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Neonazismo: denĂșncias de atividades crescem 60% na internet

Monark e Adrilles Jorge foram acusados de apologia ao nazismo durante esta semana

As redes sociais foram tomadas por discussĂ”es e polĂȘmicas nesta semana sobre o nazismo. O youtuber e influenciador Bruno Aiub, conhecido como Monark, defendeu a criação de um partido nazista no Brasil durante o Flow Podcast. AlĂ©m desse caso, o comentarista polĂ­tico da Jovem Pan, Adrilles Jorge, foi acusado de fazer um gesto associado Ă  saudação “sieg heil”. Ambos foram desligados das suas empresas.

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De acordo com a Safernet, organização nĂŁo-governamental que mapeia açÔes de crimes e violaçÔes aos direitos humanos na internet, as denĂșncias de atividades neonazistas no mundo digital aumentou 60,7% em 2021, quando comparados aos dados de 2020. No total, a ONG recebeu e processou 14.476 denĂșncias anĂŽnimas.

Segundo o doutor em histĂłria e professor da Unesc, JoĂŁo Henrique Zanelatto, o nazismo foi um partido polĂ­tico e foi criado na Alemanha apĂłs a primeira guerra mundial. “Ele Ă© um tipo de fascismo. Foi criado em 1919 com o nome de Partido Nacional Socialista. No ano seguinte, Hitler foi se configurado uma das principais lideranças do partido e mudou o nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores AlemĂŁes, com o objetivo de atrair operĂĄrios”, explicou.

A ideologia e o partido começaram a crescer somente em 1929 com a crise mundial. O capitalismo entrou em crise e a partir desse momento o partido nazista se fortaleceu. Entre as principais características, o professor destaca algumas: utilização de símbolos e rituais, busca um passado glorioso, exaltação do líder, cooperativismo (estado estå acima de tudo), elegem inimigos que devem ser derrotados, antiliberal e anticomunismo, ultranacionalismo, antissemitismo (superioridade alemã) e investimento em propagandas para construir a ideia do antissemitismo.

Zanelatto explica ainda que o movimento representou um momento de extrema violação dos direitos fundamentais de convivĂȘncia social, como a vida, liberdade e a justiça. “Defender o nazismo Ă© se contrapor a esses direitos. Temos que combater todos as narrativas que fazem apologia a isso. Vivemos em uma democracia que possui problemas, mas temos liberdade”.

Liberdade de expressĂŁo?

Para a advogada criminalista e professora de direito penal, Aline Fernandes Marques, a fala do apresentador Ă© justificado pela suposta existĂȘncia de liberdade de expressĂŁo no Brasil. “Essa liberdade de expressĂŁo Ă© o que precisa ser conversado. De fato, vivemos em uma democracia em que a Constituição Federal nos garante diversos direitos, entre eles, a liberdade de expressĂŁo. Acontece que quando a minha fala defende um movimento que Ă© ofensivo, agressivo, que classifica quem deve ou nĂŁo viver, minha expressĂŁo estĂĄ extrapolando o meu direito e atingindo o direito de outras pessoas a vida”, explicou.

No Brasil, a Legislação que cuida de situaçÔes relacionadas a preconceito Ă© a Lei 7.716 de 1989, relacionado a condutas que incitam e criam o preconceito. “É importante entender que para existĂȘncia de um crime Ă© necessĂĄrio em regra que exista a vontade de cometer o ato, alĂ©m da expressĂŁo clara de que a uma ligação da conduta que a pessoa estĂĄ fazendo com aquele crime que estĂĄ em lei” destaca a advogada.

Aline ressalta ainda a importĂąncia de sempre lembrar o que foi o movimento nazista. “Quero enfatizar que mesmo se as condutas nĂŁo forem consideradas crimes, elas sĂŁo imorais. Defender um movimento nazista Ă© no mĂ­nimo desumano. Talvez algumas pessoas estejam minimizando a gravidade dessa situação, por isso recomendo a leitura do DiĂĄrio de Anne Frank que acabou morta pelo movimento nazista”.

O que dizem os envolvidos

Monark e Adrilles utilizaram as redes sociais para pedir desculpas e se defender. “Eu posso ter errado na forma como eu me expressei, mas oque estĂŁo fazendo comigo Ă© um linchamento desumano. Reitero que um nunca apoiei a ideologia nazista e que a considero repugnante. A ideia defendida Ă© que eu prefiro que o inimigo se revele do que fique nas sombras”, escreveu Monark No Twitter.

JĂĄ Adrilles destacou que em nenhum momento quis fazer a saudação “sieg heil”. “A insanidade dos canceladores ultrapassou o limite da loucura. Depois de um discurso meu veemente contra qualquer defesa de nazismo. Um tchau Ă© interpretado como um saudação nazista. Fui demitido da Jovem Pan. Por dar um tchau deturpado por canceladores. Infelizmente a pressĂŁo de uma turba canceladora e sua sanha de sangue surtiram efeito”, escreveu.

MP abre investigação

A Promotoria de Justiça de Direitos Humanos instaurou na terça-feira, dia 8, um inquĂ©rito civil para “investigar a conduta de Bruno Aiub e do Flow Podcast na defesa da criação de um partido nazista e da divulgação de pensamento antissemita e a possĂ­vel existĂȘncia de dano moral coletivo ou difuso ou mesmo dano social”.

A fala de Aiub num podcast transmitido ao vivo para mais de 400 mil pessoas, foi questionada por entidades como o Museu do Holocausto, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita de São Paulo.

Os promotores Anna Trotta e Reynaldo Mapelli JĂșnior determinaram a expedição de ofĂ­cio ao YouTube, solicitando a retirada do vĂ­deo objeto de investigação, bem como o encaminhamento da relação com todos os comentĂĄrios realizados durante a apresentação, ao vivo.

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