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Presença da cigarrinha-do-arroz preocupa agricultores do Sul

Aumento da incidência é registrada e manejo da entressafra é principal forma de combate

O aumento da presença da cigarrinha-do-arroz nas safras da região tem preocupado os agricultores do Sul do estado. No Extremo Sul, por exemplo, a Cooperativa Agropecuária de Jacinto Machado (Cooperja) monitora a incidência e auxilia os agricultores no manejo da praga.

O inseto, chamado também de sogata, age como praga no cultivo de arroz em países mais ao norte da América Latina, como Venezuela e Colômbia. No Brasil, está presente em praticamente todas as regiões produtoras do grão. De 2018 a 2021, ocorreram surtos maiores nos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina, mais ao norte do estado.

Ainda nesta safra, rizicultores da região do Extremo Sul catarinense presenciaram o aumento desta praga nas lavouras. Segundo o agrônomo da Cooperja, Gestor do Departamento Técnico da cooperativa, Jordanis Hoffmann, a presença deste inseto se intensificou nas últimas semanas. “É um inseto pequeno, de 3 a 4 milímetros. Não é uma praga nova no arroz. No entanto, no Brasil, é bem mais recente, e em especial em lavouras catarinenses.  Segundo ele, o ciclo do inseto é muito rápido, tendo de duas a três gerações de sogata em uma safra. A preferência da sogata é o arroz, no entanto pode se desenvolver em outras gramíneas, como canevão e a grama boiadeira.

Prejuízo ao rizicultor

Conforme o agrônomo, insetos do tipo (como outras espécies de cigarrinha) transmitem doenças à planta, principalmente viroses. No caso da sogata, há a transmissão do “vírus da folha branca do arroz”, até o momento não registrado no Brasil. Mesmo sem a incidência reconhecida, outros problemas são causados à planta. Ocorre o dano direto com a sucção da seiva, nas folhas, caules e na própria panícula (a parte da inflorescência, que abriga a flor da planta). Esses danos podem deixar a lavoura com um aspecto amarelo e com folhas secas, além de diminuir a produtividade, pois o que foi utilizado pelo inseto como alimento, não será canalizado para enchimento do grão.

Foto: Divulgação

Epagri monitora incidência

Conforme o engenheiro agrônomo e líder regional do projeto de grãos da Epagri, Fernando Silveira, o relato de incidência da cigarrinha-do-arroz tem aumentado na região. O órgão monitora a praga por meio da Estação Experimental de Itajaí, mas o aumento dos casos vem sendo registrado em todas as regiões. “Já tivemos danos econômicos, mas é difícil de mensurar, pois ainda não sabemos todas as áreas afetadas”, destaca.

Conforme o engenheiro, a Epagri deve monitorar com mais frequência o inseto se registrado o aumento da incidência nas próximas safras.

Medidas de controle

Conforme o agrônomo da Cooperja, Jordanis Hoffmann, o manejo biológico é importantes para que a sogata tenha predadores. “Alguns produtos, como bioinsumos, agentes biológicos como fungos e bactérias, que predam pragas, podem ajudar. Em países que esse inseto é considerado uma praga do arroz a mais tempo, manejo com fungos no inicio da infestação da sogata dão bons resultados”, explica. “Empregar inseticidas microbiológicos no nessa etapa, especialmente aqueles formulados com metarrízio e bouvéria, pode contribuir para o combate”, frisa.

Por isso também se deve evitar aplicações desnecessárias desse tipo de produto, para que não afetar de forma negativa esses agentes que auxiliam no controle da cigarrinha. “Um uso mais racional inseticidas, se baseando em um monitoramento constante das pragas, permite um manejo biológico dos agentes benéficos melhor e também diminui o custo de produção”, afirma Hoffman.

Além do monitoramento constante, o agrônomo destaca também a importância de lidar com as plantas após a colheita, para evitar a permanência da praga na lavoura. “Devemos destruir a resteva, que são os restos culturais da lavoura, de onde pode vir a segunda brotada, a soca. Uma vez que, com a permanência dessas plantas, estamos ajudando a sogata a permanecer no ambiente de produção”, ressalta o agrônomo.

O mesmo que afirma Silveira, destacando que o manejo da entressafra é principal forma de evitar a incidência da praga. “O problema dessa cigarrinha do arroz é que ela pode sobreviver também em outras plantas. Então, além de fazer o manejo da entressafra, da palhada, tem que também cuidar das taipas e o que tem ao redor, pra não deixar muito mato, para que ela não vá para esses locais”, afirma. De acordo com ele, o inseto sobrevive mesmo em baixas temperaturas, se tiver onde se abrigar, por isso é difícil combatê-lo. “A cigarrinha do milho, por exemplo, dependendo da temperatura, você consegue quebrar o ciclo dela. E essa do arroz não. Então temos que diminuir os lugares onde ela pode se esconder”, destaca.

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