Chegar ao cume do Monte Everest, a montanha mais alta do mundo com 8.848 metros acima do nível do mar, é uma aventura para poucos. Desde 1953, quando Edmund Hillary e o sherpa (montanhista local que auxilia os alpinistas) Tenzing Norgay fizeram a primeira subida oficial ao Topo do Mundo, entre a fronteira do Nepal e a China, vários outros tentaram a façanha, alguns conseguiram e outros ficaram pelo caminho para sempre.
Ao todo, aproximadamente 4% dos alpinistas perdem a vida na tentativa de vencer a montanha, principalmente após o acampamento base, que fica a 5.400 metros. A partir dali, inicia a aventura de subir passo a passo, acampamento por acampamento, até o cume. Porém, o maior risco começa após oito mil metros, na conhecida zona da morte, onde o corpo começa a se degradar e não é possível ficar muito tempo. No topo, o alpinista pode ficar até no máximo 15 minutos. Ao todo, 300 pessoas morreram tentando e 28 ainda estão na montanha, pois o valor do resgate é altíssimo, variando em torno de R$ 400 mil.
Mesmo sabendo dos perigos, muitos nascem com o sonho de estar no Topo do Mundo. Natural de Criciúma, onde vive sua família, André Freitas morou na cidade durante sua infância, até os 11 anos de idade, e retornou há quatro anos. O empresário, sócio da vinícola Villa Francioni, de São Joaquim, na serra catarinense, tem como profissão o marketing, mas possuí como estilo de vida a aventura.
Pai de três filhos, André já realizou oito provas de Ironman, onde o competidor precisa nadar 3,8 km, pedalar por 180 km e correr mais 42 km, considerado a maior prova de Triathlon do mundo. Em média, um triatleta completa a prova em 16 horas. “Trabalhei como salva vidas na Praia Brava, em Florianópolis, e sou piloto de avião e helicóptero . O espírito aventureiro está no sangue. Sou um cara de desafios, e o maior desafio de todos é a escalada do Monte Evereste”.
Caminhadas de até 11 horas por dia como treinamento
Caso o cronograma saia como combinado, ele poderá comemorar seu aniversário de 49 anos, no dia 14 de maio, no lugar mais alto da terra, e ainda ser coroado como o primeiro catarinense a concluir a escalada. Mas esse sonho começou a se tornar real lá atrás, em 2011, ano em que ele foi para a Índia. “Durante 30 dias fui um mochileiro no país, e então, acabei indo para o Nepal , foi quando me interessei novamente em escalar o Topo do Mundo”.
Por ser um atleta de triatlo, André está preparado, porém, a montanha mais alta do mundo exige sempre mais. “A única mudança que eu acabei fazendo nos meus treinamentos foi caminhar mais. Em alguns momentos da preparação, caminhei por até 11 horas por dia para simular o dia do ataque ao cume”, revela.
Ele também precisou melhorar sua condição aeróbica, então realizou corridas longas, pedalas e musculação, mantendo frequência de cinco vezes por semana em uma academia. Além da preparação física, o aventureiro precisou realizar a aclimatação, que é o momento de descanso no campo base, muito importante para a recuperação do corpo, e é exatamente dessa parte que ele jamais irá se esquecer.
Sobrevivente da tragédia de 2014
O criciumense estava na montanha no fatídico dia 18 de abril de 2014, data em que aconteceu uma das maiores tragédias da história do Everest, que vitimou 16 montanhistas, a maioria sherpas. Por volta das 7 horas da manhã (22h15 de Brasília) uma avalanche atingiu a Cascata de Gelo do Khumbu, local próximo ao acampamento 1.
Naquele ano, outros seis alpinistas do Brasil estavam tentando alcançar o cume (um recorde de brasileiros na temporada), todos ficaram bem. André já havia concluído o primeiro ciclo de aclimatação e iria subir até o acampamento 2 no dia seguinte. “Foi um momento muito triste, nós estávamos no campo base víamos os corpos sendo trazidos de helicóptero para o campo base. Os corpos vinham pendurados pelo lado de fora dos helicópteros”, relembra.
Depois da tragédia, os sherpas resolveram “fechar” a montanha e ninguém mais conseguiu escalar pela face sul. Na avalanche, boa parte das cordas da Cascata de Gelo foram danificadas. “Acabamos esperando uns quatro dias antes de voltarmos para casa, nosso grupo na época foi o primeiro a sair da montanha”. Mas apesar da tragédia, o sonho do Topo do Mundo continuou vivo em André. No ano seguinte, um grande terremoto no Nepal também impossibilitou a escalada. E desde aquele ano até 2018, ele se organizou para poder voltar e concluir a escalada.
A saudade da família e a tão sonhada conquista
Por se tratar do local mais extremo do planeta, tudo por lá é precário. “Eu sabia que seria assim. Mas é difícil se acostumar com a alimentação, a comida aqui é bastante enjoativa. Mas uma das maiores dificuldades é estar longe da minha família”. As caminhadas também tem sido um desafio, pois segundo André, são cansativas e longas. Além do fato de acordar de madrugada em um frio de pelo menos 10º abaixo de zero.
“Tanto eu quanto o meu grupo estamos muito ansiosos para começar a subir a montanha. Já estamos aqui há pelo menos um mês e meio, queremos concluir a expedição com a chegada ao cume e poder ir pra casa”, revela.
Sobre a tão sonhada chegada ao topo mais alto do mundo, o criciumense diz que ainda não preparou nada de especial, mas estará com a bandeira do Brasil. “A felicidade será imensa quando eu chegar ao cume , estou também muito feliz em ser o primeiro catarinense a conquistar a montanha”.