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Criciúma registra mais de 130 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2022

Psicóloga aponta sinais que crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual ou estupro de vulnerável podem apresentar

Em Criciúma, de janeiro a setembro deste ano, 138 crianças e crianças já sofreram violência sexual. Os números levam em conta os casos de abuso sexual ou estupro de vulnerável atendidos pelo Conselho Tutelar do município.  

Chama atenção os casos envolvendo alunos e professores. Em Santa Catarina, somente este ano, 43 professores estão sendo investigados por assédio em escolas. Há casos até mesmo de profissionais que levaram alunos a motéis. 

Mas, como identificar se uma criança está sofrendo abuso? Será que ela apresenta alguma mudança no comportamento? A psicóloga infantil Maria Eduarda Pacheco afirma que em alguns casos a vítima pode, sim, apresentar sinais. Mas isso depende da idade e da maturidade da criança e do quanto ela entende que o que está acontecendo com ela é uma situação de abuso.

“Se esse abuso parte de um professor, que muitas vezes a criança tem nessas pessoas uma figura de segurança, a vítima não consegue compreender ainda como um abuso. Por ser uma figura em quem confia, ela só espera coisas boas e pode não interpretar a ação como um abuso”, explica a psicóloga.

Ainda conforme a profissional, quando o abuso não vem dos professores, mas vem de colegas, os sinais que as vítimas apresentam são mais fáceis de identificar, alguns deles são:

  • Fazer queixas físicas e emocionais;
  • Não querer mais ir para a escola;
  • Reclamar da escola, principalmente se era uma criança que sempre gostou e de uma hora pra outra parou de gostar;
  • Ficar mais ansiosa na aula;
  • Ficar recolhida, mais próxima de quem ela acredita passar segurança, por exemplo, perto da diretoria ou até mesmo, dentro da sala durante os intervalos.

Crianças e adolescentes quem compreendem que estão sendo abusada sexualmente, também pode apresentar os mesmos sinais acima citados.

Esses sinais podem ser observados pelos pais e parentes das vítimas, mas os colaboradores da escola também têm um papel importante nesse processo. Algumas ações que podem ser praticadas durante a rotina dentro da escola, ajudam a identificar possíveis abusos.

“O diretor da escola tem que estar sempre atento, pensar no perfil do profissional que integra o quadro. Cuidar com doces que são oferecidos aos alunos, já que isso pode ser uma moeda de troca. Observar se um professor fica muito perto de uma criança e caminhar pela escola durante os intervalos. Isso ajuda a identificar se alguma criança está com comportamento diferente”, afirma o presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) de Criciúma, Luciano Pereira.

Identificado o abuso, o que fazer?

Quando a escola identifica que alguma criança ou adolescente está passando por alguma situação de abuso sexual ou violência, deve agir rapidamente. “A escola precisa fazer uma denúncia, acionar os pais da vítima e o Conselho Tutelar, para tomar as medidas de proteção cabíveis da criança em risco. O Conselho então vai encaminhar para os órgãos de proteção e ver quais os danos causados pelo abuso”, frisa a psicóloga. 

Maria Eduarda também ressalta que a criança pode sentir medo de contar para os pais que está sofrendo um abuso na escola. “Às vezes ela pode se sentir culpada e até ter medo de contar, imaginando que os pais não vão acreditar, pelo fato do professor ser uma autoridade”.

Criciúma visa capacitar profissionais para atender as vítimas

A Prefeitura de Criciúma através do CMDCA está promovendo uma ação para auxiliar nos casos de violência ou abuso sexual contra crianças e adolescentes. Profissionais que atuam em áreas que atendem crianças, como postos de saúde, escolas e hospitais, serão capacitados para fazer a escuta especializada em qualquer local que a criança chegar relatando que foi vítima. 

“Quando uma criança que for vítima de abuso chegar em um local e contar algo, terá alguém para fazer essa escuta. O objetivo é que não precise ir até uma delegacia. O profissional vai realizar escuta e fazer a denúncia. O projeto está em processo, aguardando resolução para ser realizada capacitação”, pontua o presidente do CMDCA.

Conforme a psicóloga Maria Eduarda Pacheco, é fundamental que um profissional qualificado ouça a vítima. Pois quando o adulto não está preparado para atender aquela criança ou adolescente, pode direcionar perguntas erradas, podendo até confundir as memórias da situação abusiva. 

“Isso pode fazer com que ela responda coisas que não aconteceram e acaba criando uma falsa memória nessa criança de algo que não aconteceu, mas que por toda a situação de vulnerabilidade que está vivenciando, ela acaba acreditando que sim, que aquilo aconteceu. Por isso, tem que deixar que ela traga os detalhes”, explana a psicóloga, frisando que todo cuidado é necessário.  

Aplicativo é aliado no combate a violência sexual

Um espaço seguro para que crianças e adolescentes saibam mais sobre seus direitos, aprendam a identificar diferentes tipos de violência e busquem ajuda. Este é o objetivo do aplicativo “Sabe – Conhecer, Aprender e Proteger”, interligado diretamente ao Disque 100, da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH).

A plataforma foi personalizada para dois tipos de público: uma interface é voltada para crianças a partir de seis anos — com conteúdo mais direto e simples; a outra, é voltada a adolescentes a partir de doze anos. 

Para os maiores de doze anos, ao acessar o aplicativo é possível aprender sobre como identificar diferentes tipos de violência, como pedir ajuda – para ele mesmo ou para outra criança. Os vídeos completam a experiência e abordam temas como exposição na internet, abuso sexual, exploração infantil e direitos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na aba “Fale com a Gente”, é possível tirar dúvidas por meio de mensagem via chat ou por chamada de vídeo. Além disso, na aba de denúncias, será possível conversar diretamente com um dos atendentes do Disque 100.

O aplicativo Sabe está disponível para smartphones no GooglePlay e no site sabe.mdh.gov.br.

Errata: Erramos ao divulgar que foram 166 crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual em Criciúma. O número correto é 138. Matéria atualizada em 17/11/2022.

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