ParticipaĆ§Ć£o de centros urbanos na economia diminui no Brasil, aponta IBGE
Pesquisa do IBGE do Produto Interno Bruto (PIB) dos MunicĆpios de 2020 foi divulgada nesta sexta-feira, dia 16
A pandemia provocou efeitos diferentes nos municĆpios brasileiros, que variaram conforme a importĆ¢ncia das atividades de serviƧos de cada um, principalmente as presenciais. Diante das medidas restritivas de isolamento e precauĆ§Ć£o de contĆ”gio por parte das famĆlias, os serviƧos reuniram as atividades que tiveram as maiores quedas de participaĆ§Ć£o na economia do paĆs entre 2019 e 2020.
A avaliaĆ§Ć£o faz parte da pesquisa Produto Interno Bruto (PIB) dos MunicĆpios de 2020, divulgada, nesta sexta-feira, dia 16, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĆstica (IBGE).
Segundo os resultados, em 2020 nove cidades responderam por quase 25% do PIB nacional e 15,3% da populaĆ§Ć£o brasileira. Neste grupo estĆ£o SĆ£o Paulo, com 9,8%; Rio de Janeiro, 4,4%; BrasĆlia, 3,5%; Belo Horizonte, 1,3%; Manaus, 1,2%; Curitiba, 1,2%; Osasco (SP), 1%; Porto Alegre (RS), 1% e Guarulhos (SP), 0,9%.
TambĆ©m houve mudanƧa na posiĆ§Ć£o de cidades na comparaĆ§Ć£o entre 2002 e 2020. Manaus subiu da sĆ©tima para a quinta posiĆ§Ć£o; Curitiba, da quinta para a sexta; Osasco (SP), da 16ĀŖ para a sĆ©tima; Porto Alegre, da sexta para a oitava e Guarulhos (SP), da 14ĀŖ para a nona.
AlĆ©m disso, os 82 maiores PIBs municipais representavam, aproximadamente, metade do total da economia nacional e 35,8% da populaĆ§Ć£o do paĆs. Em 2002, inĆcio da sĆ©rie publicada, apenas quatro municĆpios somavam cerca de Ā¼ das atividades econĆ“micas do paĆs.
Ainda em 2020, os 1.275 municĆpios de menores PIBs responderam por cerca de 1% do PIB nacional e por 2,9% da populaĆ§Ć£o brasileira. Entre eles, os 148 situados nos estados do PiauĆ e os 135 da ParaĆba representavam mais de 60% das municipalidades de seus estados. No comeƧo da sĆ©rie, 1.383 correspondiam a 1% do PIB e somavam 3,7% da populaĆ§Ć£o nacional.
ConcentraƧƵes urbanas
Na distribuiĆ§Ć£o do PIB por concentraƧƵes urbanas, segundo o IBGE, Ć© possĆvel verificar āa reduĆ§Ć£o relativa da importĆ¢ncia econĆ“mica dos grandes centros urbanos no ano de 2020ā.
Em 2019, aproximadamente 25% da produĆ§Ć£o econĆ“mica do Brasil estavam somente em SĆ£o Paulo e no Rio de Janeiro. JĆ” em 2020, as duas somaram 23,7% do PIB nacional, com SĆ£o Paulo respondendo por 16,2%, o que significa queda de 0,7 ponto percentual (pp), e o Rio de Janeiro por 7,4%, representando recuo de 0,5 pp.
O analista de Contas Regionais do IBGE, Luiz AntĆ“nio de SĆ”, informou que essa tendĆŖncia de desconcentraĆ§Ć£o estava em curso antes da pandemia, mas ela tem se expandido.
āAo longo da nossa sĆ©rie histĆ³rica, algumas atividades ganharam participaĆ§Ć£o na economia brasileira que estavam contribuindo para essa desconcentraĆ§Ć£o. Na agropecuĆ”ria, por exemplo, o cultivo de soja nĆ£o ganhou participaĆ§Ć£o do nada na economia brasileira em 2020, jĆ” vinha ganhando participaĆ§Ć£o dando mais peso para a agriculturaā, disse, acrescentando que a extraĆ§Ć£o de minĆ©rio de ferro e de petrĆ³leo e a geraĆ§Ć£o e distribuiĆ§Ć£o de energia elĆ©trica sĆ£o outras atividades que tambĆ©m avanƧaram e contribuĆram para a desconcentraĆ§Ć£o.
āO Rio de Janeiro Ć© um estado que historicamente tem um peso muito grande nas indĆŗstrias extrativas, mas, ao longo da sĆ©rie, a gente observa outros estados ganhando participaĆ§Ć£o e o ParĆ” Ć© um delesā, frisou.
Luiz AntĆ“nio afirmou, tambĆ©m, que, em 2020, as atividades que vinham avanƧando ao longo da sĆ©rie histĆ³rica continuaram se desenvolvendo, ao contrĆ”rio do setor de serviƧos que caĆram com o impacto da pandemia.
āO que sustentava capitais como SĆ£o Paulo e Rio de Janeiro, em grande medida, eram os serviƧos e, enquanto todos estavam na mĆ©dia, esses municĆpios de fora desde eixo de capitais cresciam, isso jĆ” era um motivador para a desconcentraĆ§Ć£o. Agora que continuaram crescendo e os serviƧos ainda estĆ£o caindo, isso intensificou o cenĆ”rio que jĆ” estava posto desde 2002ā, concluiu.
Desigualdade
O IBGE ressaltou que as 10 maiores concentraƧƵes urbanas brasileiras tiveram reduĆ§Ć£o em suas participaƧƵes relativas na economia nacional. Em 2020, essas concentraƧƵes somaram 40,5% do PIB, uma reduĆ§Ć£o de 2,3 pp ante o peso de 2019.
Marcelo AraĆŗjo, geĆ³grafo do IBGE, disse que a perda de grandes centros urbanos ao longo da sĆ©rie histĆ³rica nĆ£o significa que eles estĆ£o ficando mais pobres. āO PIB nacional estĆ” subindo e essas cidades maiores estĆ£o tendo um crescimento menor do que o crescimento nacional, por isso ocorre uma tendĆŖncia de convergĆŖncia e de reduĆ§Ć£o de desigualdade espacial do PIBā, observou.
No que se refere Ć s grandes regiƵes, nota-se que, em 2020, o padrĆ£o identificado no paĆs Ć© repetido, com concentraĆ§Ć£o do PIB em poucos municĆpios. No entanto, na comparaĆ§Ć£o entre 2002 e 2020, o nĆŗmero de municipalidades que somavam atĆ© Ā½ da economia local se ampliou. Na RegiĆ£o Norte, de seis para oito; no Nordeste, de 25 para 36; no Sudeste, de 13 para 21; no Sul, de 31 para 38; e, no Centro-Oeste, de um para cinco.
RegiƵes rurais
AraĆŗjo revelou, ainda, que nĆ£o foi sĆ³ na AmazĆ“nia Legal que houve crescimento nas regiƵes rurais em consequĆŖncia do aumento da produĆ§Ć£o e do preƧo. Segundo o geĆ³grafo, o desempenho positivo tambĆ©m foi notado no Centro-Oeste e no Sudeste.
āTirando as regiƵes rurais do Sul que tiveram estiagem e perdas, todas as demais registraram bom desempenho. A produtividade aumentou, mas sobretudo o efeito preƧo vai causar um bom resultado generalizado. O aumento que se viu na agropecuĆ”ria na AmazĆ“nia, mais ou menos o preƧo dos produtos explicaā, opinou.
Texto: AgĆŖncia Brasil.