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Covardia: aumento no abandono de animais é sentido no Sul

Protetores de animais relatam ter sentido aumento no abandono de animais que é crime; conheça as histórias de voluntários e saiba o que faz o poder público nestes casos

O professor de Educação Física, Marcelo Sóbis, como de costume, colocava água e ração para os animais de rua em uma parada de ônibus, quando ouviu um choro. Ele e a namorada foram ver da onde vinha e encontraram uma cachorrinha amarrada em uma árvore na Praça da Chaminé no bairro Próspera, em Criciúma.

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“Fomos lá ver do que se tratava e estava lá uma cachorrinha presa em uma corrente e abandonada. Pelo relato de um morador local, que não podia fazer nada pelo cachorro, ela estava ali a dois dias amarrada. Ele, infelizmente, não viu quem a abandonou. Então fizemos o resgate”, conta.

Marcelo compartilhou o resgate nas redes sociais. Muitas pessoas se comoveram com a cena que infelizmente não é rara. Defensor da causa animal, a cachorrinha foi uma das tantas que ele resgatou em Criciúma.

“Infelizmente, o abandono, principalmente, em Criciúma é muito comum. Então acabo fazendo muito isso, não é algo que me orgulho. Porque seria muito mais prazeroso que essas coisas não acontecessem, mas é muito gratificante ver um animal abandonado ganhando um lar”, conta o professor.

Na casa onde mora, com os pais, ele possui quatro cachorrinhas e não tem mais espaço. Por isso auxilia protetores de animais que os acolhem. Em 2021 ele realizou cerca de 15 resgates.

“Do ano passado para cá aumentou muito os casos de abandono. Então todo mês tem isso. Eu ainda faço pouco perto de outras cuidadoras”, destaca. “A cachorrinha resgatada está aos meus cuidados, vou levar ela no veterinário, castrar e depois vou por para adoção”, completa Marcelo.

Veja o resgate:


Um amor divino

Uma dessas protetoras, bastante conhecida, é Maria Claudete Clemes, a Detinha. Moradora do bairro Pinheirinho em Criciúma, há 15 anos ela se dedica à causa animal. Ela aluga uma casa, na frente de onde mora, e mantém 113 cachorros que foram resgatados de situação de rua. Destes, 15 são paraplégicos, 25 idosos e cinco são cegos.

“O que me move é o amor deles, que é insubstituível. O amor deles dá para trocar só pelo amor de Deus”, fala emocionada.

Segunda ela, houve um grande aumento no abandono durante a pandemia da Covid-19. Ela calcula que realizou cerca de 100 resgates no último ano. Toda semana ela é chamada para um novo caso.

“Resgatamos uma recentemente que estava sem olhos, estava tomado pelos bichos. Eu até dei uma parada porque não tem onde abrigar”, afirma. “Eu pensava que com a pandemia as pessoas iriam ter mais amor pelos animais, mas parece que tiveram desamor”, completa Detinha.

Detinha cuida de 113 cachorros que foram resgatados e estão para adoção no Pinheirinho – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

Muitas pessoas a procuram em busca de deixar os animais. “Agora com a pandemia foi muito abandono, muito abandono mesmo.’Porque meu tio morreu tinha 3 três cachorros ninguém quer’, abandona. Procuram a gente para ver se tem lugar, tu não tem lugar, daqui a pouco tu sabe que aquele cachorro tá abandonado. Tá muito grande o abandono nas praias, aqui em todos os bairros”, ressalta.

Aposentada, Detinha conta com a ajuda da irmã Rosileia Clemes, a Leia, que cuida do brechó em que elas vendem roupas para custear o cuidado dos animais. Além disso, ela conta com uma funcionária para auxiliar na limpeza da casa alugada.

“Dinheiro não tem, mas tem muito amor. Contamos com ajudas, também, de pessoas que doam rações, entre outros para manter. Estamos vendo agora para comprar essa casa, para que possamos fazer um canil de verdade. E estamos vendo se conseguimos arrendar um sítio para colocar os cachorros maiores e saudáveis, porque hoje estão todos aqui”, projeta ela.

Todos os animais do local estão para adoção. “Fazíamos bastante feirinha, mas agora não estou mais fazendo muitas. Quem quiser adotar só entrar em contato. Falo para virem aqui e aí a pessoa escolhe o cachorro e o cachorro escolhe a pessoa, também”, ressalta. O telefone para contato é (48) 9993-8905.

Aumento no abandono é sentido, também, no litoral

O aumento no número de animais abandonados foi possível detectar, não apenas em Criciúma, mas, principalmente, nas praias de Jaguaruna, Balneário Rincão, entre outras. A voluntária da causa animal, a aposentada Emiliana Maria Duarte, a Myla, destaca que houve aumento de abandono em algumas comunidades do Rincão.

“Em algumas comunidades aumentou sim. Na Lagoa dos Freitas as protetoras já não tem mais onde colocar. Na Pedreira, também, é constante. Na beira-mar, este ano, voluntários recolheram alguns”, lembra.

Myla atua mais focada na organização de feirinhas de adoção. Além de auxiliar as protetoras de animais com ração e medicamentos. “O abandono é constante independente de ser inverno ou verão. Aqui enxugamos gelo. Existem vários protetores que acolhem e vamos cuidando para depois doarmos”, comenta.

Uma das formas de diminuir as despesas é juntando tampinhas de garrafa pet, latinhas de cerveja, entre outros. “Juntamos para depois venderem e com o dinheiro compramos medicamentos e ração”, explica.

Olivia começou a resgatar animais há seis anos em Balneário Rincão – Foto: Arquivo Pessoal

Apaixonada por animais,a protetora Olivia Gonzaga, moradora do Rincão, também notou um aumento no abandono de animais. “Cada vez mais. Por falta de responsabilidade dos tutores. Mais fácil abandonar do que cuidar, ter gastos, entre outros”, comenta.

Há seis anos ela iniciou realizando o resgate de uma pitbull que adotou. Atualmente, por falta de condições financeiras, ela não realiza mais resgates, mas mantém sete cães em casa.

“Sempre fui louca por bichos. Há seis anos passamos por uma rua e sempre tinha uma pitbull ali. Perguntamos se era de alguém, nos informaram que não e que tinham dado pauladas nela para tentar matar. Então fomos para casa pegamos coleira e ração e a resgatamos. Adotamos ela, morreu ano passado. Desde então comecei a fazer, pegava cães abandonados e cuidava, castrava e colocava para adoção, mãezinhas grávidas”, lembra ela.

Castração e microchipagem, as ações do Poder Público

Em busca de lidar com a questão do abandono de animais, cada Prefeitura realiza ações diferenciadas. No Balneário Rincão, é possibilitado para pessoas inscritas no CadÚnico da Assistência Social, ONG e protetores independentes a castração do animal.

“Fazemos a castração para controle, apenas. Podem nos procurar para realizar a castração nos animais pessoas carentes inscritas no CadÚnico, ONG que hoje temos uma no município a OPA e protetores independentes que, por exemplo, tem um animal na frente de casa que alimenta, mas que não é dele”, explica o Engenheiro Ambiental da Prefeitura do Balneário Rincão, Paulo Amboni.

As castrações são realizadas todas as quarta-feiras. “Iniciou em 2017 e temos uma média de 50 a 60 animais castrados por mês”, comenta.

Maior número de animais abandonados no verão

A diretora de Meio Ambiente de Criciúma, Anequésselem Fortunato, explica que durante o verão aumentam os casos de abandono de animais. “Agora no verão teve aumento no abandono de animais domésticos cães e gatos, como normalmente acontecem nas temporadas de veraneio”, ressalta.

Núcleo de Bem-Estar Animal realiza os atendimentos em Criciúma – Foto: Divulgação/Arquivo/NBEA

Os animais abandonados, em Criciúma, são atendidos pelo Núcleo de Bem-Estar Animal. Além da castração, os animais são microchipados e posteriormente colocados para adoção.

“Realizamos uma média de 3 mil castrações por ano desde 2019, quando o Núcleo foi inaugurado. Estaremos chegando a 9 mil castrações em abril”, destaca a diretora. “Com esse trabalho percebemos a redução da população animal nas ruas. Antes tinha muito mais solto”, completa.

O trabalho no Núcleo é realizado em parceria com as diversas ONGs de proteção animal existentes em Criciúma. “Nós trabalhamos em conjunto com as ONGs, elas têm uma cota para castração mensal, elas mesmas podem fazer cadastro. Leva para castração, microchipagem e depois coloca para adoção. Principalmente, através das feirinhas de adoção. É um trabalho em parceria”, explica.

Abandono de animais é crime

Anequésselem ressalta que o abandono de animais é crime. Por isso a microchipagem é importante, já que através do chip é possível identificar quem adotou o animal.

“Alguns desses animais abandonados e castrados conseguimos identificar quem era o dono através do chip. Temos leitor e conseguimos identificar para expedir o auto de infração ambiental. Porém em alguns casos não tem prova de quem abandonou. Aí é mais difícil”, diz.

Abandono de animais é crime ambiental e pode levar à prisão – Foto: Arquivo Pessoal/Olivia Gonzaga

O abandono de animais é crime devido ao Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605, de 12.02.1998 (Lei de Crimes Ambientais). A pena prevista é de três meses a cinco anos de prisão e multa.

“Quem abandona animais pode ser preso, responde criminalmente. A polícia é acionada, gera boletim de ocorrência, tramita na Polícia Civil e o responsável pode até ser preso”, alerta a diretora.

Educação como prevenção

Para a protetora Detinha só existe uma forma de prevenir e conscientizar as pessoas contra o abandono de animais: a educação. “Porque o adulto não tem mais como. Agora a criança aprendendo que não se deve fazer isso, que os animais sofrem. Ela leva para casa e não deixa o pai fazer e cresce com essa consciência ambiental”, analisa.

O tema é um dos abordados, segundo Anequésselem, no programa de Educação Ambiental nas escolas de Criciúma. “Temos uma equipe de educação ambiental com estagiários e servidora. Vamos nas escolas tanto municipais quanto estaduais. Falamos sobre o Núcleo de Bem-Estar Animal e outras questões ambientais. As crianças vão lá, visitam o Núcleo”, afirma a diretora.

O Núcleo de Bem-Estar Animal está localizado ao lado do Centro de Controle de Zoonoses, no bairro Renascer, em Criciúma. Mais informações sobre o trabalho desenvolvido você pode obter no site: https://bemestaranimal.criciuma.sc.gov.br/ ou telefone: (48) 3445-8729.

“Se ver um cachorro de rua, o voluntário quer ajudar, pode levar lá. Podemos colocar para adotar depois ou a lei permite, também, que se faça a castração e se devolva no local onde estava. As vezes a própria população alimenta o animal”, finaliza a diretora, lembrando que o serviço é oferecido para pessoas cadastradas nos serviços de assistência social do Município.

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