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“De perto, ninguém é normal”

Quem de nós não fantasia ao menos um pouco para poder enfrentar a dureza da vida?

Tivemos nesta semana uma data importantíssima no campo da saúde mental. Em 18 de maio, celebramos o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, um marco da Reforma Psiquiátrica Brasileira, que começou na década de 1970.

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Foi longo o percurso até compreendermos que o paciente com sofrimento psíquico grave é, antes de tudo, um ser humano e um cidadão digno de direitos básicos, como a liberdade e a vivência em sociedade. Essa consciência e anos de luta envolvendo entidades e movimentos sociais, universidades e profissionais de saúde mental culminaram com o fechamento de manicômios, com a criação de leis de proteção e com a implantação de uma rede de saúde mental e atenção psicossocial.

Durante séculos, a loucura foi usada para justificar práticas de exclusão e violência. Não faltam registros históricos de pacientes psiquiátricos internados em manicômios e outras instituições dessa natureza vivendo em condições sub-humanas e privados de direitos básicos.

Felizmente, essa realidade veio mudando nas últimas décadas, graças às conquistas propiciadas pela Reforma Psiquiátrica. Mas muito ainda precisa ser feito. A prova são os inúmeros tabus que enfrentamos até hoje em relação à saúde mental. Um deles é a ideia de que existe um conceito do que é ser “normal”.

No passado, a noção de normalidade foi usada como argumento para segregar os que supostamente não se encaixavam nessa categoria. Mas quem de nós nunca se sentiu dividido ou experimentou sentimentos e pensamentos “estranhos”, que não combinam com quem supomos ser? Quem de nós não fantasia ao menos um pouco para poder enfrentar a dureza da vida?

Longe de minimizar o sofrimento psíquico grave e a importância de uma ampla assistência a esses casos, quero reforçar que os velhos motivos que justificaram a exclusão não se sustentam mais. Ninguém pode sofrer qualquer tipo preconceito ou mesmo privação de direitos por sua condição mental.

Encerro retomando o título da coluna, que nos faz uma bela provocação com o verso de “Vaca Profana”, canção de Caetano Veloso:

“De perto, ninguém é normal”.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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