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Sem super poderes, atletas enfrentam desafio: manter a saúde mental

Simone Biles, Gabriel Medina e Douglas Souza declararam recentemente que precisam de um tempo para tratar a saúde mental

Inúmeras vezes atletas são vistos como super-heróis, seres humanos que são imbatíveis e que não possuem problemas. Só que isso não é verdade. Jogadores de futebol, vôlei, basquete, handebol, entre outros esportes, são pessoas comuns que se destacam por ter um talento.

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Nos últimos meses, muitos atletas declararam publicamente que estavam desistindo de competições para focar na saúde mental. Simone Biles decidiu se retirar dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Gabriel Medina está fora pelo menos das duas primeiras etapas desta temporada da Liga Mundial de Surfe (WSL) e o jogador de vôlei Douglas Souza deixou o clube Vibo Valentia, da Itália. O comum entre esses três atletas é que atuam em alto nível, são campeões, mas também possuem problemas.

De acordo com a psicóloga Francinéli Becker, especialista em psicologia do esporte e que atua no Criciúma Esporte Clube, a desistência de participar de uma competição por parte de um atleta é um ato de coragem. “A saúde mental dos atletas precisa de atenção. Quando um atleta de alto nível esportivo declara que precisa cuidar da saúde mental e desiste de uma competição, vemos aí um ato de coragem. Tratar o atleta como o ser humano que ele é, se faz fundamental para trabalhar o alto rendimento esportivo dele”, explica.

A psicóloga pontua ainda o que pode causar esse tipo de problema. “Os atletas são profissionais de respostas rápidas, segundos definem e separam campeões de perdedores. Lidar com a expectativa do sucesso e com as frustrações de quando o resultado não sai como o esperado não é uma tarefa fácil”.

Para o velocista e medalhista Olímpico, Edson Luciano, a pressão psicológica atualmente atinge mais os atletas por estarmos vivendo na era digital. “A cobrança pelo resultado acompanha essa era digital, quanto mais resultado mais mídia, quanto mais mídia mais investidores e consequentemente mais dinheiro. Com isso o atleta se cobra e se sobrecarrega nessa busca constante de resultados e desempenho a ponto de entrar em overtraining – termo usado para designar um excesso de treinamento -, isso interfere em sua carreira de atleta e em sua vida pessoal. Entender suas condições físicas e mentais vão ajudar o atleta a não ultrapassar a linha que separa o saudável do não saudável”, ressalta.

Velocista disputou três Jogos Olímpicos – Foto: Divulgação

Francinéli destaca que essa pressão constante sempre irá existir, o importante é saber lidar com isso. “Realmente sempre vai existir pressão sendo proveniente de ambientes externos e também a pressão interior, que vem do próprio atleta. O segredo está em aprender a lidar com a pressão de forma que o sofrimento possa ser minimizado”.

Redes sociais

O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) orientou os atletas no ano passado para evitarem exposição e seguirem as recomendações do Comitê Olímpico Internacional (COI) em relação ao uso das redes sociais.

–  O Comitê Olímpico do Brasil acredita que o período dos Jogos Olímpicos seja um período de muita emoção e extrema sensibilidade. Os ânimos ficam exaltados e é fácil ser absorvido pelas redes sociais, um ambiente ainda mais intenso de opiniões e fértil para discussões – dizia um trecho da nota.

“O mental é tão importante na vida de um atleta quanto a sua condição física, existem cobranças externas e internas que levam os melhores atletas do mundo a repensarem seus objetivos, planos e até suas carreiras. Um dos grandes exemplos de cobrança que pode interferir na saúde mental dos atletas são as redes sociais. O Comitê Olímpico Brasileiro mostrou-se preocupado com o uso das redes sociais pelos atletas em Tóquio, já que segundo a instituição, a internet pode ser um ambiente ainda mais intenso de opiniões, discussões e cobranças”, explica Edson Luciano.

Tabu que precisa ser quebrado

Após vários casos, é necessário que torcedores e fãs entendam que os atletas precisam de cuidados que vão além dos cuidados físicos. “Um atleta busca a ajuda da psicologia do esporte não apenas por estar com algum problema, busca também para conseguir render em alto nível esportivo por maior tempo possível. O fato de atletas renomados cuidarem da saúde mental auxilia a sociedade esportiva a compreender que atletas precisam de cuidados que vão além dos físicos”, completa a psicóloga Francinéli Becker.

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