Vamos entrar em uma das semanas mais quentes para o setor varejista digital e é preciso estar atento às táticas de divulgação e de estratégias de venda para não cair em nenhuma armadilha. Compre três e leve dois; ganhe 50% de desconto em um produto… Continuam as táticas centenárias de vender a ilusão da vantagem, mas agora nas roupagens digitais e interativas. E assim, o “pague gato e receba lebre” torna-se mais fácil de acontecer. Na Black Friday, quem quer sair ganhando vai ter que penar muito em pesquisas, comparações e olho aberto.
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Há, de fato, um contrassenso no meio digital quando o assunto é credibilidade e segurança nas compras. Por um lado, existe uma preocupação em incentivar as compras no meio digital e criar uma cultura da confiança. Isso é reforçado com táticas como a da chinesa AliExpress, por exemplo, que investiu em uma loja física temporária no Paraná para criar um reforço positivo da sua marca. Mais ou menos algo como: a loja é digital, mas os produtos são reais.
Na contramão, empresas criam estratégias que colocam em xeque tal credibilidade, quer seja de forma proposital, quer seja por falta de planejamento. Prova da primeira forma é a lista anual que o Procon de São Paulo mantém de sites e empresas online indicadas para a lista suja por diversas irregularidades. No ano passado, o ranking reunia cerca de 420 sites que devem ser evitados por quem quer uma compra segura.
Entre esse jogo de força entre quem quer um resultado positivo do mercado no meio online e quem quer se aproveitar do momento para aplicar golpes, quem fica refém é a parte mais frágil: o consumidor. É aqui que a atenção deve ser redobrada, sobretudo em momentos de visibilidade para ofertas. E durante a Black Friday, aumenta-se a fragilidade de quem tem uma demanda ou impulsividade para compras. A má-fé não se importa com sonhos ou com boas intenções do consumidor.
Um dos primeiros avisos é: aproveite todas as vantagens que os consumidores unidos já conquistaram para alertar outros consumidores. Nesse sentido, os sites de avaliação das empresas e de portais de vendas são inúmeros e servem de termômetro tanto para a idoneidade dos vendedores quanto para apontar as vantagens e desvantagens em ser cliente deles. Não significa que todos são golpistas, mas sempre existem ajustes. Se as empresas se preocupam em melhorar o atendimento e dar as caras para o cliente, nesses sites é possível encontrar também a prova da boa vontade delas.
Inflacionar o preço do produto para depois dizer que há um desconto é uma das práticas mais antigas na cartilha de uso do preço como estratégia de venda. Com isso, resgatar os valores de venda anteriores em sites que podem ser navegados em páginas antigas pode ser uma solução para saber se você está sendo enganado ou não. No final das contas, sempre tenha em mente que é praticamente impossível que algum vendedor abra mão do lucro para garantir a venda. Se a diferença é grande, a ilusão pode estar justamente na vantagem, que esconde estelionato e demais formas de golpe.
Variação entre números pequenos e grandes também é esconderijo de grandes decepções e ressentimentos nas compras de última hora em campanhas de promoções como a Black Friday, sobretudo quando o comprador é pressionado por um cronômetro indicando o fim da promoção, o que o força a escolher e a escorregar nas brechas das entrelinhas, sob a pressão do tempo. Os princípios de design e da gestalt como contraste e segregação são mecanismos para direcionar o olhar e deixar passar ao largo os dados que revelam os problemas.
Aspecto importante também é perceber ‘a cara’ de quem vende. Tem se tornado cada vez mais constante as mesmas empresas operarem com cores diferentes, modificando a ‘cara’ do site, por exemplo. O que parecem ser sites de grandes empresas do varejo nacional, na prática são vitrines administradas por outras empresas parceiras, que adotam as mesmas lógicas e ainda se tornam vitrines para outras empresas atuarem sob o mesmo selo. Assim, não é difícil perceber um mesmo produto com vários preços dentro do mesmo site, mas com valores e prazo de entrega diferentes e com formas e juros distintos para pagamento.
Não se trata de penalizar o comércio e a economia pelas práticas abusivas ou ainda pelas táticas pouco transparentes com os consumidores. O consumo é sempre positivo quando é feito com atenção e com calma: essa é a ferramenta mais efetiva contra qualquer golpe. Aliado a isso, recomenda-se evitar o impulso e usar os recursos de denúncias e de consultas de fraudes e golpes. E então, basta gastar cliques do mouse percorrendo as ofertas.
Autor: Alexsandro Ribeiro é professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Internacional Uninter.