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Vítima de câncer, empresária deixa carta de despedida para família; confira

Na mensagem, Juliana Carvalho Lopes, de 45 anos, falou sobre ter conseguido desmistificar a doença e ressaltou que ‘é possível ser feliz com o câncer'

Vítima de câncer no intestino, Juliana Carvalho Lopes, de 45 anos, surpreendeu familiares e amigos ao deixar uma carta de despedida para ser lida após falecer, em 4 de março. Na mensagem, a empresária de Londrina, no Norte do Paraná, falou sobre ter conseguido desmistificar a doença e ressaltou que ‘é possível ser feliz com o câncer’.

Para o marido de Juliana, Márcio Antunes, a carta deixada pela esposa foi enviada por e-mail para as irmãs dela, dias antes da Juliana falecer. Em entrevista ao G1, ele disse que a esposa foi altruísta, mesmo debilitada pela doença, ao se preocupar em confortar os que ficaram.

Márcio Antunes descreve que a carta deixada pela esposa despertou nele um sentimento ambíguo. Ao mesmo tempo que todos sentiam a partida, se reconfortavam com as palavras dela.

“Sei, humildemente, que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou… Mas espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas”, diz a carta da paranaense.

Diagnosticada com câncer no intestino, Juliana Carvalho Lopes passou por oito procedimentos cirúrgicos para combater a doença, mas estava com um quadro irreversível. Por fim, realizava cuidados paliativos para tentar diminuir o avanço do câncer e amenizar a dor.

Leia, abaixo, a carta de Juliana na íntegra:

‘Minha despedida’

“A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.

Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas.

Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia – com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues – é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.

Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou… Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte.

Li, certa vez, que “o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.

Sabe qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade, empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida, se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O da minha mãe é escuro.

Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também.”

 

 

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