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Entenda o que é retinoblastoma, câncer raro da filha de Tiago Leifert

Médico oftamologista explica o que é retinoblastoma, câncer raro que acomete filha de Tiago Leifert; dois casos foram diagnosticados em Criciúma em um ano

Após o vídeo em que o apresentador e jornalista Tiago Leifert e a esposa, revelaram que a filha do casal, Lua, possui um câncer raro, muitas pessoas se perguntam: O que é retinoblastoma? O médico oftalmologista, Dr. César Da Soler Dário, explica que é um tumor intra ocular, que atinge os retinoblastos, que são células presentes na retina dos olhos, em crianças.

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“Mais comum até os cinco anos, 95% dos retinoblastomas são descobertos até 5 anos de idade. Tem relatos de casos até com 12-14 anos, mas são mais esporádicos, maioria vai ocorrer nos primeiros cinco anos de vida”, explica o oftalmologista.

Segundo ele, o retinoblastoma pode ser hereditário ou esporádico. Sendo que no hereditário, se herda o gene do Rb ‘defeituoso’ e no esporádico acontece uma mutação na reprodução das células. Sendo que é preciso uma ocorrência de duas mutações na célula para o aparecimento do tumor.

“Quando é hereditário ele geralmente é mais grave, sendo bilateral ( ambos os olhos ), ou unilateral multifocal ( em vários focos de um olho ), porque todas as células carregam a mutação. O esporádico, geralmente ele é unilateral ( atinge apenas um olho ) e unifocal, porque fica localizado em um foco só, na célula de origem”, destaca o Dr. Dário.

O tempo de diagnóstico entre o hereditário e o esporádico, também, é diferenciado. “Retinoblastoma hereditário, a grande maioria o diagnóstico é feito entre 12 e 18 meses de vida, quando é esporádico geralmente fica entre 18 a 36 meses de vida”, destaca o oftalmologista.

 

Tumor que se espalha rápido

Quanto mais cedo for o diagnóstico da criança, melhor será o tratamento e mais chances ela terá de recuperação. Tendo em vista, que o retinoblastoma é um tumor que cresce e se espalha rápido ( localmente e a distância ). Por exemplo, pode através do nervo óptico chegar até o cérebro da criança, ou se espalhar pela corrente sanguínea para sistema nervoso central, para medula óssea , entre outros órgãos a distância ( metástase).

“Tratamento tem que iniciar rápido. Se tem o tumor diagnosticado a seis meses ou mais, por exemplo, e não tratou, existe grandes chances da metástase, onde já se espalhou pelo organismo. Quanto maior a lesão, mais difícil é o tratamento, mais difícil reduzir a lesão. Temos as classificações ABCDE, se for ABC é uma abordagem, agora o DE é outra , já que é mais grave”, ressalta o oftalmologista.

Tratamentos

Quanto aos tratamentos, ele destaca que depende do nível em que está o tumor. Se o tumor é unilateral, bilateral e ou trilateral ( caso especifico onde atinge simultaneamente a glândula pineal ). Caso seja algo mais localizado, pode-se usar o tratamento a laser e ou a crioterapia ( congelamento ) .

“Quanto menor o tumor, maior a chance de preservação do olho e maior a chance de preservar a visão. Tumores até 3mm, mais localizado, pode-se usar o tratamento a laser ( fotocoagulação/ termoterapia e ou a crioterapia – congelamento )” , afirma o médico.

Segundo ele, quando o tumor atinge os dois olhos, geralmente, o caso é mais grave. Podendo ter duas situações distintas em cada olho. Dependendo da classificação do retinoblastoma, é realizada uma quimioterapia intravenosa, para reduzir o tamanho das lesões e possíveis metástases.

“Estado mais avançado tem suspeita de que está em outro local, é feito a quimo sistêmica, aí reduz a lesão e pode entrar a quimioterapia seletiva arterial, onde é feito um tratamento quimioterápico localizado para dentro do olho. É colocado um cateter arterial , normalmente na região da virilha, que vai subindo até a região da carótida interna, artéria oftálmica, até a região do nervo óptico, posicionando para jogar os remédios diretamente na região do olho. É uma quimio localizada, com bem menos efeitos colaterais”, explica o oftalmologista.

Em alguns casos mais severos é necessário a retirada do globo ocular e ou enucleação. “Objetivo sempre é salvar a vida das crianças, mas pensando na preservação do globo ocular e da visão futura dela”, ressalta.

Dois casos diagnosticados em Criciúma

Apesar de ser um câncer raro, que atinge cerca de um entre 15-20 mil nascidos, em um ano foram diagnosticados dois casos em Criciúma.

“Tivemos dois casos em um ano, foi uma incidência um pouco acima do normal. Se for pegar a cidade de Porto Alegre, uma revisão/ levantamento do Hospital das Clinicas, referência em tratamento oncopediátrico. De 1983 até 2012 eles tiveram 140 casos em 30 anos. Então a incidência não é muito alta, mas é algo que quando se vê tem que correr contra o tempo”, alerta o oftalmologista.

Entre estes casos está o da pequena Luize Marques, filha da analista de gestão de riscos, Alice Fernandes Marques, 38 anos. Nas redes sociais Alice compartilha a luta e leva conscientização sobre o retinoblastoma. “Ela é a nossa ‘Tiago Leifert”, citou o oftalmologista, devido ao trabalho de esclarecimento que ela transmite.

Importância da avaliação com oftalmologista

 

A discussão ocasionada, após a divulgação de Leifert, mostra a importância da criança passar por uma avaliação no oftalmologista. Principalmente do primeiro ano de vida, até os três anos de idade.

“Quando a criança nasce, ali nas primeiras 48h-72h é feito o teste do olhinho. O pediatra é treinado para ver esse tipo de situação, teste que é repetido nas consultas de puericultura. Mas é importante que no segundo semestre, após o parto, quando os pais já estão mais acostumados com a rotina, fazer uma avaliação com oftalmologista. Não, apenas devido a esse caso, mas os diversos outros tipos de doença que podem existir”, reforça o oftalmologista.

Além disso, ele reforça a importância de os pais deixarem fazer o exame. “´Pingamos um colírio para dilatar a pupila e conseguir observar o fundo do olho. Tem pais que não deixam, acham invasivo demais, sendo que é um exame seguro e de rotina. No dia seguinte , o efeito da dilatação do olho volta ao normal. É bem tranquilo”, comenta.

Sinais de alerta que podem ser observados:

Quanto ao retinoblastoma, ele destaca que alguns sinais podem ser observados nas crianças. O mais comum deles é o reflexo branco, o chamado ‘olho de gato’. Fato que aparece, principalmente, em fotos. Quando ao invés de aparecer um reflexo vermelho no olho, o reflexo que aparece é branco.

Além disso, o estrabismo é muito comum, observar o olhar da criança. Se ele desvia muito, não consegue focar em um objeto, olhar perdido e ou desinteressado, são sinais de alerta.

“Importante a campanha de divulgação até para tirar o bloqueio de trazer criança no médico oftalmologista, muitos pais nem sabem sobre a necessidade que existe de avaliar a criança. Além disso, a importância de deixar o médico examinar”, finaliza o oftalmologista.

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A pequena Luize e a luta contra o retinoblastoma

 

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