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Doação de órgãos: conhecimento e conscientização são fundamentais para salvar vidas

No Dia Nacional da Doação de Órgãos, especialistas do HSJosé falam sobre a importância de disseminar as informações sobre o tema

A doação de órgãos é um gesto de amor que muda vidas e compartilha esperança. Todo este processo envolve uma série de ações e procedimentos importantes e seguros. Neste dia 27 de setembro, data em que é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, a conscientização e o conhecimento são as chaves para esta ação, e uma das questões que até hoje gera dúvidas é quanto ao diagnóstico da morte encefálica.

“A morte encefálica tem como característica a completa e irreversível parada de todas as funções do cérebro. É ocasionada por uma lesão ou trauma no cérebro que impede o adequado fluxo sanguíneo para as células, causando a morte das mesmas. Ao contrário do que é chamada de ‘morte comum’, a parada da função cerebral ocorre antes da parada cardíaca. Mesmo o paciente apresentando quadro irreversível pode ficar por horas ou dias com o coração batendo se tiver o auxílio de aparelho de ventilação mecânica. Poderíamos dizer, como analogia, que seria como um carro sem motor descendo uma ladeira. Enquanto ele estiver na descida o carro anda, porém, não tem mais como comandar o carro”, explica a médica intensivista do Hospital São José de Criciúma, Marina do Canto.

Para o diagnóstico de morte encefálica é necessário que o paciente esteja em coma aperceptivo (ausência de resposta motora supra espinhal e apneia) e ausência de reflexos de tronco (sinais vistos ao exame clínico), com um diagnóstico prévio de uma doença que possa causar lesão irreversível e exclusão de qualquer evento que poderia imitar o coma aperceptivo (uso de sedativos, por exemplo).

“Com isso, abrimos um protocolo fornecido pela Central de Transplantes do estado de Santa Catarina, padronizado para realizar os procedimentos. São diagnósticos baseados em dois testes clínicos por médicos diferentes e capacitados para o mesmo, associado a um teste de apneia e um exame de imagem que possa visualizar a ausência de fluxo sanguíneo cerebral ou de funcionamento cerebral. O protocolo é realizado para que não haja dúvidas do diagnóstico. Após realizada todas as etapas de forma correta, não existe possibilidade de reverter o quadro. Inclusive, esta é uma das poucas possibilidades de doação de órgãos”, explica a médica.

Corrida pela vida

Com o diagnóstico de morte encefálica e o aceite da família para a doação de órgãos, uma nova corrida contra o tempo se inicia. “Quando temos o diagnóstico mantemos, por meio dos aparelhos e medicações, os órgãos para serem passiveis de doação. No entanto, sabemos que existem riscos, ao longo desta espera de uma parada cardíaca, por exemplo. Mas é necessário aguardar a equipe especializada para retirada de órgãos, além de procurar pacientes em fila de espera compatíveis com os órgãos retirados”, explica a especialista.

De acordo com a médica, o conhecimento disseminado faz com que se perca o medo que muitos têm de diagnóstico errado. “Quando mais conhecimento, mais fácil o entendimento do que seu ente querido está passando, amenizando o luto. Conversar sobre a morte sempre foi algo evitado dentro das famílias, mas saber se seu familiar é doador de órgão é importante para nestes momentos saber que poder ajudar outros pacientes em sofrimento é um conforto”, garante.

Psicologia como aliada no processo

Outra grande aliada no processo da doação de órgãos e no diagnóstico da morte encefálica é a psicologia. “A psicologia pode auxiliar no entendimento do processo da morte encefálica contribuindo, junto a equipe, no momento de informação à família sobre o conceito de morte encefálica, esclarecer quando há dúvidas sobre os critérios e os testes utilizados para confirmação do diagnóstico. Além disso, a psicologia também pode fornecer suporte emocional à família durante essa fase difícil, ajudando-os a compreender e lidar com os sentimentos que emergem pela perda iminente de seu ente querido. Contribuindo com os ritos de despedida, homenagens, visitas especiais, visitas estendidas no beira leito”, enaltece a psicóloga do HSJosé, Fernanda Fernandes.

De acordo com a especialista, a psicologia também pode ajudar a família a expressar e compreender seus sentimentos diante da tomada de decisões relacionadas à doação de órgãos. “A comunicação com a família sobre a morte encefálica é de extrema importância, pois envolve informações delicadas e cruciais para que os familiares possam entender a condição do paciente e tomar decisões necessárias e da forma mais assertiva possível. Neste processo, aqui no HSJosé, geralmente os médicos e/ou enfermeiras informam a psicologia sobre o quadro do paciente e a necessidade de acompanhar a família. A partir disso, iniciamos a aplicação do plano de cuidados e acompanhamento com a família. Coletamos informações para o prontuário afetivo do paciente, realizamos avaliação da dimensão psicológica e atendemos aos familiares e acolhemos suas reações associadas ao sofrimento de forma sensível, empática e compassiva”, comenta Fernanda.

De acordo com a psicóloga, junto com a equipe da Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT), é explicado sobre a situação, respondido aos questionamentos e oferecido suporte emocional à família durante todo o processo.

Visitas seguem suspensas no Hospital São José
Foto: Arquivo/Divulgação

Saiba mais

A Comissão Hospitalar de Transplante do HSJosé é composta atualmente por seis enfermeiros e dois médicos, além dos demais profissionais que auxiliam em todo o trabalho de apoio às famílias.

Todo o processo da doação de órgãos é regulado de maneira central pela SC Transplantes e executado pelas Comissões Hospitalares de Transplantes (CHT) de cada hospital.

No Hospital São José de Criciúma, de janeiro a julho de 2023 ocorreu a abertura de 18 protocolos de pacientes com suspeita de morte encefálica e, destes, sete tiveram a doação efetivada.

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