Teste de gravidez com sapo? Saiba como eram os primeiros testes de gravidez
Entenda porque o sapo, este pobre animal era usado em testes de gravidez
Até a década de 1960 os exames que conhecemos hoje ainda não eram comercializados, antes de surgirem os exames modernos a partir dos anos 1970, a medicina recorria a métodos nada ortodoxos para detectar uma gestação. E o mais curioso é que alguns, apesar de não serem convenientes, tinham uma boa eficácia. Hoje, saber se você está grávida costuma ser simples: você faz xixi em um bastão e espera que as linhas apareçam. Mas as coisas eram muito diferentes no passado. Os sinais óbvios de falta de menstruação ou desejo por comida podia significar gravidez. Mas, até a gestação estar muito mais avançada, não havia como saber que não eram sintomas causados por doença ou menopausa.
Mas o que o sapo tem a ver com essa história de teste de gravidez? Por mais que esse procedimento pareça charlatanismo, a verdade é que ele foi o principal método disponível para descobrir uma gravidez durante muitas décadas do século 20, com uma taxa de eficácia suficientemente boa.
E olha que esse não é o único exemplo nada convencional de técnicas para determinar o desenvolvimento de um bebê no útero materno. Ao longo da história, há vários episódios em que outros animais e até grãos de trigo e cevada foram utilizados com esse objetivo. Curiosamente, muitos deles funcionavam razoavelmente.
Mas para entender essa história desde o início, é preciso viajar 3 mil anos no tempo. Hoje vamos conhecer os métodos bizarros usados para descobrir uma gestação.
Muitos métodos caseiros e imprecisos foram utilizados ao longo dos séculos para confirmar ou não uma suspeita de gravidez. A maioria desses procedimentos, porém, sempre teve uma prática em comum: o uso da urina para obter a resposta que mudaria para sempre a vida de uma mulher. A urina é a chave para obter uma resposta segura. Mas, embora possa parecer um método moderno, não é o caso. De fato, três antigos papiros egípcios mostram que a urina já era usada há 4.500 anos.
Desde a Grécia antiga, acreditava-se que as mulheres saberiam se estavam grávidas porque sentiam o útero fechar após o sexo — o que obviamente é impossível. Até porque, numa fase tão inicial, nem a fertilização nem a implantação [do embrião] ocorreram. Mas isso não impediu as pessoas de tentarem descobrir com certeza.
No século 4 a.C., sugeriam que a mulher bebessem um gole de hidromel na hora de dormir. Essa era uma mistura de vinho, água e mel que causava dor e estrondo se a mulher tivesse concebido. No século 13 diziam que se os seios de uma menina apontassem para baixo, isso significava que ela estava grávida. Acreditava-se que isso acontecia porque “no momento da impregnação, o sangue da menstruação sobe para os seios”.
Mas um dos primeiros registros escritos de um teste de gravidez à base de urina foi encontrado no Egito antigo. Na época, a mulher deveria fazer xixi em sacos de trigo e cevada. Se a cevada germinasse, a mulher teria um menino. Se fosse o trigo, seria uma menina. Se não germinassem, ela não estava grávida. Quando os cientistas testaram a teoria em 1963, descobriram que em 70% das vezes a urina das grávidas promovia o crescimento das plantas. A hipótese é que o sucesso estaria ligado à quantidade elevada do hormônio estrogênio na urina da mulher. Era comum também os egípcios observarem a coloração da urina, procurando mudanças em seu visual.
Em várias receitas médicas do período medieval em diante, dizia-se que uma agulha colocada na urina de uma mulher ficava vermelha ou preta se ela estivesse grávida. No século 16, “agulha” foi mal interpretada como “urtiga”, levando à sugestão de que uma mulher deveria deixar uma urtiga em um pouco de sua urina durante a noite e, se ela apresentasse manchas vermelhas pela manhã, estaria grávida.Esses testes podiam ser feitos sob a supervisão de um médico ou por conta própria.
Desde que foi fundado em 1518, curandeiras foram proibidas pelo Royal College of Physicians de Londres de praticar a medicina. Isso incluía uroscopia (exames médicos da urina), mas algumas mulheres o faziam mesmo assim. No início do século 17, uma mulher conhecida como Mistress Phillips — possivelmente uma parteira — foi levada ao tribunal por usar a uroscopia para diagnosticar a gravidez.
Catherine Chaire, uma mulher que praticava medicina ilegalmente em Londres na década de 1590, tinha seu próprio método: ela afirmava que podia “diagnosticar a gravidez lavando roupas com água de rosas vermelhas e sabão”.
Na Europa da Idade Média a aparência do líquido era valorizada, a maioria dos testes seguia um método não-científico de avaliar visualmente a urina. Como não existiam equipamentos como o microscópio, os especialistas da época tinham que recorrer aos cinco sentidos para fazer esse tipo de estudo. Esses especialistas ficaram conhecidos como “profetas do mijo”, homens e mulheres que teoricamente possuíam treinamento e capacidade para analisar a cor, o cheiro, a textura e outros aspectos desse material. Um dos testes utilizado por esses especialistas, incluíram a mistura de vinho com urina para observar os resultados, uma amostra era colhida e misturada a vinho ou a outras bebidas alcoólicas para ver se os fluidos produziam reações químicas. Como o álcool reage com certas proteínas do xixi, esses prognósticos podem ter tido uma taxa de sucesso moderado. Há registros do século 16 que descrevem colorações esverdeadas e esbranquiçadas da urina, interpretadas como indícios de uma provável gestação.
O foco na urina em muitos testes prefigura o que sabemos hoje. E variações baseadas no xixi foram repetidas na escrita médica até o século 17. Se a urina de uma mulher fosse mantida em um recipiente lacrado por alguns dias, “certas coisas vivas” seriam vistas nela, outra opção era ferver a urina — estrias brancas significavam que ela estava grávida.
Pesquisas do século 20 provou que todos os testes históricos — envolvendo sementes ou agulhas — apontavam para algo muito mais confiável do que bebidas especiais, lavar roupas em água de rosas ou verificar os seios.
Foi apenas no fim do século 19 e início do 20 que começou-se a desvendar o caminho para detectar uma gravidez com mais precisão. Os médicos ainda utilizavam a observação da urina como principal método para descobrir precocemente a gravidez. Mas em vez observar mudanças na cor, eles se concentravam na presença de bactérias ou estruturas cristalinas visíveis apenas pelo microscópio. Embora o estudo do sistema reprodutivo estivesse mais adiantado, a descoberta dos hormônios ainda levaria muito tempo. Foi apenas na década de 1890 que os estudiosos começaram a falar sobre produtos químicos ou “secreções internas” de certos órgãos (ou seja, os hormônios). Em 1904, o cientista inglês Ernest Starling identificou substâncias liberadas por glândulas que foram chamadas por ele de hormônios. Nos anos seguintes, essa descoberta fundamental levaria a novos testes.
Por volta dos anos 1920, cientistas de vários laboratórios europeus descobriram um hormônio exclusivo da mulher grávida, o hormônio HCG (gonadotrofina coriônica humana), presente na placenta e, consequentemente, no xixi, começou a ser usado como uma forma de reconhecer a gravidez. Em 1928, dois alemães desenvolveram o teste AZ, que injetava a urina da mulher em uma ratazana para identificar a gravidez. Se a mulher estivesse grávida, o hormônio do seu xixi causariam uma reação de cio no animal (já que haveria um aumento do hormônio na ratazana). Pouco tempo depois, os ratos foram substituídos por coelhas. A urina era injetada nas veias da orelha do animal. Se o HCG estava presente, a coelha ovularia dentro de 48 horas. E isso podia ser usado como teste. O problema é que o único jeito de notar isso era matar e dissecar o animal.
Até os sapos entraram na história
Em 1930, o médico britânico Lancelot Hogben notou que o efeito também acontecia com anfíbios – como as fêmeas botavam ovos, isso podia ser facilmente verificado, e não era preciso sacrificar o animal. Hogben começou pelo sapo comum (gênero Bufo), se houvesse hormônio, o organismo do sapo liberava espermatozoides que, depois de três à doze horas, se acumulavam na cloaca. Então a presença de espermatozoides na urina do animal indicava gravidez da mulher. Mas ele descobriu que a rã-de-unhas africana, Xenopus laevis — era mais rápida. O animal botava ovos poucas horas depois de receber uma injeção de urina de uma grávida.
Até a década de 1950, era comum injetar a urina em sapos machos e fêmeas como teste de gravidez, mas era um teste caro, lento e que sacrificava um número grande de animais. Como as rãs são fáceis de criar, isso foi, usado como método de detecção de gravidez até a criação dos testes modernos. E tantas dessas rãs foram criadas, que elas se tornaram uma espécie invasiva em vários países, como os EUA, Reino Unido e Canadá. A partir da década de 1960, um novo trabalho com anticorpos levou ao teste de gravidez que conhecemos hoje.
A partir dos anos 1970, chegaram ao mercado do Canadá e dos Estados Unidos os primeiros testes de gravidez que podiam ser feitos em casa. A versão inicial, que foi desenvolvida pela publicitária americana Margaret Crane, parecia um kit de química: ela vinha com tubos de ensaio, diferentes frascos de produtos e exigia que a mulher seguisse uma série de etapas para garantir um resultado confiável. O teste era anunciado em páginas de revista como uma “revolução privada”, pela comodidade de poder descobrir ou descartar uma gravidez no conforto do lar, sem precisar do auxílio de um médico. O que não mudou foi o material utilizado — a urina.
Foi a descoberta da subunidade beta, em 1972, que fez com que os cientistas desenvolvessem um anticorpo específico e criassem um teste de gravidez preciso, capaz de determinar também os níveis do hormônio na urina. Os primeiros testes de farmácia, os EPTs da empresa americana Warner Chilcott, eram muito mais simples, mas ainda dependiam do tubo de ensaio para misturar a urina com soluções. Também era preciso esperar algumas horas pelo resultado, a taxa de precisão era questionável e os resultados falso-negativo eram bastante comuns. As melhorias feitas nas décadas de 1980 e 1990 deram origem à fita com os dois traços e aos resultados tão precisos quanto o exame de sangue.
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