Cheguei aqui, conheci o padre Wilson, a Cáritas que tem prestado ajuda e estendido a mão. Recebi o convite para estar aqui e encontrar outros estrangeiros para falarmos das nossos dificuldades”, ressalta ela.
O encontro, realizado na Paróquia de Santa Bárbara, teve o objetivo de que os imgrantes expressem as princiapis dificuldades que vem enfrentando em Criciúma e no Brasil. Após a onda de imigração de haitianos há cerca de 8 anos, agora os venezuelanos são a maioria que busca no Brasil um recomeço.
“Ideia surgiu de uma construção com os imigrantes que auxiliamos e da ideia da igreja de acolher, integrar as pessoas e partilhar. Haitianos vieram há mais tempo, agora os venezuelanos estão vindo mais e queremos que eles possam sentar juntos, conversar e dizerem quais as maiores necessidades que eles tem, o que nós como Cáritas, como sociedade podemos auxiliar para que eles possam ter uma integração e também uma vida melhor. Quais as principais necessidades é a lÃngua, o emprego, a moradia, a escola, a saúde”, explica o presidente da Cáritas na Diocese de Criciúma, padre Wilson Buss. “Temos a participação da Pastoral do Migrante de Santa Catarina, também, neste evento”, completa.
Cáritas auxilia imigrantes
A Cáritas tem prestado um grande auxÃlio aos imigrantes. Seja com documentação, alimentação, móveis e busca de emprego. Especialmente com os imigrantes recém-chegados que não sabem que documentos devem retirar na PolÃcia Federal.
“Estamos sempre acompanhando. Na documentação temos auxiliado de modo especial o andamento com a PolÃcia Federal para que possam retirar o Registro Nacional de Imigrantes, que precisa ser agendado. Orientamos outros documentos que precisam fazer. Incentivamos que procurem a escola do bairro onde irão residir”, destaca o padre. “Ajudamos, também, com alimentos ou utensÃlios de cozinha, móveis quando alugam uma casa e não tem nada. Temos conseguido tudo através de doações um fogão usado, botijão, roupeiro, louça, cama, entre outros”, completa Wilson.
Entre as temáticas discutidas pelos imigrantes no encontro estão ‘Motivações para migrar para o Criciúma’, ‘Moradia-Emprego-Educação’, ‘Documentação’ e ‘Mulheres imigrantes e refugiadas: prevenção e enfrentamento à violência, especialmente, à violência doméstica’. Durante a manhã, os participantes foram divididos em mesas, cada uma com um desses temas. Já a tarde, a Pastoral do Migrante realizou uma atividade com os imigrantes.
“Não queremos venezuelanos na rua”, afirma imigrante
Faz três anos anos que William Rafael Figueroa, de 59 anos, a esposa o filho de 12 anos e as filhas saÃram da Venezuela, foram para o Perú e, depois, vieram ao Brasil. Inicialmente moraram em São Paulo (SP) por seis meses, até vir para Criciúma. Hoje ele tem dois netos brasileiros. Já que uma das filhas casou e mora em Curitiba(PR) e outra casou e vive, também, em Criciúma.
“Viemos da venezuela que está ruim, todo mundo sabe isso. Eu sou advogado, minha mulher professora e a crise nos obrigou a sair do paÃs, sobretudo nosso menino de 12 anos. SaÃmos fomos ao Peru, ficamos seis meses, mas não gostamos. Nos falaram do Brasil e viemos há três anos. Moramos seis meses em São Paulo (SP) e depois falaram de Santa Catarina. Temos dois anos e meio aqui procurando refazer nossa vida, trabalhando para conseguir algo melhor”, conta ele.
Nessa batalha, William fez curso de soldagem e trabalhou em uma empresa por 14 meses. Até ele e a esposa decidirem empreender com uma escola de espanhol. Veio a pandemia da Covid-19 e se foram os alunos. Novamente tiveram que recomeçar e ele voltou a atuar na soldagem até descobrir um problema de saúde. Hoje, ele auxilia com a Cáritas outros imigrantes que chegam em Criciúma com documentação, busca de moradia, entre outros.
“Estamos organizando uma associação de imigrantes, com a ajuda da Cáritas, estamos consolidando um projeto para não só pedir ajuda, uma sacola de comida, queremos acrescentar algo, ajudar que o Brasil siga crescendo. Retribuir tudo que o Brasil deu para nós. Temos projeto para dar aulas de espanhol, fazer empreendidmentos. A Cáritas, da Igreja Católica, tem ajudado muito os imigrantes”, destaca.
A ideia da associação é que os venezuelanos tenham, além de auxÃlio, uma fonte de renda. “Não queremos venezuelanos na rua. Quando vemos venezuelano na rua falamos com ele, pegamos documento para fazer currÃculo, vamos à PolÃcia Federal, vamos à empresa e tiramos da rua. Não queremos dar essa imagem. Queremos mostrar que somos gente boa que podemos ajudar o Brasil”, conta ele. “Com a associação queremos ser autosuficiente, podemos empreender e fazer uma empresa, microempresa para dar emprego as pessoas. Quem não tem formação acadêmica, fazer um convênio com instituição de ensino, organizar para conseguirmos viver, queremos produzir”, finaliza ele.
Ao menos 130 famÃlias de venezuelanos vivem em Criciúma, atualmente. Em novembro de 2021 esse número era de 77, de acordo com um levantamento prévio organizado por William.