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Oração, a principal ferramenta do mineiro

Neste domingo, dia 4, é celebrado o dia de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros

De frente para a imagem de Santa Bárbara, com o capacete na mão, Reovaldo Abati, de 32 anos pede proteção. Mais um dia se inicia, dia de muito trabalho. Mais um dia embaixo da Mina da Carbonífera Metropolitana, em Treviso. O ritual diário é repetido há oito anos. Na cabeça de Reovaldo, apenas um pensamento: voltar em segurança para a esposa e o filho. “Não desço a mina sem fazer minha oração”. 

Morador de Treviso, Reovaldo começou a trabalhar na Carbonífera como motorista do trator, que leva os funcionários para a frente de trabalho. Desde essa época, a oração sempre foi indispensável na rotina. 

Profissionais baixando a mina – Foto: Caroline Sartori/Portal Litoral Sul

Na Carbonífera, cada mina tem uma estátua de Santa Bárbara na entrada. Nos últimos dias, um pequeno acidente de trabalho acabou danificando a imagem da Santa que fica na Mina Esperança, onde trabalha Reovaldo. A imagem foi retirada do local, mas isso não impede que o mineiro peça a proteção divina. 

Durante os oito anos de trabalho na mina, Reovaldo lembra que já escapou de alguns acidentes de trabalho, graças à proteção da Santa. “Quando era motorista, já aconteceu de o trator que eu conduzia ficar sem freio, quase provocando um acidente. Mas fomos guardados e não aconteceu nada com ninguém”, relatou o mineiro.

Mas também já viu colegas se machucarem e até perderem a vida. Mas isso fortalece cada dia mais a sua fé. “Quando o trator estaciona para aguardar a autorização para descer a mina, é o momento que eu faço minha oração. Sempre rezo antes de iniciar minha jornada. Já aconteceu de esquecer, mas assim que lembro, faço uma pausa rápida e oro pedindo proteção à Santa”, lembrou.

Pedido que sempre foi atendido e seguido de um agradecimento. Assim que termina o expediente de trabalho, o mineiro agradece por ter saído bem. “Também agradeço pelos colegas de trabalho, por todos voltarem para as suas casas”, enfatizou.

Reovaldo aguardando para baixar a mina – Foto: Heitor Carvalho/Portal Litoral Sul

A segurança como rotina

A segurança dos mineiros é rotina nas minas de carvão da Carbonífera Metropolitana. Desde o momento em que eles entram pelo portão do estabelecimento, já estão vestindo os principais itens que garantem a segurança dos profissionais. Capacete, lanterna, luvas, botas e uma roupa especial. Nenhum mineiro pode descer a mina ou iniciar os trabalhos sem os equipamentos. 

Logo no portão de entrada da mina de carvão, em frente ao cartão ponto, um painel chama a atenção. Nele estão expostos os equipamentos de segurança e seus respectivos valores comerciais. “Deixamos os itens aqui e quanto cada um custa, para que todos vejam o verdadeiro valor dos equipamentos. Cada mineiro recebe aproximadamente R$1,4 mil em equipamentos de proteção individual (EPI)”, explicou o engenheiro de Segurança do Trabalho da Cabonífera Metropolitana, Pedro Daminelli.

Mineiros chegando ao trabalho com equipamentos de proteção – Foto: Heitor Carvalho/Portal Litoral Sul

O baixar a mina

Da entrada da Cabonífera, os profissionais são levados até a boca da mina para iniciar a jornada de trabalho. Os mineiros vão sentados em uma espécie de gaiola, içada em tratores. Na chegada da mina, eles aguardam autorização para poder baixar a mina, que é como os mineiros chamam, devido a frente de trabalho ser subterrânea.

Mineiros prontos para serem levados a frente de trabalho – Foto: Heitor Carvalho/Portal Litoral Sul

Da entrada da mina até o local da extração do carvão, os mineiros percorrem aproximadamente três quilômetros para iniciar os trabalhos. Após a extração, o carvão retirado da mina é levado para a superfície com a ajuda de maquinários. Após retirado das paredes das galerias das minas, que são abertas por meio de explosivos e maquinas, o carvão é colocado em um Shuttle Car, que transporta o carvão até a superfície com uma esteira.

Carvão sendo levado para a superfície através de esteiras – Foto: Heitor Carvalho/Portal Litoral Sul

Além de todo o cuidado e proteção, uma das coisas que não faltam no dia a dia dos mineiros é a alegria. Para eles, não tem tempo ruim. Trabalham sempre sorrindo, brincando um com o outro e, principalmente, colocando apelido nos colegas. “Todos tem um apelido e geralmente eles até esquecem do próprio nome dos colegas”, relatou o engenheiro Pedro.

A história da padroeira

Segundo o padre da igreja católica de Santa Bárbara de Criciúma, Wilson Buss, a história da padroeira dos mineiros é regada de muita fé. No século III da Era cristã, Bárbara era uma jovem, filha única de um rico e nobre habitante de uma cidade do Império Romano.

Quando ainda jovem, Bárbara conheceu os ensinamentos cristãos através de algumas pessoas da cidade onde morava. Passou a acreditar nos ensinamentos de Jesus e foi batizada por um padre, na igreja católica.

“Com isso, o pai, que era do exército da Ásia Menor, proibiu a filha de viver essa fé. Quando chegou de viagem e viu que ela estava convicta disso, o exército a condenou a morte. O pai mesmo se prontificou a degolá-la. Quando ele voltava do local onde havia tirado a vida da filha, caiu um raio e fulminou o pai. Esse é o fato que fundamenta que ela é evocada para proteger de modo especial os mineiros e todos os profissionais que trabalham com fogo”, explicou o padre.

Na igreja do bairro Santa Bárbara, serão realizadas três missas no domingo, dia 4, data em que se homenageia a Santa. Os encontros serão às 8h, 10h e 17h30. Ainda será realizado uma procissão com a imagem de Santa Bárbara pelas ruas do bairro, com saída às 17 horas da igreja.

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