Coluna Pelo Estado entrevista TarcĂsio Rosa, presidente da Celesc
O Governo do Estado e a Celesc anunciaram nas últimas semanas um Plano de Investimento histórico para Santa Catarina. Serão R$ 4,5 bilhões utilizados, entre outras coisas, para aumentar a capacidade do estado em gerar energia, estimular o uso de energia limpa e expandir a capacidade de produção.
“Desde 2007, o consumo de energia em Santa Catarina praticamente dobrou porque a realidade está mudando e existe uma demanda a ser atendida. Os pequenos produtores já trabalham com processos automatizados e, por isso, precisam de mais energia para expandir seus negĂłcios, os grandes querem se modernizar e as pessoas estĂŁo utilizando mais eletricidade. É preciso atender a tudo isto”, explica o presidente da Celesc, TarcĂsio Rosa, em entrevista Ă coluna.
Para a elaboração do Plano de Investimento apresentado, ele conta que foram realizados estudos técnicos pela estatal que consideraram a demanda de cada região e o crescimento previsto para os próximos quatro anos.
E o fruto destes estudos deu origem aos projetos previstos no plano que, entre tantos, estão a ampliação da capacidade transformadora de subestações existentes, construção de novas subestações, instalação de novas linhas de distribuição, investimentos em média e baixa tensão e a instalação da 3ª etapa do Corredor Elétrico Catarinense.
Santa Catarina já conta com uma das maiores rotas eletrificadas do Brasil, com mais de 1.500 quilĂ´metros de estradas com estações de recarga e a iniciativa irá implantar, nos prĂłximos quatro anos, mais 10 estações de recarga de veĂculos elĂ©tricos em todas as regiões do estado.
Ainda sobre essa tendĂŞncia global do uso de veĂculos elĂ©tricos, o presidente ressaltou que o Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc), em parceria com a Celesc, já desenvolve projetos para substituição de motores de veĂculos a combustĂŁo por um sistema elĂ©trico, o que ainda Ă© bastante caro, mas a ideia Ă© baratear este custo e torná-lo mais acessĂvel nos prĂłximos anos.
Outro ponto interessante que Rosa mencionou foi o fato de a estatal querer investir em usinas de energia fotovoltaica, ampliando a capacidade de produção de energia limpa.
“NĂłs temos o privilĂ©gio de viver em um paĂs cuja matriz energĂ©tica Ă© limpa, com hidrelĂ©tricas, eĂłlicas, fotovoltaicas, nĂŁo temos como fugir disto”, explicou.
TarcĂsio Rosa, que está há pouco mais de trĂŞs meses no cargo a convite do governador Jorginho Mello (PL), deu mais detalhes sobre os principais projetos da Celesc para os prĂłximos quatro anos na entrevista a seguir. Confira:
Pelo Estado – De uma forma geral, como o plano de investimento irá ajudar os pequenos negĂłcios?
TarcĂsio Rosa – Nosso plano começa por eles, para que fiquem maiores. Quando falamos em 500km de rede trifásica Ă© justamente para atender os pequenos produtores, as pequenas indĂşstrias. Chega para a Celesc demanda de indĂşstrias grandes, de menores que querem crescer e ampliar, todas no mesmo tom, com a mesma necessidade, e que precisamos atender. Essa rede trifásica terá a capacidade de levar mais energia para os pequenos negĂłcios que tambĂ©m possuem necessidade de modernizar suas produções e, para isto, precisam de mais energia.
PE – Quais sĂŁo os projetos para o interior do estado?
TarcĂsio – Fizemos um diagnĂłstico, a pedido do governador, de onde nĂŁo há energia suficiente e nosso plano atinge muito os municĂpios do interior com a expansĂŁo da rede trifásica, que terá mais energia para atender a demanda que, hoje, está reprimida. A Celesc tem 16 regionais e, a partir dos apontamentos e solicitações destas regionais, mapeamos onde falta capacidade da rede e priorizamos estas regiões, que vai de Lages atĂ© o Extremo Oeste, por exemplo. Em Videira, vamos inaugurar cerca de 50km de rede trifásica na primeira semana de junho. Esses 500km irĂŁo gerar mais capacidade energĂ©tica para quem está longe dos centros, para os pequenos municĂpios que se encontram nos extremos. O nosso foco Ă© o interior porque Ă© onde precisamos ofertar mais.
PE – O lançamento da 3a etapa do Corredor ElĂ©trico Catarinense Ă© inovador e antecipa uma tendĂŞncia mundial. As regiões que receberĂŁo as estações já foram mapeadas? Quais os critĂ©rios de escolha?
TarcĂsio – A energia elĂ©trica Ă© um caminho sem volta e a energia limpa, especialmente no Brasil onde a matriz energĂ©tica Ă© limpa, Ă© algo que está chegando, ganhando espaço e nĂŁo temos como recuar. Hoje, em Santa Catarina, vocĂŞ pode pegar um carro elĂ©trico e cruzar o estado abastecendo em eletropostos. O que esta etapa do nosso projeto irá fazer Ă© ampliar os pontos de abastecimento e as possibilidades de circulação dos carros elĂ©tricos fora das vias principais. Já temos estações de norte a sul e, agora, vamos aumentar para uma linha de leste a oeste. Em algumas estações, chamadas estações rápidas, o carro poderá abastecer e renovar sua autonomia em 15 minutos.
PE – EstĂŁo previstos R$ 460 milhões para a expansĂŁo e modernização do parque gerador da Celesc atĂ© 2026. Já existe um cronograma para esta ampliação? Como ela será realizada?
TarcĂsio – Existem pequenas hidrelĂ©tricas cuja capacidade vamos ampliar, inclusive já recebemos as outorgas de uso de água referentes das usinas Salto Weissbach, de Blumenau, e Caveiras, de Lages. TambĂ©m estamos fazendo um trabalho na primeira usina que trouxe energia para a Grande FlorianĂłpolis, que Ă© a Usina de Maruim, em SĂŁo JosĂ©. Em março, assinamos a documentação e, a partir do ano que vem, já deve voltar a operar com mais capacidade, alĂ©m de se tornar um ponto de visitação, pela beleza do prĂ©dio e toda sua questĂŁo histĂłrica. Vamos investir tambĂ©m na área de energia limpa com usinas fotovoltaicas que ampliarĂŁo a capacidade de fornecimento desta energia. Hoje, temos uma em Blumenau, mas nĂłs queremos expandir.
PE – O Programa de EficiĂŞncia EnergĂ©tica pretende beneficiar clientes de todas as classes de consumo. Como cada classe será atingida?
TarcĂsio – Este já Ă© um programa de longa data. Nesta área, temos pesquisas em desenvolvimento de eficiĂŞncia energĂ©tica com investimento de R$80 milhões em quatro anos para projeto que estimulem inovações em eficiĂŞncia energĂ©tica e, de alguma forma incentivam a redução do consumo de energia. Pequenas empresas, escolas, entidades do setor pĂşblico ou privado podem se habilitar, apresentar sua ideia de produção e economia de energia, para ser desenvolvido em parceria com a AgĂŞncia Nacional de Energia ElĂ©trica. SĂŁo projetos que irĂŁo beneficiar a todos, das mais altas atĂ© as classes mais baixas, com economia e reaproveitamento de energia.
PE – Como será a entrada da Celesc no Mercado Livre de Energia?
TarcĂsio – A Celesc, atravĂ©s da Celesc Varejista, alĂ©m de entregar a energia para o consumidor, tambĂ©m poderá ser uma fornecedora e, em pouco tempo, alĂ©m das grandes indĂşstrias, os pequenos comerciantes catarinenses terĂŁo a opção de negociar condições como preço, quantidade de energia contratada, perĂodo de suprimento, pagamento, entre outras, com a prĂłpria Celesc Varejista. A ideia Ă© dar ao cliente a opção de ter o mesmo fornecedor e distribuidor de energia, já que no Mercado Livre de Energia, o consumidor escolhe a empresa de energia com a qual quer se relacionar, o que permanece Ă© a distribuidora, no caso de Santa Catarina, a Celesc.