Você já parou para pensar na origem de algumas palavras que usamos em nosso dia a dia? Como utilizamos de maneira espontânea, claro que nem sempre refletimos sobre o significado real de certas expressões ou palavras que, em razão do uso corriqueiro, acabam cristalizando-se na fala e também na escrita. Mas existe um vocábulo em nossa língua portuguesa que costuma despertar a curiosidade de muitas pessoas: estamos falando do verbo judiar. O verbo “judiar”, costuma ser alvo de polêmicas entre os gramáticos.
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A palavra “judiar” possui uma evolução que vem desde o grego JOUDAIOS, que significava “aqueles que pertencem à tribo de Judá”, no latim se transformou em JUDAEUS, “morador da Judéia”, e finalmente para o castelhano JUDIARIA, cujo significado é “bairro judaico” ou “maus-tratos”.
Todos nós sabemos do que se trata a palavra judiar, já que a empregamos quase que inadvertidamente em nosso cotidiano. Ainda assim, vale uma rápida consulta no dicionário, que podemos ver a seguinte definição:
Judiar: Verbo transitivo indireto. Usar de judiação; maltratar.
Judiação: Substantivo feminino. Maus-tratos.
O verbo judiar é formado pela palavra “judeu” mais o sufixo “iar”. Portanto, judiar significa “tratar como os judeus foram tratados”, ou seja, “maltratar”. Quem conhece um pouquinho de História entende exatamente a carga semântica da palavra, já que durante a Segunda Guerra Mundial o Holocausto na Alemanha exterminou milhões de pessoas de ascendência judaica. Especula-se, portanto, que a conotação que hoje damos ao verbo em questão tenha essa origem.
Essa possibilidade que relaciona o verbo judiar ao extermínio de judeus na Alemanha nazista, é a mais provável e também a mais difundida. Seria, portanto, razoável a permanência em nosso vocabulário de uma palavra que carrega em si uma carga supostamente depreciativa? Já que significa tratar como os judeus foram tratados. E que é usado como sinônimo de fazer sofrer, atormentar, maltratar ou ainda com tom de pena. Bom, o fato é que muitos estudiosos da linguagem consideram politicamente incorreto o verbo judiar e, por esse motivo, aconselham os falantes a evitá-lo, por possui uma carga negativa e preconceituosa muito grande na palavra, sugerem que substitua por: “sofrimento” ou “maltrato”.
Etimologicamente é nítida a relação entre o verbo judiar e os judeus. No livro “Os porquês do Judaísmo”, o rabino norte-americano Henry Sobel, um dos maiores líderes da comunidade judaica do Brasil e aqui radicado há mais de cinquenta anos. Henry, que faleceu em 2019, falou sobre o verbo judiar e seu pretenso sentido pejorativo:
“O significado está claro: não há nada de pejorativo. Não fomos nós que maltratamos. Nós, os judeus, fomos maltratados. E cada vez que usamos a palavra “judiar”, estamos conscientizando os outros. O termo não deve ser eliminado. Pelo contrário, é bom que o mundo se lembre do preconceito do passado, para que não o permita no presente e no futuro.”
Mas ainda aparecem outras referências para origem do verbo que merecem ser estudadas. Uma das outras possíveis explicações para tal escárnio seria o mito do Deicídio. Segundo o Evangelho de São Mateus, os judeus teriam clamado pela morte de Jesus e desejado que a culpa recaísse sobre todos os judeus por toda eternidade. Os judeus, após pedirem a execução de Jesus e a libertação do criminoso Barrabás, foram declarados culpados coletivamente e passaram a ser conhecidos, nas acepções religiosas, como maus, deicidas e insensíveis.
Há também outra possibilidade que remete o verbo judiar a Judas, um dos doze apóstolos que, conforme a narrativa bíblica, teria entregado Jesus a seus algozes. É sabido que no sábado de aleluia muitos fiéis, seguindo a tradição popular, malham ou queimam um boneco que representa Judas, ato que simboliza a morte daquele que, de acordo com algumas religiões, é a representação máxima da traição.
Viu só? Não é mesmo interessante a origem da palavra “judiar”? Essa análise nos mostra que as palavras também têm história! Obrigada pela leitura, me siga nas minhas redes sociais: