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Após morte de filhos, mães protestam em frente ao Santa Catarina

Manifestação foi realizada na manhã desta quinta-feira, dia 21, e envolveu, ainda, mães de crianças que apresentaram sequelas graves de saúde

Em busca por respostas sobre o que teria acontecido com a saúde dos filhos, cinco mães se reuniram em frente ao Hospital Materno-Infantil Santa Catarina (HMISC), em Criciúma. O protesto, que reuniu mais pessoas, aconteceu na manhã desta quinta-feira, dia 21, após o cancelamento de uma reunião que teria sido agendada para esclarecer os fatos.

De acordo com o vice-presidente do Conselho Municipal de Saúde de Criciúma, Júlio César Zavadil, cinco mães procuraram o Conselho, sendo que duas perderam os filhos que estavam internados no HMISC e outras três saíram com as crianças apresentando sequelas de saúde. Os casos teriam acontecido nos últimos meses e os familiares buscam entender o que teria ocorrido no hospital.

“Começamos a receber denúncias das mães de mortes inexplicáveis aqui no hospital. Inexplicáveis pois eles nem o prontuário médico estão disponibilizando para algumas mães.  Uma delas aguarda há 19 dias para saber o que aconteceu com a criança que chegou aqui à tarde e faleceu no mesmo dia. Outra mãe, a criança chegou aqui brincando, com febre, e de repente ficou ruim no hospital, não deram volta e agora ela não responde mais neurologicamente, vai ficar com sequelas a vida inteira”, explica.

A pedido do Conselho, uma reunião foi agendada na manhã desta quinta-feira, dia 21. De acordo com Zavadil, o encontro solicitado via ofício seria entre a equipe médica, responsáveis pelo Instituto de Desenvolvimento, Ensino e Assistência à Saúde (Ideas), que administra o (HMISC), mães, Conselho de Saúde e advogados que representam os familiares. Ao chegar para a conversa, os representantes do hospital chamaram apenas quatro pessoas para a reunião, o que gerou um desentendimento entre os presentes. Os funcionários do hospital acionaram a Polícia Militar (PM) para registrar o ocorrido e preservar a segurança de todos que estavam no local.

“Mesmo marcando com ofício solicitado pelo Conselho, que é deliberativo fiscalizador da saúde pública, disseram que iam receber apenas quatro conselheiros e que não iam receber mais ninguém. O problema está com as mães. Advogados eles não podem proibir de entrar pois é direito da profissão. Mas é isso que estão fazendo aqui, querem parecer bonzinhos, mas o que está acontecendo é muito grave. Isso está colocando em risco a vida de crianças, precisamos impedir”, frisa o vice-presidente.

Dois representantes do setor jurídico do Ideias, que vieram de Florianópolis para participar da reunião, explicaram que haviam acordado com antecedência que o encontro aconteceria somente com quatro pessoas por falta de espaço.  “Foram emitidos dois ofícios, referente a duas crianças, foi combinado e acordado, temos registro disso, que a reunião seria com quatro representantes do conselho, não com familiares. Ia ser uma reunião técnica, com corpo clínico e profissionais que participaram desses atendimentos. Surpreendentemente hoje, chegamos aqui havia mais mães de casos que a gente nem sabe quais são os pacientes e a gente se colocou à disposição para fazer a reunião que foi acordada, ou seja, a comissão”, explica o assessor jurídico do Ideas, Ricardo da Silva Prates. 

O vice-presidente do Conselho e a advogada representante das mães, Milene Lacerda,  relataram que este não teria sido o acordado e que têm a documentação para comprovação dos fatos. “Depois eles até me receberam, conversei com eles, mas não querem receber as mães. Nós pedimos a reunião com as mães. Algumas já conseguiram o prontuário médico e outras não conseguiram ainda. Depois de juntar tudo, vamos entrar com uma ação de responsabilização e outras coisas que couberem no direito”, explica a advogada. 

O Conselho está promovendo um protesto com faixas em frente ao HMISC nos próximos dias, onde irá reunir outras mães que também teriam perdido seus filhos. As mães manifestantes afirmam que o Hospital tem estrutura para atender as crianças, mas que a administração do Instituto não é eficaz. “O Hospital Santa Catarina não tem nada haver com isso, o problema é com quem está administrando. Já fizemos vários protestos aqui, o caso é reincidente”, frisa Júlio.

Criança teria morrido por falta de auxílio

Uma das mães que estava em frente ao Hospital, Vanusa Fernandes, perdeu o filho de apenas um ano. Segundo ela, a criança foi internada no HMISC com 11 meses de vida devido a um caso de bronquiolite. A mãe explicou que o filho estava se alimentando um pouco por sonda e um pouco com a mamadeira.

Após vários procedimentos, internações, consultas e entubações, o pequeno morreu durante o aleitamento dentro da unidade hospitalar. “Na hora ele tomou e já broncoaspirou, ficou cianótico, não respirou, não tossiu, na hora já ficou com falta de ar. Chamamos por socorro, mas até a equipe chegar no local não deu tempo e o menino morreu. Se a equipe sabia que corria o risco, deveria ter uma equipe no quarto junto para a alimentação. Acabou com a minha vida, tenho outros três filhos, duas gêmeas e temos que fazer acompanhamento com a psicóloga”, conta a mãe em lágrimas.

Criança com sequelas

Outras três mães relataram que os filhos ficaram com sequelas pois não teriam recebido o acompanhamento e cuidado necessário pela gravidade do caso. O filho de Jéssica Bruna Nunes Inês, sofreu uma parada cardíaca, segundo a mãe, e ficou atrofiado.

“Quando eu trouxe, ele estava com uma gripe, uma tosse. Cheguei aqui e falaram que podia ser começo de bronquiolite e deixaram ele na sala de observação. Depois de vários procedimentos, lavagem nasal e resgate com bombinha, ele começou a ficar ruim. Mas eles não faziam os procedimentos corretamente e ele foi piorando. Agora ele só se alimenta por sonda, perdeu todos os movimentos e está todo atrofiado. Uma criança que comia de tudo e brincava”, lamenta a mãe.

A reportagem esteve no local e solicitou à direção do hospital informações a respeito dos casos questionados pelas mães. Contudo, a direção disse que as informações hospitalares são sigilosas e que não poderia divulgar os dados à imprensa.

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