Home office: de necessidade a desejo dos brasileiros
Modelo de trabalho remoto cresceu durante a pandemia de Covid-19.
O termo home office foi algo que praticamente todos ouviram durante o período de pandemia da Covid-19. A expressão em português significa “escritório em casa”, e a modalidade possibilita exatamente isso, que pessoas trabalhem de forma remota. Para muitos colaboradores esse modelo era incomum, porém, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), entre os meses de maio e novembro de 2020, o número de brasileiros que trabalhou de casa chegou a 8,2 milhões. Isso representa 11% dos 74 milhões de trabalhadores registrados no mesmo período.
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De acordo com o professor do curso de administração da Unesc, Thiago Francisco, essa prática de trabalho é mais utilizada em empresas de tecnologia. “Talvez o termo no Brasil não seja tão novo, mas a prática é recente. Ela foi mais utilizada de uma forma protagonista nos últimos anos devido à pandemia. Se percebe o uso maior do modelo nas empresas de tecnologias ou que sofre influências de grupos internacionais onde isso já é consolidado”, explica.
O professor ressalta que apesar do termo não ser novo, as empresas precisaram se descobrir e se adaptar a esse sistema. “O home office não era uma modalidade regulamentada no ambiente de trabalho. Algumas perguntas surgiram quando essa prática aumentou, como por exemplo: como vou controlar a atividade do meu funcionário nesse período? Então foram meses de aprendizado em que as empresas conseguiram construir seus modelos e os órgãos de regulamentação conseguiram instituir metas”.
Em março de 2022, o Governo Federal publicou no Diário Oficial da União a medida provisória 1.108, que regulamenta as regras para o trabalho em home office. O objetivo, segundo o governo, é justamente ajustar a legislação às necessidades dessa forma de trabalho. Entre as regulamentações estão: a prestação de serviços na modalidade de trabalho remoto deverá constar expressamente do contrato individual de trabalho; possibilidade de adoção do modelo híbrido pelas empresas, com prevalência do trabalho presencial sobre o remoto ou vice-versa.
Apesar de ter seus benefícios, o modelo também apresenta desvantagens. Para Francisco, a maior delas é a perda do contato humano. “Dependendo de como o trabalho remoto for utilizado, ele tira a oportunidade daquele contato humano no ambiente de trabalho. Outra desvantagem é que algumas empresas investiram no espaço físico que agora não será mais utilizado. As próprias famílias não estão preparadas para isso, nem todas as casas possuem uma estrutura para que as pessoas possam trabalhar. Na pandemia a gente tinha situações em que o pai estava trabalhando em um cômodo, o filho assistindo aula em outro e a mãe trabalhando em outro espaço”, salienta
100% home office
A empresa criciumense Eloverde, startup especializada na área de tecnologia de sustentabilidade, adotou o método de trabalho remoto em março de 2020, quando o lockdown foi imposto pelo governo de Santa Catarina. “O nosso time é bem diversificado em termos de cidades, alguns vinham de Torres, Araranguá e outros municípios. Quando houve o lockdown todos foram para o home office. No começo nós não estávamos preparados e tivemos que adaptar vários processos. Alguns se adaptaram bem, outros não”, ressalta o CEO da empresa, André Felipe Fraga.
Após a experiência, os colaboradores retornaram ao ambiente de trabalho, porém, com o aumento no número de casos de Covid-19, voltaram a trabalhar remotamente. “Voltamos e estamos até hoje do mesmo jeito. Foi unanimidade entre os colaboradores em permanecer em home office, até mesmo por questões de tempo de trabalho. Algumas pessoas levavam uma hora para chegar na nossa sede em Criciúma. Com o trabalho à distância eles acabaram tendo mais tempo para lazer e outras atividades”, completa o CEO.
Com o lockdown todos foram para o home office, fala CEO da Eloverde, André Felipe Fraga.
Veio para ficar?
Uma pesquisa realizada pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e pela Fundação Instituto de Administração (FIA) mostra que a intenção dos brasileiros de permanecerem trabalhando em casa só cresce. De acordo com o levantamento, 73% das pessoas estão satisfeitas com o trabalho de casa. “Existem empresas que apostavam no retorno dos funcionários depois da pandemia e hoje 60% optam pelo home office. Isso é um indicativo importante que o modelo irá permanecer. Na minha opinião, desde que devidamente organizado, o modelo veio para ficar”, explica o professor Thiago Francisco.