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Amor além da vida: Conheça a história dos peculiares túmulos de mãos dadas

A história dessas lápides conta o emocionante desfecho de um romance que nem mesmo a morte pôde separar. O cemitério Nabij de Kapel in ‘t Zand, na localidade de Roermond, na Holanda está dividido em várias seções. Os túmulos são classificados de acordo com a religião e separados com paredes de pedras, refletindo o posicionamento das crenças religiosas. No século 19 cada religião ocupava um diferente terreno sagrado do cemitério de Roermond, na Holanda. Separados por altos muros, um setor guardava os restos de protestantes, enquanto o outro garantia o descanso dos católicos.

 

No entanto, este cemitério guarda um caso especial. A persistência de um casal que, contudo, superou até mesmo os limites da vida e da fé para que ambos pudessem permanecer juntos após a morte. Infelizmente, a diferença de fé, que não lhes foi um obstáculo durante os 38 anos em que viveram juntos, finalmente viria à tona na hora de suas mortes. De um lado, Josephina Caroline Petronella Hubertine van Aefferden, de 68 anos, era a nona de dez filhos de uma família de aristocratas católicos. Do outro, Jacob Werner Constantin van Gorkum, 71 anos, um coronel da cavalaria holandesa, que nasceu em meio a uma família de protestantes.

No dia 10 de janeiro de 1809 nasce o holandês, Jacob Werner Constantin van Gorkum de religião protestante, batizado no dia 29 de janeiro de 1809, numa antiga Igreja em Amsterdã. Seu pai, fez carreira no Exército e alcançou o posto de major-general, além de ter sido um cartógrafo militar muito talentoso, e teve uma contribuição significativa na Batalha de Waterloo e o retrato de sua esposa salvou sua vida: uma bala foi desviada graças ao medalhão que ele levava no pescoço.

Josephina Carolina Petronella Hubertine van Aefferden, nasceu no dia 28 de junho de 1820 em Roermond, a penúltima filha de uma família de 10 filhos. Seu pai foi um membro do Conselho de Venlo e foi nomeado Cavaleiro de Limbourg, obtendo um título da nobreza, tornando-se um ancestral nobre de famílias holandesas e belgas. O ramo holandês desta família terminou em 2006.

Josephina e Jacob, apaixonam-se, mas a sua relação não é aceita. Jacob é onze anos mais velho que Josephina, ele um soldado holandês na altura coronel da cavalaria, e ela é de uma família nobre que participou da independência da Bélgica, ele é protestante e ela é católica. No dia 3 de novembro de 1842 se casaram na Alemanha, perto da cidade de Venlo. Tal casamento, com pessoas de classe e religiões diferentes, no século 19, não era assim tão comum, aos olhos da sociedade da época, o casamento dos dois era considerado super controverso. Apesar de tudo, eles decidiram se casar mesmo assim e tiveram um filho e duas filhas. A família adaptou-se às regras do sistema segregacionista.

Na época em que os dois se casaram, a pilarização, ou seja, a segregação que dividia a sociedade neerlandesa em três “pilares” básicos, o protestante, o católico e os judeus, era considerada um assunto muito sério, e as pessoas que pertenciam a um segmento muitas vezes evitavam manter qualquer tipo de contato com quem fazia parte de outro, organizados de acordo com seus costumes, nomeadamente no que toca às questões relacionadas com o casamento. Os casamentos entre pessoas de religiões diferentes não eram bem aceitos.

Mas uma regra parece incontornável: os dois cônjuges não podem ser enterrados juntos, cada um deve ficar no lado do cemitério de Roermond que corresponde à sua religião. De facto, em 1858, quando o arquitecto Pierre Cuypers reconstruiu o antigo cemitério da cidade, ele separa a parte católica da protestante por um muro.

Apesar de todo o criticismo que sofreram, Gorkum e Aefferden permaneceram casados por quase quatro décadas e só se separaram quando o militar faleceu, em 1880.

Quando Jacob van Gorkum faleceu no dia 29 de agosto de 1880 em Roermond, seu túmulo foi erguido junto ao muro da seção católica do cemitério, obviamente na área reservada para os protestantes. Muito provavelmente o desejo do casal já tinha sido esquematizado. Para o público, no entanto, era um mistério a escolha do local.

Não está claro se na altura o monumento já tinha uma estrutura adequada ou se esta foi feita posteriormente, juntamente com a construção do túmulo da esposa.

Oito anos mais tarde, quando a viúva de van Gorkum também falece, no dia 19 de novembro de 1888, antes de morrer, Josephina deixou claro que não gostaria de ser enterrada no mausoléu da família – que tem um local proeminente, no centro do cemitério – disse que queria ser sepultada o mais próximo possível de Jacob, em frente ao túmulo de seu marido, que foi erguido junto ao muro — e teve que ficar no lado católico do campo santo. Finalmente, o monumento estava completo.

Pois o que você viu acima foi a solução encontrada na época para atender o último desejo da mulher. Assim, apesar de se encontrarem separadas por um muro e pelas religiões, as mãos dadas no topo passam por cima dessa bobagem sem sentido e conectam as duas sepulturas. Os dois túmulos foram colocados junto do muro que divide o cemitério e as lápides foram planeadas de forma a que serem mais altas que o muro, de maneira a que duas mãos esculpidas no topo das lápides deem as mãos, uma mão masculina e uma mão feminina que se sobrepõem, como um símbolo do amor além da morte e mais forte que a religião.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, várias facções políticas de pequeno porte começaram a surgir pela Europa — entre elas a Nederlandse Volksbeweging, um grupo socialista contrário à pilarização nos Países Baixos.

Pois a segregação foi perdendo força ao longo dos anos e, em meados dos anos 60, acabou sendo dissolvida de vez. E os peculiares túmulos do casal sobreviveram à reforma e hoje servem de lembrança de uma época que, no fundo, nem parece tão distante assim, quando as pessoas eram divididas por inclinações políticas, muros e religiões. O túmulo foi considerado como como monumento nacional em 2002.

O casal parece ter decidido que “até que a morte nos separe” não era bom o suficiente para eles… Obrigada pela leitura, me siga nas minhas redes sociais:
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