Notícias de Criciúma e Região

CÉLIO BOLAN: Entre o concreto e verde: cadê você

Entre os prédios de uma cidade, há uma rede de espaços que criam e fortalecem conexões em diferentes níveis de influência. Quando nos referimos às ruas e demais espaços públicos de uma cidade, em realidade, estamos falando da própria identidade da cidade.

É nesses espaços que se manifestam as trocas e relações humanas, a diversidade de uso e a vocação de cada lugar, os conflitos e contradições da sociedade. A área pública molda os laços comunitários nos bairros. São locais de encontros e sua apropriação pode facilitar a mobilização política, estimular ações por parte dos moradores e ajudar a prevenir a criminalidade.

Espaços não públicos, mas abertos às pessoas, como cafés, livrarias e bares também são ambientes de interação e troca de ideias que facilitam esses encontros, impactando a qualidade do meio urbano. Há ainda os benefícios para a saúde, tanto física quanto mental: as pessoas sentem-se melhores e tendem a ser mais ativas em espaços atrativos.

Entre em nosso grupo e receba as notícias no seu celular. Clique aqui

Ben Rogers assinala: quanto mais diversificados e vivos os espaços de uma cidade, menos desigual e mais rica e democrática. Andar a pé é a forma mais democrática de se locomover. É o meio de transporte mais antigo e o mais recorrente em todo o mundo e não tem custo nenhum de algumas calorias. Apesar disso, as pessoas caminham cada vez menos. Seja porque as cidades estão mais espalhadas, seja porque as calçadas, vias por onde as pessoas caminham, são verdadeiros obstáculos. Falta de pavimento, largura inadequada e veículos estacionados irregularmente são apenas alguns dos indícios de que as calçadas estão sendo sufocadas, há décadas, por outros meios de transporte menos saudáveis, tanto para os usuários quanto para as cidades. Estes lugares existem. Calçadas vivas são vistas em muitas cidades do Brasil e do mundo que tornaram o transporte a pé uma prioridade.

Os princípios da calçada merecem serem cumpridas em sua essência, como dimensionamento adequado, superfície qualificada, drenagem eficiente, acessibilidade universal, conexões seguras, espaço atrativo, segurança permanente, e sinalização coerente. A calçada é território de quem caminha. Listo de acordo com o código de Trânsito Brasileiro, o artigo 68, que finca que o fluxo não pode ser prejudicial ao fluxo de pedestres. Em caso da ausência de calcadas, quem transita a pé em uma situação de maior risco ao disputar o espaço com os veículos.

É possível ir mais fundo e relacionar a presença e o planejamento de espaços públicos com valores democráticos. Cito o conceito The Power of 10, um bom espaço público precisa apresentar possibilidades diferentes de coisas que as pessoas possam fazer nele, motivos para estar lá. A falta tanto de uma mescla de usos quanto da apropriação dos espaços pelas pessoas acaba transformando essas áreas em locais de passagem, onde as pessoas não querem estar pelo simples fato de que não há nada que as faça ficar. É uma via de mão dupla: as pessoas estarão nas ruas se sentirem segurança e a rua será um ambiente mais seguro quanto mais pessoas estiverem nelas.

O inovador projeto chamado Ruas Completas, que está contaminando as cidades Brasileiras definidas como ruas planejadas para garantir a circulação segura de todos os usuários – pedestres, ciclistas, motoristas e usuários de transporte coletivo. Calçadas em boas condições, infraestrutura para bicicletas, mobiliários urbanos e sinalização para todos os usuários estão entre os elementos que compor uma rua completa.

O WRI Brasil e a iniciativa New Climate Economy  nos mostram os benefícios econômicos, sociais e ambientais de uma retomada verde. “Uma nova economia para uma Nova Era” elementos para a construção de uma economia mais eficiente e resiliente para o Brasil. O estudo mostra que a retomada verde tem potencial de criar dois milhões de empregos e aumentar o PIB Brasileiro em R$ 2,8 trilhões nos próximos dez anos. Além disso, sugere medidas em infraestrutura, indústria e agricultura que podem aumentar a produtividade e competitividade da economia do Brasil em um cenário pós-pandemia.

A urbanização, o adensamento e altas taxas de motorização lançam desafios de planejamento e instigam as cidades a pensarem novos modelos de desenvolvimento. Em meio à transformações constantes, contudo, mantém-se intacta a importância dos espaços públicos para a qualidade de vida. Continuam a serem espaços de trocas, convivência, encontros. E continuam a serem vitais para o bem-estar no ambiente urbano. Para além das paredes que nos cercam, é na rua que a vida acontece.

Este texto tem inspiração na coletânea “ Making good – shaping places for people”  produzida pela Center for London, onde cristaliza o fazendo e formando espaços para pessoas.

 

 

Você também pode gostar