A imagem de uma conversa por videochamada, na qual aparecia o atual chefe da Casa Civil do Estado, Amandio João da Silva Junior, causou polêmica durante o depoimento do empresário Samuel de Brito Rodovalho à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Respiradores, na noite de ontem, 23. Os membros da comissão consideram o fato grave, apesar da testemunha ter afirmado que Silva Junior ainda não estava no cargo quando a conversa entre os dois ocorreu. O chefe da Casa Civil será ouvido pela CPI na próxima semana.
Os parlamentares também criticaram o fato de Rodovalho não ter alertado o Estado que não haveria condições de entregar respiradores importados da China, independente de quem fosse o fornecedor. Isso porque, durante o depoimento, o empresário disse que recebeu a informação que o governo Chinês havia proibido, à época, a saída desses equipamentos.
Rodovalho foi ouvido pela CPI por quase duas horas e meia na condição de representante da Cima, empresa que tinha interesse em vender respiradores artificiais da China para Santa Catarina. Ele deu sua versão sobre o pedido de comissão de R$ 3 milhões para a venda dos respiradores a Santa Catarina e a menção ao governador Carlos Moisés da Silva (PSL) em mensagens de Whatsapp obtidas pela força-tarefa, que resultou no envio do processo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A comissão de R$ 3 milhões
O depoente esclareceu aos deputados que os R$ 3 milhões aos quais o empresário Rafael Wekerlin se referiu em depoimento na semana passada foram pedidos pelo advogado César Braga, identificado como diretor jurídico da Veigamed. Braga está preso. “Fiquei sabendo que a comissão era para o Fábio [Guasti, representante da Veigamed]”, acrescentou.
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Rodovalho informou à CPI que entrou na questão dos respiradores justamente por meio de César Braga. “Ele [Braga] me procurou, se colocou como advogado do Rio de Janeiro, pediu uma apresentação dos meus equipamentos. Ele tinha contatos em vários pontos, entre eles Santa Catarina. Perguntou se tinha interesse em atender Santa Catarina, disse que sim. Tínhamos equipamentos disponíveis.”
O empresário disse que, sobre a venda para Santa Catarina, manteve contato apenas com César Braga, sem ter contato com pessoas do governo. Ele afirmou não conhecer o governador, os ex-secretários Helton Zeferino e Douglas Borba, nem a servidora Marcia Pauli.
Garantiu, ainda, que só entrou em contato com Rafael Wekerlin por meio de um amigo seu, Germano. A empresa de Wekerlin faria a importação dos respiradores que Rodovalho venderia a Santa Catarina, caso o negócio tivesse dado certo. Wekerlin saiu da transação assim que foi informado da comissão de R$ 3 milhões e a negociação parou ali.
Ainda assim, Rodovalho manteve contato com Germano para a busca de um possível fornecimento com uma empresa chinesa chamada Higher. No entanto, esse negócio também não prosperou.
O depoente disse que estava em negociação com outros dois compradores de outros estados. No entanto, no dia 27 de março, foi informado pelo proprietário da Cima que a China tinha embargado todos os equipamentos e proibido a venda para o Brasil. A confirmação desse embargo veio no dia 30 e os negócios com os outros compradores também foram cancelados.
“A partir do dia 30, eu comecei a me distanciar do processo. Não tinha mais os equipamentos da Cima e o Germano tinha os equipamentos da Higher, que também não se concretizaram”, declarou.
A testemunha garantiu à CPI que não participou da negociação com a Veigamed. Disse, ainda, que não recebeu comissão por venda de respiradores ao Estado. “Eu parei no momento que não tinha os equipamentos para entregar. Não recebi nenhum real desse processo.”
Citações ao governador
A respeito das supostas citações a Moisés, em conversas de Whatsapp, Rodovalho afirmou que em uma delas se equivocou e queria se referir ao governo, e não a pessoa do governador. “Fiz uma suposição errada. Nunca tive acesso ao governador”, garantiu.
As outras citações, conforme ele, foram feitas por outras pessoas e lhe repassadas, não sendo ele o responsável pela elaboração das mensagens que citavam Carlos Moisés. “Nunca me foi falado do nome dele [Moisés]. Não tenho contato com ele. O César [Braga] sempre me colocou que o Fábio [Guasti] fazia a intermediação junto ao governo.”
Alerta
Por saber que os respiradores tinham sido embargados pela China, os membros da CPI consideraram que Rodovalho poderia ter alertado o Estado de Santa Catarina desse problema, o que poderia evitado a compra dos 200 respiradores pelo governo.
“Eu comuniquei o César [Braga], eu não tinha acesso ao secretário para eu poder denunciar. Eu apenas fazia propostas. Confesso que poderia ter feito algo, mas não sabia como fazer, e para mim o César comentava que eles iam entregar [os respiradores]. Nunca imaginei estar metido num negócio fraudulento”, afirmou.
Imagem com o chefe da Casa Civil
O relator da CPI, deputado Ivan Naatz (PL), mostrou a Rodovalho a reprodução da imagem de uma videochamada entre a testemunha e outras três pessoas, entre elas o atual chefe da Casa Civil do Estado, que consta no inquérito do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).
O depoente afirmou que Amandio Junior é um amigo informal e que a conversa ocorreu há dois meses, antes do chefe da Casa Civil assumir o cargo. A conversa teria sido sobre montagem de kits para a Covid-19 com uma empresa de São Paulo.
Naatz considerou o fato como grave e apresentou requerimento para o ouvir Amandio Junior. O depoimento dele à CPI deve ocorrer na próxima terça-feira, 30.
O deputado Kennedy Nunes (PSD) chamou a atenção para que um dos outros participantes da videochamada é Sandro Pinheiro, que foi assessor da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável e atualmente seria assessor especial da Casa Civil.