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Ética por conveniência!

As relações humanas são construídas por meio de experiências e situações cotidianas que nos ajudam a elaborar repositório de comportamentos que nos convida a escolhermos, tomarmos decisões baseadas em referências históricas, filosóficas, educacionais e psíquicas sobre o que consideramos certo e errado, bom e mau, justo e injusto, as polaridades que fazem parte da construção do sujeito e que, inclusive, nos torna julgadores, pois aquilo que é certo para mim e que você não pratica, naturalmente, o torna alguém que não se alinha comigo em escolhas, decisões e atitudes. A Filosofia nos ajuda a compreender o conceito de ética como o conjunto de padrões e valores morais de um grupo ou indivíduo procurando justificar a moralidade de uma ação e distinguir as ações morais das ações imorais e amorais, segundo Wikipedia. Já a Psicologia, responde questões vinculadas aos comportamentos frente às demandas da vida e isso, como “termômetro” para questões de personalidade e possíveis patologias. Mas é no senso comum e na construção da vida real que observamos como utilizamos a questão da ética e moralidade, nos apropriamos destes conceitos de forma conveniente ou por conveniência?

O convite da leitura de hoje não é conceitual, mas um exercício de flexibilidade cognitiva, expansão de pensamento sobre comportamento humano e sua complexidade. Vamos pensar no dilema do bonde, um experimento de pensamento em ética idealizado por Philippa Foot, no experimento a situação é a seguinte: Um bonde está fora de controle em uma estrada. Em seu caminho, cinco pessoas amarradas na pista, felizmente, é possível apertar um botão que encaminhará o bonde para um percurso diferente, mas ali, por desgraça, se encontra outra pessoa também atada. Deveria apertar o botão? E aí, o que você faria? Qual a sua visão a respeito desta decisão? O que a maior parte das pessoas decidem e por quê? Muitos decidiram apertar o botão e salvar cinco pessoas ao invés de uma, talvez você decidisse o mesmo, certo? Mas, e se aquele único homem fosse um amigo seu ou um parente querido, como ficaria sua decisão? Percebam que em comportamento humano as variáveis são aspectos discutíveis para tomada de decisões, vieses cognitivos, emoções e interesses próprios tomam proporções quase que irracionais para que façamos nossas, eu disse nossas, escolhas. E no dia a dia, como percebemos isso? Exemplo prático: você já deve ter visto alguém criticando políticos e principalmente, se este, feriu questões éticas e morais do indivíduo julgador, porém, o mesmo que julga esquece que ele mesmo também falha. A diferença é que o chicote fica estreito quando o erro se torna pessoal. Conheço pessoas e profissionais que têm esse padrão julgador para todo o externo, citei o exemplo da política porque na atualidade está extremamente evidente a discussão a respeito dos comportamentos dos mesmos, mas no cotidiano, a ética por conveniência está presente nas filas dos estacionamentos da escola – onde pais estacionam onde não pode, mas para não se atrasarem, ou seja, benefício próprio, pode! Ou quando alguém faz uso de qualquer recurso público, e quando tem condições não o devolve, quando você vota em alguém esperando benefício próprio, inúmeros são os exemplos  do cotidiano e, a grande maioria dos humanos já vivenciou, a diferença é que quando olhamos para nossas experiências, a tornamos mais brandas, comuns, se compararmos aos comportamentos dos outros. E muitas vezes, na maioria delas na verdade, pessoas cruzam a linha ética que cobram para os demais, o erro dos outros sempre é mais grave que os nossos e para os nossos, conhecemos as razões e as “sempre boas” intenções de quem praticou…

A ética conveniente é perigosa e nociva, nos torna entrópicos e incoerentes. Obviamente que as definições coletivas de ética e moralidade são referências para um agir social, precisamos de um direcionador, caso contrário agiríamos apenas pelo nosso sistema límbico, emocional e talvez, nem estaríamos aqui lendo esse artigo. A questão é outra! O convite é que tenhamos nossas referências sim, de valores humanos, pessoais, mas que tenhamos consciência sobre a nossa imperfeição e vulnerabilidades, hoje você julga e amanhã será julgado, isso é um fato, pois nossas decisões não são lineares, somos humanos, talentos e imperfeitos e o nosso maior aprendizado como gente é olhar para equívocos alheios com a mesmo senso de justiça com que olhamos para os nossos, se agíssemos assim, seríamos menos juízes e mais protagonistas de comportamentos saudáveis. Pense nisso!

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