Ao longo da sua trajetória como ser humano, imagino que você já tenha escutado histórias sobre famílias que se destituíram por conta de heranças, irmãos, primos, tios, que cortaram relações por conta de bens materiais. Por alguma razão, sentindo-se injustiçados e enganados, simplesmente abandonam-se, como verdadeiros estranhos. Se você não ouviu histórias como essa, imagino que você possa ser a pessoa que vivenciou ou está vivenciado isso na pele. Obviamente que por trás da herança visível aos olhos, como terrenos, casas, fazendas, dinheiro, existe a herança comportamental, e é exatamente sobre essa temática o meu convite à reflexão, caro leitor.
É fato que nossas famílias são um grande sistema, uma organização de fato, existem hierarquias, regras, valores, ritos e rituais e claro, cada uma tem uma cultura, um jeito de fazer as coisas. Se considerarmos que somos um sistema, precisamos que ele continue vivo e então, o alimentamos de quê? De comportamentos conhecidos, nossas heranças comportamentais. Nem toda forma de manter esse sistema será saudável, repare em padrões de sua família ou de pessoas a quem você conhece e observe as possíveis réplicas, por exemplo, um filho que cresceu vendo seu pai beber e cometendo atos agressivos com sua família, mesmo tendo sofrido, mesmo tendo registrado em suas memórias momentos de dor, quando chega na vida adulta, costumeiramente, acaba repetindo o mesmo padrão. Será de propósito? Obviamente não. Vamos imaginar que as repetições acontecem de forma inconsciente, sem a intenção, mas mantendo vivo um ciclo conhecido, mesmo não sendo saudável.
Será que é também “vítima de outras vítimas”? Como assim? Será que quando estamos reproduzindo heranças comportamentais que não nos levam para uma vida plena, saudável, não estamos sendo leais demais com parte de uma história cujo final não foi necessariamente feliz? A pergunta é como não aceitar essa herança? A resposta é simples, porém, não é fácil: se percebendo, se conhecendo, sendo maduro o suficiente para ser crítico com você mesmo. E quando falo em crítico aqui, não falo em excessos, me refiro à não se proteger. Buscar profissionais para lhe ajudar nessa jornada difícil e libertadora de autoconhecimento pode ser a grande chave para o início de novos padrões.
A questão é: você não precisa ser leal com repetições que impactam seu crescimento, seja na sua carreira, casamento, relações e até mesmo em sua relação com o dinheiro. Quando você se conscientiza que nem toda a herança vai edificar sua vida, você começa a construir novas histórias, autorais e sem tanto apego ao passado. Quando você se liberta de uma herança organizacional doentia, por exemplo, você ganha em saúde mental, quando você se liberta de uma herança familiar nociva, você ganha vida. A pergunta provocativa é: qual a herança você vai deixar para os seus? Pense nisso!