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CÉLIO BOLAN: Sustentabilidade em época de Covid-19 urgência a segurança viária

Com uma agenda relevante de eventos globais, 2020 deveria ser um ano chave para a segurança viária e o enfrentamento às mortes no trânsito no mundo. Então, apareceu o vírus mortal. Este fantasma centralizou as atenções, mas também tornou os desafios da segurança viária mais urgente. Em um cenário em que 1,35 milhão de pessoas perdem suas vidas anualmente no trânsito em todo o mundo, a pandemia aumentou a pressão sobre sistemas de saúde, alterou a mobilidade urbana e reforçou a necessidade de fazermos o que estiver ao nosso alcance para promover segurança e qualidade de vida nas cidades.

Com a declaração de Estocolmo sobre segurança no trânsito, líderes de cerca de 140 países se comprometeram a reduzir os óbitos no trânsito pela metade até 2030. Muda o foco. Do trânsito para o vírus.  Esses números tendem a crescer à medida que o novo coronavírus chega a locais antes inatingidos, como periferias de cidades brasileiras. Vulneráveis. No Brasil são cerca de 30 mil mortes no trânsito por ano e, para cada morte, são cerca de sete internações em UTIs. O SUS acaba absorvendo esta demanda, gerando custo de 52 bilhões anuais e sobrecarregando as UTIs.

Medidas de contingência como home office, quarentenas e fechamentos de comércio esvaziaram as ruas das cidades. Essas restrições reduziram a exposição das pessoas, o que é uma estratégia válida para reduzir lesões e mortes no trânsito. As ruas mais vazias têm levado a um aumento de comportamento de risco como carros e motos trafegando com excesso de velocidade e desrespeitando a sinal vermelho. Multa pesada. Porto Alegre e Goiânia mostram aumento de 47% e 79% no aumento de infrações por excesso. Em Nova York dobraram as multas e a velocidade média dos veículos em 85% em alguns bairros. Num cenário de retomada, é esperado o risco dos acidentes aumentarem conforme o isolamento social for flexibilizando, já que a recuperação de deslocamentos por transporte coletivo deve ser mais demorada do que em veículos privados e a pé, voltando a aumentar a exposição dos usuários mais vulneráveis. O contexto atual gera uma necessidade de mudanças que repensem o contexto das ruas de uma forma abrangente, seu desenho e como são usadas. O que fazer?

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Redução de velocidade para 50 km/h em ambientes urbanos. O aumento dos modos ativos, a pé e bicicleta reforça a necessidade de vias mais seguras para usuários vulneráveis. Mas em regiões residenciais uma redução de até 20 km/h é recomendável. Na Polônia assim foi feito.

Novos padrões de desenho viário. Testar novas distribuições do espaço viário, tendo em conta o distanciamento social. Essas medidas, que tem como objetivo criar infraestruturas mais seguras e confortáveis para usuários vulneráveis e de redistribuir mais democraticamente os espaços públicos, tem sido a tônica de vários planos de retomada da mobilidade em cidades da Europa e das Américas.

Zonas sem circulação de carros. Áreas turísticas e centros comerciais têm maior fluxo de pedestres e ciclistas e acabam criando mais aglomerações de pessoas. Uma iniciativa já tomada por cidades e que concilia o enfrentamento da segurança e da pandemia é a criação de áreas exclusivas para pedestres e ciclistas, as chamadas “Areas Peatonais ou “ Car-Free Zones.

Mais e melhores ciclovias e ciclofaixas. A OMS recomenda que o transporte ciclístico e a pé durante a pandemia que também proporciona um mínimo de atividade física obedecendo a distância mínima. Diversas Cidades no exterior tem ido nesta direção, criando infraestruturas ciclo temporárias e definitivas, expandindo de forma rápida sua malha para suprir a nova demanda criada e ampliando padrões de largura.

Repensar o desenho das vias para salvar vidas. Fica claro que há uma urgência em mudarmos a maneira como resenhamos nossas cidades. A constatação de que o transito causa impacto comparável ao da pandemia que colocou o mundo em alerta, mas reforça a importância de promover ruas mais seguras para todos. Ciclovias criadas da noite para o dia, vias convertidas em zonas calmas, calçadas estendidas as pressas, tudo para acomodar a necessidade de mobilidade urbana em um cenário de pandemia. Cidades convertem-se em laboratórios de experiências que podem trazer benefícios durante a crise e legar um mundo mais sustentável quando o pior passar. Quem pode afirmar que uma segunda onda não esta se formando?

O prefeito de Nova York Bill de Blasio anunciou um plano e transferir veículos motorizados a pedestres e ciclistas o direito de uso de 160 km de vias da megalópole. Em Berlim, por exemplo, a prefeitura tem alargado ciclo faixas usando fita e tinta para que ciclistas possam manter uma maior distancia. No Brasil, onde 36% dos deslocamentos diários da população são realizados a pé, pelo menos 20% das vias não dispõem de calçadas, quanto menos calçadas adequadas que respeitem a norma de 1,2 m de faixa livre para pedestres. Como manter o distanciamento seguro com calçadas tão estreitas quanto ao alcance do vírus. Dublin e Brookline são exemplos de cidades que fecharam pistas em vias movimentadas para estender o espaço para pedrestes. Oakland, na Califórnia, foi a primeira ao anunciar o fechamento de 10% das vias da cidade para recreação, convertidas em ruas calmas. Não é na crise que nasce o crescimento e acelera programar planos ambiciosos. Lima, no Peru, decidiu concluir em três meses a implementação do plano ciclo viário previsto para os próximos 5 anos. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo acelerou o projeto, cidade de 15 minutos, implementando 650 Km de ciclorrotas. A capital Milão abraçou a bicicleta e a caminhada como meios de transporte resilientes e sustentáveis. Outras metrópoles européias, como Barcelona e Londres, têm ampliando suas extensões de calçadas, novas ciclorrotas e redução de velocidade em vias movimentadas. O governo da Nova Zelândia lançou o programa Innovating Streets for People para financiar projetos de urbanismo tático que favoreçam vizinhanças vibrantes, caminháveis e acessíveis. Passada crise da Covid-19, será fundamental que as cidades avaliem o resultado das intervenções para definir quais podem ser formalizadas. Não esquecendo o combate a poluição do ar, as emissões de carbono, acessibilidade, sustentabilidade, deficientes, ruas completas. São Paulo, Porto Alegre, Campinas, Salvador e Ceará estão entre as cidades que adotaram medidas recentes neste sentido. E quanto voltar o Novo Normal. Em Criciúma eu vi um projeto de ruas completas de um pré-candidato a vereador e bem escolhido o local, onde este bairro está carente do social.

As cartas estão no jogo e não vi nenhum projeto efeito em debates já realizados por aqui, apenas comentários vagos a oferecer aos munícipes de Criciúma. Não me venham dizer que Avenida Centenário é a solução de tudo. 

                                                                    Celio Bolan – Estratégias além do óbvio

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